DESARMAMENTO INTERIOR
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Autor Christina Nunes
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 9/16/2005 10:33:16 PM
Haverá um referendo sobre desarmamento. A população se manifestará contra ou a favor da proibição da venda de armas, visando à derrubada dos índices alarmantes de violência no Brasil. Antes a questão fosse assim, tão banal...
Referir-se ao desarmamento puro e simples, como medida profilática nas estatísticas crescentes de violência e criminalidade, soa tão incoerente quanto se pretender sustar um alastramento de ervas daninhas sobre árvores frondosas e produtivas tão somente arrancando-lhes as folhas. Certamente a raíz da praga, rapidamente, e robustecida, talvez, pela poda, reagirá com fecundidade agigantada. Mais ervas daninhas surgirão, em curto intervalo de tempo. No caso da violência, a arma simboliza, tão só, o que a erva representa na produção dos danos causados às árvores benfeitoras. Há que se alijar a raíz do problema: arranca-se a planta maléfica pela raíz - libera-se a árvore para a vida saudável. Reforma-se interiormente - e, antes de mais nada, interiormente - o ser humano, e as armas "cairão de podres", por si. Nenhum referendo, nenhuma mobilização drástica que seja, seriam necessárias...
A violência real reside no íntimo do ser humano, vitimado pela moléstia mais fatal de todas, qual a cegueira interior para com o subido valor da vida. Cegueira originada de razões várias, todas elas mais letais que qualquer tiro disparado como produto brutal de um tipo de agressividade, inevitavelmente, desencadeado por outro. Pela amálgama de muitas determinantes, expressando-me de maneira mais exata. Cegueira derivada da falta de amor por si próprio, em decorrência das privações rudes em sociedades estruturadas de uma forma radicalmente injusta. Privações de saúde; de emprego; de educação e de cultura; do descaso superlativo dos que detém os meios para promoverem a reforma justa na sociedade, em favor dos menos favorecidos, e do estímulo da sua auto-confiança. Carência crítica, portanto, e sobretudo, de amor - daquele amor fraterno que deveria prevalecer, mais do que noutros lugares, nestes, onde os povos padecem as conseqüências ríspidas dos desacertos de governos e de governantes, na hora de cumprir com os deveres comezinhos de civilidade na construção de uma nação fundamentada em pilares pétreos de igualdade de oportunidades para todos.
E pensar que estes, que assim conduzem os povos a tal situação limítrofe, por ação ou omissão, ainda ousam proclamarem-se Cristãos, das mais variadas vertentes...
Operação de desarmamento, portanto, em verdade, é tarefa mais complexa do que deseja-se aparentar. É menos fundamentada em clichês políticos, que mais não representam que paliativos transitórios, e mais carecedora de estóica disposição em se romper com valores e conveniências de ordem econômica e social, passíveis de desagradar a muitos se erradicadas - disposição esta, porém, eficiente, no dirimir um mal que reside, antes, em mentes, almas e corações, e não no simples gesto de subtrair da mão do homem a mera ferramenta concretizadora de fatalidades, cuja origem se acha profundamente enraizada no sofrimento do ser humano algemado a um estado calamitoso de incompreensão para com os elevados propósitos da sua própria existência no mundo, e consequentemente, para com os direitos do seu próximo, e, finalmente, a existência mesma de Deus, e das suas Leis sábias e inexoráveis.
Desarmem primeiro, então, o coração humano da ganância e do orgulho, que tantas injustiças praticam; do ódio e das ilusões de superioridade perante o seu semelhante, na incomensurável trajetória comum a todos neste mundo, perdido como grão de areia na vastidão do universo. Sintonize-se realizações e objetivos terrenos com as Leis Maiores da vida, que asseguram, desde ao homem e aos mundos, até à gramínea mais incógnita dos campos europeus, o calor vivificante das irradiações solares - e as armas, fatalmente, desaparecerão para sempre das realidades terrenas - por falta de uso. Por, enfim, tornarem-se em ferramenta rústica, primitiva, e tão ultrapassada quanto é, para o supostamente civilizado homem moderno, o tacape dos antigos homens das cavernas.
Caio Fábio Quinto,
pela psicografia de Lucilla
https://www.elysium.com.br
Texto revisado por Cris
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Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |