DIRETO A DEUS, E NÃO AOS SANTOS!
Autor Christina Nunes
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 10/05/2008 23:24:42
Faz algum tempo contei que recebi de um leitor um comentário tecido justo a respeito desta questão, bem a propósito, aliás, de artigos outros que já publiquei explanando sobre temas semelhantes, ainda e sempre norteada por convicções adquiridas via vivências sobretudo de ordem espiritual.
Li nas últimas horas determinado texto que trouxe à tona algo de enfado misturado a franca compaixão pelo perfil tacanho com que o ser humano ainda insiste em encarar a total extensão das suas potencialidades no contexto da Vida maior!
Um grande Mestre já nos ensinara reiteradamente que o homem, em todo o repertório da Criação, é o único que não se acha satisfeito, nem com o que é, quanto menos com o que os demais escolhem ser - e a partir disso engalfinham-se numa cruzada incansável de críticas às escolhas e entendimentos do seu próximo acerca do que seja Deus e as Verdades maiores da Vida - esquecendo-se de que se a sua própria versão das coisas neste sentido os satisfizesse plenamente, o primeiro efeito seria o de se verem repletos de beatitude, de paz e de inteireza dalma, livres da necessidade mórbida quanto constantemente exasperante, para eles mesmos, de convencerem os demais da sua suposta verdade verdadeira, arrastados por inconcebível arrogância de julgamento ao considerarem que todo o restante da humanidade se acha perdida e destinada a arder no mármore do inferno... somente por não compactuar com as suas míopes quanto insignificantes versões das coisas que, ao que tudo indica, nem a eles ainda atendeu às necessidades mais recessas de suas almas, quanto menos ainda qualificando-os para nortear, a partir desta flagrante incompletude, a quem quer que seja!
É a partir disso que surgem, daí, o que já Jesus definiu outrora de cegos guiando outros cegos, de sepulcros caiados, belos por fora e cheios de podridão por dentro, que nem entram no Reino de Deus, e nem permitem que os demais entrem! Trata-se de indivíduos profundamente vitimados pelo delírio arrogante da sua própria cegueira, para perceber a tempo que a Verdade verdadeira das coisas há de vir a cada um, no tempo certo; mas justo do canal direto entre a divindade e a Sua própria criatura, feita à Sua imagem e semelhança. Nunca, jamais e em tempo algum desses que se arvoram nos Seus pretensos intermediadores, mobilizando, também pretensamente e a partir disso, mensagens dos céus aos pobres mortais - encastelados no embuste ilusório que eles mesmos atribuem aos outros ao se outorgar o monopólio dos mistérios acessados por ninguém mais que não eles mesmos!
E é de se perguntar quando, e em que época, Deus em pessoa apontou-lhes o dedo clamando, inequivocadamente, e para que todos ouvissem, que são estes ou aqueles os seus escolhidos imaculados para servirem como canais genuínos entre Si e o restante da humanidade?
Quem disse?! Onde está escrito?! Em qual diário oficial das paragens celestiais?! De fato, que se aponte em qualquer tempo e época indivíduos atuantes como mediadores de Deus para com os homens que não tenham sido assim conduzidos a esta posição, antes de tudo e de qualquer outra coisa, por iniciativa própria, e sendo a partir daí, quando muito, patrocinados por ícones do poder religioso institucionalizado desta ou daquela forma - mas cuja autoridade não vai além da forma da letra, como em qualquer outro caso questionável e circunscrito aos poderes representativos das diversas esferas de atuação existentes dentro de uma sociedade?!
E onde, aí, é de ser perguntar, o consagrado divino?! A iluminação por si?! A autoridade para se atribuir, a este ou aquele, perdição ou santidade maior ou menor?!
Lembro-me de que, durante o curso de noivos, a um questionamento contundente de meu marido sobre um dos regimentos do catolicismo a seu ver um tanto obsoleto, o palestrante e ministro daquela fé, denunciando na postura e na fisionomia arrogância sem precedentes, devolveu, com ar triunfante:
- Meu filho, quantos anos você tem?
Ao que meu marido respondeu, na época ainda na casa dos trinta, e ouvindo em seguida o arremate intransigente e pretensamente definitivo, com o que quis o representante religioso encerrar taxativamente o assunto:
- A Igreja Católica tem dois mil!...
Quase que, ali, criei um impasse, argumentando que tudo aquilo era uma grossa besteira; que a Igreja Católica tem dois mil anos de desmandos, de enganos tenebrosos através de Inquisições e de Cruzadas sangrentas e promovidas aludidamente em "nome de Deus"! Deste mesmo Deus e Jesus cujos representantes ainda nos dias de hoje continuam "queimando livros e bruxas" em praça pública simplesmente por se atreverem a lidar com a vida de dentro de uma conscientização mais ampla, que admite os seus mistérios maiores e maiores glórias reservados a todos, mais cedo ou mais tarde - e não apenas a um clã exclusivista e interessado em se manter em situação de poder por intermédio da manipulação implacável de vontades e de consciências! Mas preferi me manter calada, reconhecendo o tanto que aquele "fruto" ainda se achava imaturo!...
E são estes mesmos falsos ícones do divino perante os homens que eventualmente nos surgem, ousando contestar as manifestações conscienciais de ordem maior que gradativamente eclodem em todos os quadrantes do mundo, atestando com fatos, e não com teorias caducas e com palavras mortas, que a Vida é muito mais do que se percebe com os sentidos ordinários, com os recursos da nossa ciência ainda incipiente, e com o nosso entendimento profundamente limitado das realidades mais vastas que povoam o Universo desconhecido das ainda sombrias paragens materiais terrestres!
Não residem dúvidas, caríssimos, de que, na hora das revelações maiores para cada um de nós, advirão estas pelas nossas potencialidades de ordem espiritual superior adormecidas, desenvolvidas paulatinamente sob a forja ríspida da evolução, e lapidando-nos à semelhança dos moldes supremos idealizados pelo Criador para cada coisa e cada ser da Sua obra portentosa e infinda! De modos que, em tempos de tantas dúvidas; de tanta hipocrisia, interesses subreptícios e dissimulação sob as máscaras caleidoscópicas da fé; de tanto desamor e efervescência espiritual sobre a face da Terra como nunca houve anteriormente, já é ultrapassado o tempo de, por nós mesmos, descerrarmos as portas das maravilhas ocultas da eternidade - em promovendo, pelos caminhos do amor, a nossa sintonia definitiva com as faixas mais depuradas da Espiritualidade Superior; sobretudo, criando o hábito salutar de parar de ir aos santos, naqueles momentos cheios de receios e de dilemas íntimos!
Que se vá diretamente a Deus e não aos supostos santos que, se algo da verdade resguardam, é apenas a versão única e transitória do seu próprio ponto de vista! Que, com a convicção do amparo espiritual amigo à nossa volta, nas múltiplas dimensões de vida que nos são circundantes, se aprenda urgentemente a consultar também com acerto a nossa Voz Interior - a chamada "visão de dentro"! Aquele "Mestre" que nunca nos falta em instantes de preces e de reflexão sincera e profunda - porque este sim, feito à imagem e semelhança de Deus, é o guia próprio com que o Criador nos dotou como farol infalível, desde o princípio de tudo nas neblinas insondáveis dos tempos!
Avaliação: 5 | Votos: 12
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
