DEUS É ÓBVIO
Autor Christina Nunes
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 4/2/2006 2:42:14 PM
No filme Ben Hur há uma cena na qual Nicodemos pronuncia uma profunda verdade: "Mas a vida é o maior milagre".
Nada mais evidente; e, no entanto, as pessoas continuam procurando por indícios espetaculosos nas manifestações mesmas da vida, que lhes venham provar, de algum modo, aquilo que, de tão óbvio, caiu num insólito obscurecimento, ou no campo da descrença, indiciadora, antes de tudo, de um temporário e peculiar estado de "cegueira" da alma: como um filho que, de modo desconcertante e decorrente de alguma lesão incompreensível na sua capacidade cognitiva, se pusesse, sem mais nem menos, a desconhecer a fisionomia da própria mãe.
A Vida é óbvia; por conseguinte, nada é mais óbvio do que Deus, ou a Divindade, ou seja lá por qual nome entenda-se o vasto fenômeno da existência em si. Está diante de nós. Em cada quadro alcançado pela visão diariamente; nos lances cotidianos das trajetórias individuais; dentro e fora de nós: no pulsar do coração; no crescimento da criança até a fase adulta, e no dos cabelos, e nas mudanças diárias e quase imperceptíveis das nuances fisionômicas que nos conduzem até a velhice.
Em cada grão de terra; em cada pólem soprado pelas brisas da manhã; nos ruídos circunstantes, no silêncio, como na pausa cadenciada de um ritmo melódico. Tudo, fora e dentro de nós mesmos, é movimento perpétuo de consagração da Vida. A Vida é, pois, o maior dos fenômenos - no universo maior, visível aos nossos olhos nas noites estreladas, e no universo menor da transitoriedade hodierna do nosso percurso neste mundo; e ainda há quem se enfadonhe, e peça mais milagres, mais provas; e que, na impossibilidade de algo que não poderia, jamais, extrapolar o maior dos milagres, caia na descrença improdutiva daquilo que, por si só, se confirma - uma negação inócua, acima de tudo, de si mesmo, e da grandiosidade preciosa residente, em primeiro lugar, no imo de cada ser humano.
Talvez o erro esteja nas nomenclaturas: Deus, Divindade, Supremo, Criador. E em toda a algaravia de teorias e postulados seculares decorrentes das mesmas. Porque os nomes causam a ilusão de distanciamento entre quem nomeia e o objeto nomeado. Mas a vida, Deus ou divindade, não se trata de mero objeto ou coisa nomeados - antes, de processo ininterrupto e permanente, em movimento dentro e fora de nós; em eterna transmutação, da qual, antes de mais nada, participamos, por determos em nós mesmos, na nossa essência, a força motriz, primeva de tudo - na qual, imersos, gradativamente, alcançamos por fim esta consciência clara, de nos tratarmos não de meros expectadores da imensa sinfonia desta vida - mas de co-executores e co-criadores!
Entretanto, é óbvio demais! A humanidade, vitimada pela limitação rude de vistas em estágio lento, mas inexorável, de avanço, e imersa na grandiosidade deste conceito, ignora a evidência silenciosa e simples, ansiando pelos fogos de artifício imediatistas que lhe satisfaçam a puerilidade da infância da alma, desejosa das luzes efêmeras que alimentem o seu ego ainda precisado das emoções fortes e ilusórias atreladas àquele entendimento religioso mais acanhado e estreito, fabricado pelos rituais eficientes da simbologia e dos mistérios inebriadores dos sentidos, porém vazios de substância e do alimento verdadeiro da alma. Tomam a miríade sem fim de efeitos ofuscantes da Vida pela causa em si. Maravilham-se com brilhos tão atordoadores quanto transitórios, enquanto a maravilha maior, indizível, verídica, desfila constantemente, sem regateios, diante de seus olhos, sem que dela ao menos se apercebam.
Grandioso será o dia em que, afinal, a humanidade se dê conta plena de que o que há de mais divino reside, apenas e justamente, dentro da maior obviedade dos lances corriqueiros da nossa passagem vertiginosa sobre a Terra.
Com amor,
Lucilla e Caio Fábio Quinto
"Elysium"
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Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 14
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
