E JESUS COMIA CARNE... BUDA, NÃO.
Atualizado dia 18/04/2006 22:01:15 em Autoconhecimentopor M. Nilsa Alarcon e J. C. Alarcon
Tudo o que sabemos sobre nutrição deve servir para nos ajudar e aos outros, sem esquecer: povo carnívoro gera santo carnívoro; mas há povo que respeita minhoca e vaca religiosamente, a gerar santos vegetarianos. Uma questão de consciência ou de crença? Fiquemos com a consciência.
Uma pessoa pode trabalhar na construção da consciência sobre os benefícios da alimentação viva (crua), de modo que as demais se sintam compreendidas em sua idiossincrasia. Na convivência mais próxima demonstremos que não estamos exclusos do mundo. Compartilhar a experiência da vida não significa adotar e endossar o que já sabemos que faz mal - cada um segundo a sua genética - pois nem todos os organismos reagem da mesma forma a uma dieta. Saibamos nos valer da moderação em tudo. Esse procedimento nunca afastará as pessoas, nem produziremos desafetos. Muitas vezes, regrar a alimentação significa excluir-se de muitos eventos: "Ah, eu não vou nessa festa... Lá não tem nada que eu possa comer!" A pessoa sofre restrição forçada por causa de diabetes e outras disfunções. Mas, há quem alega razões de consciência ou outros motivos.
Aprendi com um mestre: Por consciência, quando entrar em trabalho de cura, adote a alimentação vegetariana, mas não faça discurso sobre o assunto. Não a vincule com Deus ou o diabo, porque isso afasta as pessoas. A consciência sobre nutrição biológica precisa ser compatível com a consciência sobre nutrição emocional, mental e espiritual, porque tudo é nutrição energética, em diferentes níveis. Aquele que se abstém igualmente da carne sensorial, associada à preguiça de se movimentar, entende que o prazer resultante das endorfinas está na dor da musculatura trabalhada, portanto, não trabalhe apenas os músculos mentais; trabalhe também os da carne. A dor do exercício muscular é um fogo que queima as toxinas. Enquanto dói, não existe prazer. Depois, o prazer natural vem na forma de conforto e entusiasmo. Não queira somente o jejum e a abstinência de carne, sal, açúcar, farinha branca e gordura animal; queira a moderação e nenhuma alienação; nenhuma imagem que induza as pessoas a se sentirem nas garras do diabo. Em vez disso, frugalidade e temperança, corretas desintoxicações... E enfatizo: cumprir a lei do movimento porque auxilia na queima dos venenos.
Venenos? Existem até nos vegetais. A soja, por exemplo: não está em seus planos evolutivos ser devorada. O espírito inteligente da "entealidade" da soja se defende assim: produz o "fitato". Também é assim com o trigo. Ele fabrica o glúten que, com o tempo de consumo, impermeabiliza as paredes do intestino de modo que a pessoa não consiga mais absorver nutrientes vitais. O mundo vegetal dá o seu troco. Defesa é uma resposta natural de todo ser vivo.
Um produto para ser natural precisa ser orgânico e sem agrotóxicos, conservantes, corantes, acidulantes e emulsificantes perigosos. Alimento orgânico não é abundante e acessível em todos os lugares. Mesmo o produto orgânico tem as suas enzimas de defesa, tóxicas para o ser humano.
Na área de nutrição, a realidade da situação física, afetiva, espiritual e financeira de uma pessoa pode negar e levar ao fracasso o discurso do intelecto mais afiado. Por essa razão, se alguém falar do Senhor, de satã e de pecado, olhemos para a saúde total de quem fala, olhemos para a gula e o pouco trabalho que a pessoa dá para os músculos físicos e neuronais. Se isto ocorrer, não falemos e nem escutemos, porque o tempo é precioso para falar e ouvir bobagens. Bobagem é o que pode nascer de uma teoria, cuja prática só observa o detalhe que está no foco, a ignorar toda a imensa teia de detalhes que fazem parte da totalidade.
Que mestre me transmitiu essa mensagem? A mestra experiência própria na faculdade da vida. Essa mestra, tive que engolir quieta. Jovem e voluntariosa, apreciava falar sem papas na língua. Então, não comia uma lista considerável de produtos e desafiava as pessoas com argumentos incendiários. Elas ficavam, com justa razão, enfezadas comigo e eu ainda rebatia: "Você se enfezou porque as fezes paradas do seu intestino subiram para a cabeça, ou seja, você tem fezes na cabeça e não enxerga que se mata e atrai os males. Ainda tem coragem de reclamar e pedir ajuda... Vê se não aluga o meu tempo, que eu tenho mais o que fazer... Você só fala, mas não age.”
No entanto, fui anêmica e padeci de enxaqueca. Como isto podia acontecer se eu fazia tudo "certinho"? Era nesse ponto que a mestra me pegava, retificava e eu não tinha saída. A dor era um contra-senso diante do meu discurso e algo dentro de mim foi se transmutando. Quando transmutei o excesso de "rigidez e de dona-da-verdade", me apazigüei. Curei-me também dos males que me atormentavam e negavam a minha ventosa sabedoria. Parei de desafiar meus instrutores de vida. Eu não tinha mais que incomodar as pessoas com os meus conceitos e crenças. Elas podiam me achar arrogante, antipática, alienada e se tornavam desafetos ou indiferentes. Eu não entendia a razão de querer o bem delas e receber o contrário. Tenho essa mestra em tempo contínuo; nunca me abandona. Ela não deu moleza ao meu ego em muitos sentidos. Atraí os desafetos para o círculo estreito da arena psicológica dos egos que me perseguiram duramente e me isolei do mundo, por sete anos numa mata, em meditação.
Nunca desisti de compreender o ego que mora dentro da gente, a mostrar visões de ilusão e alienação mental, como se fossem verdades supremas. Fez-me ver uma ilusão que já tem cena definida para o último capítulo da matéria: defunto, velório, caixão e cemitério, independente da higiene física e mental, independente de qualquer dieta.
Eu me importo, sim, com a qualidade de vida física e espiritual de todas as pessoas que me procuram, em busca de soluções e autoconhecimento. Faço isto na medida em que não se transforme em obsessão, pois o ego pode transformar quase tudo em obsessão, fanatismo e religião, inclusive a alimentação.
A conjuntura da nutrição não está somente na carne, mas também no tipo de pensamento e de sentimento que se nutre. A carne é um detalhe, como tantos outros e um detalhe afeta todo o resto. Inclusive, quando arrastamos para a carne a crença de “pecaminosa” e “diabo”. Pois, “diabo” é a falta de consciência, mas também a dependência da cadaverina e o uso abusivo de “g.a.s.” (gordura, açúcar e sal).
Despertar a consciência para um ponto – a carne – não significa que despertamos a consciência para diversos outros pontos. A vida é um conjunto de detalhes. Evidenciar um e ignorar tantos outros, não nos faz nem mais santos e nem mais sábios e, tantas vezes, nem mais saudáveis. Jesus comia carne e Buda não. Ambos faziam jejuns. Será que o santo que comia carne era menor do que o santo vegetariano? O que importa é aprender a ouvir o próprio corpo. Que cada um ouça o seu, sem arrastar Deus ou o diabo para qualquer justificativa.
Texto revisado por Cris
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