Desaprender
Atualizado dia 12/1/2017 11:04:07 PM em Autoconhecimentopor Paulo Tavares de Souza
Vivendo no piloto automático, agindo e reagindo segundo os seus condicionamentos, o homem não consegue perceber que transformou-se em um robô.
Sendo maquinal, ele perde completamente o contato com a sua verdadeira natureza, cria uma identificação profunda com um falso eu e distancia-se cada vez mais da realidade.
Como um filho pródigo da parábola, ele abre mão da plenitude em que vivia para ter experiências mundanas e só com muito sofrimento resolve voltar à casa do Pai.
Para voltar à casa do Pai, ou seja, para reencontrar-se com o Self, o homem precisa desconstruir toda essa identificação, desta forma, remover todo um apego construído com falsas ideias que, por sua vez, transformaram-se em certeza que passaram a compor o seu caráter.
Enquanto estiver seguindo a orientação de crenças, doutrinas e modelos ou comportando-se como adepto de qualquer doutrina, viverá na condição escrava, pois a libertação só poderá acontecer através de um processo de desaprendizagem.
As reações humanas retratam o programa emocional desenvolvido por cada um através de seus próprios condicionamentos. Nos condicionamos a partir das experiências e é, justamente, através das experiências, que iremos nos descondicionar. Parece estranha, mas essa é a dinâmica que envolve a condição humana.
O sofrimento acontece a partir da resistência à mudança, pois enquanto não permitirmos que uma nova visão se instale teremos que suportar o impacto da Lei do Progresso que trabalha como um martelo nietzscheano em nossa existência.
Precisamos avançar, sair desse campo de batalhas, aceitar a vida com todas as suas imposições, com todos os desafios que nos são propostos, pois estamos diante de lições voltadas para o nosso despertar. Por mais que a realidade seja dura, todo o problema só existe dentro da gente, pois em função de uma profunda ignorância da realidade, problematizamos tudo.
O homem precisa entender que o único problema que ele terá que enfrentar, a vida toda, é ele mesmo. Não há culpados, não há algozes, tudo faz parte de um jogo cósmico voltado para um bem maior.
Aqueles que nos causam desconforto, na verdade, são os nossos maiores aliados, pois nos fazem lidar com nossas próprias vulnerabilidades. São eles que acionam os piores conteúdos da nossa sombra e são eles que ajudam a trazer à superfície sentimentos que insistimos em negar.
O inferno não são os outros como afirma Sartre, muito longe disso, o inferno é a mente, ao passo que a Consciência é o Paraíso que precisamos perseguir.
A consciência é o retrato de tudo aquilo que existe de mais poderoso. É o Purusha no Sankhia, é o Pai de Jesus, é o Senhor de Moisés, é Allah de Muhammad, é o Self de Jung, é o Estado de graça das Carmelitas, é o Fana, o Samadhi, o Satori, o Nirvana, enfim, a Consciência é o nosso estado natural.
Não precisamos aprender nada para alcançá-la, apenas ser, ser o que já somos, portanto, não se trata de aprender, mas desaprender.
O caminho da luz é o caminho do desaprendizado.
Texto Revisado
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