Descobrindo a Sensibilidade
Atualizado dia 6/27/2019 6:05:19 PM em Autoconhecimentopor Alquimia Interior Brasil
Utilizar a mecânica com a qual manejamos objetos e situações para lidarmos com temas subjetivos parece natural. Mas, resulta no mais complicado a se fazer. O suposto mundo “interior” transforma-se em uma ficção secreta, em outra versão do mundo externo com a imposição de lógica linear e seus esperados efeitos. Abordamos o desconforto psicológico buscando as rotinas e os mecanismos familiares para “organizar as coisas”. Forçamos a entrada, remendamos os rasgos, desbloqueamos e forçamos o pensamento “positivo” sobre o complexo do nosso corpo-mente. Quebramos os códigos, substituímos os encanamentos e pretendemos fazer o mesmo com nossas emoções e nossas mentes. Cobrimos ou disfarçamos a dor e aplicamos soluções “corretas” e, isto tudo, acreditando que resolvemos os problemas. Mas, os problemas surgem sempre, mesmo os que já conhecemos.
Não se conserta a psique. Temos que abraçá-la. Nosso sistema emocional deveria crescer e desenvolver-se ao mesmo tempo em que crescemos fisicamente e nos desenvolvemos em outras áreas. Não existe um mapa ou uma fórmula para isto. A inteligência sensível do coração deverá acompanhar o desenvolvimento intelectual e físico. Mas, certamente, não é assim que acontece!
As memórias permanecem. Não podemos bloquear as memórias dolorosas ou incômodas, nem mesmo esquecer os amores que vivemos. Suas impressões em nós perduram. Gostemos ou não, projetam uma sombra sobre a experiência futura. Não importa o quanto construímos sobre o terreno sagrado dos nossos sentimentos com excessos ou substitutos, simplesmente não podemos apagar os traços subliminares. O que fazemos é continuar remodelando. Quando se quebra o fundamento, perguntamos o porquê.
A chave para resolver o desconforto, o sofrimento e a infelicidade não é psicológica. Está no manejo energético da Consciência. As palavras são como coisas – ocupam espaço e tempo – e nos dão a ilusão de consistência ao desenhar panoramas de possibilidades fantasiosas. As emoções são como o coração ou o útero, órgãos da Consciência que respondem à ressonância e à sutileza, sempre em movimento, cedendo e adaptando-se. Palavras e significados são ilusões inúteis dentro da cavidade infinita do espaço interior verdadeiro. Os sentimentos podem ser disfarçados, mas não podem ser “reparados”. Embora seja parte do processo, a solução não está em reorganizar nossos pensamentos e buscar as causas. A mente pensante somente sabe criar e destruir, conceber e recordar. Não sabe como manejar o fluxo e o refluxo das marés ondulantes que obedecem a uma lei maior.
Então, como trataremos das impressões da vida em nós que são invisíveis, incognoscíveis, infinitas e eternas? Algumas, que sequer são nossas, pertencem aos nossos antepassados, ao nosso grupo ou comunidade, às nossas condições atuais. Como curaremos as feridas do coração e do ventre?
Nossa vida adquire forma de acordo com o nível de integração ou coerência estabelecido entre nossos sentimentos e nossa mente. Da forma como nos sentimos, será a forma como a vida nos refletirá. As pessoas e as circunstâncias respondem da mesma forma. E, assim, permanecemos no efeito bumerangue da nossa própria programação, mudando as etiquetas sem ir mais fundo.
A chave encontra-se dentro de nós e é invisível e intangível. Por isto, é tão difícil. Nós nos vemos como entidades físicas, quando na verdade somos um campo de força, uma presença que vive dentro do tempo e do espaço variáveis. Não decodificamos o que realmente somos. Nossa identidade tem sido cuidadosamente construída por um processo de racionalidade exigente que desconsidera tudo o que não pode explicar. Mas, a vontade não pode apagar os traços de um coração ferido ou as melodias dos anseios. A vontade faz somente endurecer as artérias por onde circula a vida.
Em vez de “quem sou?”, a primeira pergunta que deveríamos fazer é “o que sou?”. Em lugar de acumular informações e trivialidades, o primeiro tema que os pais e educadores deveriam tratar é da sensibilidade do sentimento.
Depois de tantas décadas de ensinamentos, descubro uma vez ou outra que as pessoas não sabem “sentir”. Sentimos outras coisas, coisas externas. Sentimos a temperatura ou a raiva que surge. Em resumo, podemos sentir o corpo sentindo-se e ao ambiente, mas não sabemos como sentir sem um objetivo. Não sabemos como sentir nos sentindo.
Isto apresenta um obstáculo monumental. A sociedade nos obriga a permanecer em um mundo de coisas e de causas e a construir identidades. Não nos guia nem apoia no momento em que nos deparamos com sensações de incerteza e de intangibilidade que surgem no terreno desconhecido dentro de nós mesmos. Não nos oferece um conhecimento anterior e não nos ensina a desfrutar um estado de pura Consciência. De fato, em um mundo como o nosso, a Consciência parece ser uma coisa mística, cuja única função é injetar inteligência no mundo físico. A matéria continua a reinar suprema.
Como engano, a pessoa pode aprender a meditar, o que muitas vezes funciona como uma forma de anestesia ou sonho, aliviando o estresse da vida diária. Porque poucas pessoas sabem o que é, não se promove a conscientização verdadeira. O estado de ser onde nos fundimos com os ritmos e movimentos da vida não é tão difícil de ser alcançado quando estamos treinados para manter um sentido de tempo e de espaço, sob o simulacro de viver. De fato, o Ser é vasto, inteiro e profundamente gratificante. Desfaz e refaz paredes de edifícios que temos construído com esmero durante toda a nossa vida para definirmos e adquirirmos significado e importância. O Ser nos conduz ao descobrimento de que nossa Presença é tudo o que precisamos.
A sensibilidade do sentimento deve se desenvolver além do mero estado de crenças do condicionamento social baseado no reflexo dos outros. Em lugar de ser reconhecida e apreciada pela capacidade de discriminar e perceber, a mente impõe sua própria marca de controle sobre o sentimento. Não existe cosmético, cirurgia estética, mudança de gênero ou condição no mundo que nos faça crer que somos belos se não nos sentimos assim. Porque o verdadeiro sentir, como o Ser, se sabe.
Sentindo nosso Eu mais profundo, nos sabemos belos, bons e valiosos. Neste espaço interior, não existe competência nem objetivo, não há lugar para deduções lógicas ou complementos. Em lugar de vazios e dependentes de um adjetivo para nos descrever, somos a própria plenitude.
Tradução: Cláudia Avanzi
Por Zulma Reyo. Publicado originalmente em La Mujer Interior e repostado em https://alquimiainteriorbrasil.com.br/conheca-te-xv-descobrindo-a-sensibilidade/
Texto Revisado
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