Diálogo de Serafim Sarov com Motovilov
Autor Marcos Spagnuolo Souza
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 19/09/2008 18:04:05
O padre Serafim Sarov da Igreja Ortodoxa conversa com Motovilov mostrando o verdadeiro caminho da Iluminação.
Motovilov: Como poderei reconhecer em mim a presença do Espírito Santo?
Padre Serafim: Nossa desgraça é que nós não procuramos a sabedoria divina que, não sendo deste mundo, não é visível através dos sentidos, no entanto, tudo é muito simples. Cheia de amor por Deus e pelo próximo, o Espírito Santo molda o homem para sua salvação. Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Aos apóstolos foi dada a sabedoria divina e tendo adquirido essa sabedoria, os apóstolos sabiam sempre se o Espírito de Deus estava ou não com eles e, cheios desse Espírito, afirmavam que suas obras eram santas e agradáveis a Deus. Por isso em suas epístolas podiam escrever: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”. Somente persuadidos como estavam de sua presença sensível, enviavam suas mensagens. Então,, vede como é simples.
Motovilov: Apesar de tudo, não compreendo como posso estar absolutamente certo de me encontrar no Espírito Santo. Como posso eu mesmo descrever em mim a sua manifestação?
Padre Serafim: Já vos disse que é muito simples e vos expliquei com detalhes como os homens se encontravam no Espírito Santo e como se deve compreender a sua manifestação em nós.
Motovilov: O padre Serafim me tomou pelos ombros e, apertando-os fortemente, disse: Estamos ambos, vós e eu, na plenitude do Espírito Santo. Por que não me olhais? Não posso olhar para o senhor. Brotam raios de vossos olhos. O vosso rosto tornou-se mais luminoso do que o Sol. Os meus olhos doem.
Padre Serafim: Não fique com medo, amigo de Deus. Você também está tão luminoso quanto eu. Você também está agora na plenitude do Espírito Santo, de outro modo não poderia me ver.
Motovilov: O padre Serafim inclinou a sua cabeça para mim, disse-me ao ouvido: Agradecei a Deus por vos ter concedido esta graça indizível.
Padre Serafim: Apenas rezei: “Senhor, tornai-me digno de ver claramente, com os olhos da carne, a descida do Espírito Santo como a teus servidores eleitos quando te dignaste aparecer-lhes na magnificência de tua glória!” E imediatamente Deus atendeu a humilde oração do miserável Serafim. Como não agradecer-lhe por esse dom extraordinário que a nós dois ele concede? Não é somente aos grandes eremitas que Deus manifesta assim a sua graça. Como mãe amorosa, essa graça se dignou consolar o seu coração desolado, a pedido da própria Mãe de Deus. Mas, por que não me olhais nos olhos? Olhe nos meus olhos sem temor, Deus está conosco.
Motovilov: Levantei os olhos para o rosto do padre Serafim e um medo maior tomou posse de mim. Uma esplendorosa luz se propagando ao redor, a uma distância de muitos metros, iluminando a neve que recobria a campina e caía sobre o padre Serafim e sobre mim.
Padre Serafim: Que sentis agora?
Motovilov: Minha alma está cheia de um silêncio e de uma paz inexplicável.
Padre Serafim: Aí está amigo de Deus, esta paz da qual o Senhor falava quando ele dizia a seus discípulos: "Deixo-vos a minha paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas porque não sois do mundo e minha escolha vos separou do mundo, o mundo por isso vos odeia. Eu vos disse tais coisas para terdes paz em mim. Tende coragem, eu venci o mundo". É a esses homens eleitos por Deus, mas odiados pelo mundo, que Deus dá a paz que sentis agora, a paz de Deus. Paz que excede toda a compreensão. Nenhuma palavra pode exprimir o bem estar espiritual que ela faz nascer nos corações dos homens em que o Senhor a implanta. Ele mesmo a chama sua paz. Fruto da generosidade de Cristo e não deste mundo, nenhuma felicidade terrena pode ser comparada a essa paz enviada do alto pelo próprio Deus, ela é a paz de Deus. Que sentis agora?
Motovilov: Uma delícia extraordinária.
Padre Serafim: É a delícia de que fala a Escritura: “Os apóstolos ficam saciados com o alimento de Tua casa, Tu os embriagas com um rio de delícias”. Essa alegria transborda do nosso coração, derrama-se em nossas veias, traz-nos uma sensação de delícia inexprimível. Que sentis ainda?
Motovilov: Uma extraordinária alegria em todo o meu coração.
Padre Serafim: Quando o Espírito Santo desce sobre o homem com a plenitude de seus dons, a alma humana fica cheia de uma alegria indescritível. É dessa alegria que o Senhor fala no Evangelho quando diz: “Também vós, agora, estais tristes; mas eu vos verei de novo e vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a vossa alegria”. Por grande e consoladora que ela seja, a alegria que sentis neste momento nada é, em comparação com aquela da qual o Senhor disse através de seu apóstolo: “O que os olhos não viram, o que os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que o amam”. O que nos é concedido presentemente é apenas uma antecipação dessa alegria suprema. E, se desde agora, nós sentimos deleite, júbilo e bem estar, que dizer desta outra alegria que nos está reservada no céu, depois de ter, aqui na terra, chorado? Já haveis chorado bastante em vossa vida e vede que consolação na alegria o Senhor vos dá aqui na terra. Cabe a nós, agora, amigo de Deus, trabalhar com todas as nossas forças para subirmos de glória em glória até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado do homem perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo. Os que põem sua esperança em Deus renovam as suas forças, formam asas como as águias, correm e não se fatigam, caminham e não se cansam. É então que a nossa alegria atual, pequena e breve, se manifestará em toda a sua plenitude e ninguém nos poderá arrebatá-la, repletos como estaremos de indizíveis gozos celestes. O que você sente ainda, amigo de Deus?
Motovilov: Um calor extraordinário.
Padre Serafim: Como, um calor? Não estamos na floresta, em plena neve? A neve está sob os nossos pés, estamos cobertos dela e ela continua caindo. De que calor se trata?
Motovilov: Um calor semelhante ao de um banho de vapor.
Padre Serafim: Qual o tipo de cheiro que está sentindo?
Motovilov: Nada sobre a terra se pode comparar a esse perfume. O padre Serafim sorriu.
Padre Serafim: Nenhum perfume terreno pode ser comparado ao bom odor que respiramos neste momento, o odor do Espírito Santo. O que pode, sobre a terra, ser-lhe comparado? Disse, ainda há pouco, que fazia calor, como no banho. Mas a neve que nos cobre não se derrete, assim como a que está aos nossos pés. O calor não está no ar, mas no nosso interior. É este calor que o Espírito Santo nos faz pedir na oração: “Que teu Espírito Santo nos aqueça”. Este calor permite aos eremitas, homens e mulheres, não temerem o frio do inverno, pois, estão envolvidos com o manto de pele tecido pelo Espírito Santo. “O Reino de Deus está dentro de vós”. Por Reino de Deus devemos entender a graça do Espírito Santo. Este Reino de Deus está em nós, agora.
Referência: SÃO SERAFIM DE SAROV: Comemorado em 02 de Janeiro Disponível em link Acesso em 10 de Fevereiro 2008
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