Desilusão
Autor Regina Helena Klem
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 11/14/2005 2:35:53 PM
Ao longo dos 10 anos como profissional na área terapêutica corporal tenho percebido o estado de “ilusão” em que a maioria dos seres humanos vive (me incluo).
O corpo fala por si; ele tem uma consciência falante que para o terapeuta treinado é como ler um livro; tudo sobre você está escrito ali, basta ler. Muitas pessoas insistem ou não percebem este estado ilusório em que vivem e quanto mais cedo elas se desiludirem melhor. Os estados ilusórios são vários: medo, raiva, controle, compulsão, obsessão, tristeza, etc. Cada parte de nosso corpo estará falando sobre cada uma dessas emoções e expressando através da dor, desconforto, o quanto se tem de conhecimento sobre ela.
Por exemplo: quando levo ao conhecimento da pessoa que ela sentiu no trabalho um incomodo numa parte do corpo que está relacionada com a raiva, ela me devolve dizendo que não sente raiva de nada nem de ninguém; isso é “ilusão”. A tendência do ser humano é não permitir entrar nas questões emocionais e discenir sobre elas. É importante vivê-las e não tentar escapar delas.
Minha experiência dentro disso é que quanto mais rápido se envolver com a situação, identificá-la, se permitir entrar nela, mais rápido ela se transformará e teremos a oportunidade de vermos um caminho à frente. Quanto mais se tentar substituir esse estado sombrio por coisas como ir ao cinema, fazer compras, encontrar os amigos, mais nos afastaremos da cura deste estado. A cura de um estado sombrio se dá quando se mergulha nele para logo sair completamente novo, renovado e com total realidade. A cura de um estado ilusório será de acordo com a rapidez ou a morosidade com que você se permitir iludir.
Ficar triste porque se viu sentindo raiva, tristeza ou não amando pode ser desanimador, mas não ter a ilusão, o sonho de que isso não é raro, facilitará a entrada na realidade, na cura. Enquanto se mergulha na emoção, você ficará muito sombrio pois estará confrontando o que é a sua ilusão com a realidade. Quanto mais quieto, mais relaxado se permitir ficar, observando as sensações, mais rapidamente sairá. O sair trará como resultado amadurecimento, segurança e clareza. A clareza de se ver cada vez mais “desiludido”, cada vez mais “realista”, cada vez mais um “ser humano” proposto a se tornar melhor e o melhor é se iludir cada vez menos.
Todo trabalho terapêutico corporal tem a finalidade de abrir um caminho, de disponibilizar um veículo palpável (o seu corpo), onde você tem a chance de se conhecer, de decidir conscientemente em que direção ir. As ilusões do dia-a-dia são sedutoras, convincentes; é preciso estar disposto, com vontade de se desiludir, caso contrário você será mais um nesse mundo onde as ilusões são cada vez mais enaltecidas, massificadas.
Desiludir-se o tornará diferente e algumas vezes o fará se sentir solitário; esse será o fato mais forte que o colocará diante do caminho do discernimento, do bom senso, da consciência, da realidade. Mas tenha paciência com você e com os outros, pois todos caminhamos na mesma direção; alguns chegarão mais rápido, outros mais devagar, mas todos chegaremos.
Texto revisado por Cris
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