Ego: Artimanhas, escravidão e ignorância




Autor José Diney Matos
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 31/08/2004 14:06:55
Nossa cultura e educação estão pautadas na diferenciação entre as pessoas. É o que costumamos chamar de desigualdade. Desde a infância somos ensinados a ver o outro como um oponente a ser vencido ou superado. A formação do nosso caráter privilegia a idéia de que somos pessoas especiais, e que merecemos tratamento diferenciado. Esta crença está na base de todos os nossos pensamentos, norteando nossas idéias e direcionando nossas ações.
O ego é construído a partir de alguns requisitos essenciais: herança anterior ao nascimento, infância, educação, convivência familiar, experiências pessoais, escolha da carreira profissional, ideologia, casamento e convivência social. Tudo isso interfere no modo como ele é forjado, o que nos transforma em seres dotados de grande complexidade e explica nossa tendência a vê-lo como algo negativo.
Podemos entender isso por meio de uma brincadeira interessante.
- O gordo e o magro estavam em um navio, quando este naufragou. Eles conseguiram nadar até uma pequena ilha, onde não havia absolutamente nada. Ao perceber que provavelmente estavam condenados a viver naquela ilha deserta por muitos anos, o gordo se autoproclamou Rei do pedaço. O magro, indignado e perplexo diante da atitude do amigo perguntou: E eu? Aí o gordo respondeu: - Ora, você é o povo.
O episódio vivido por esses dois fantásticos comediantes reflete a forma como costumamos exercer nosso egocentrismo. E isso ocorre em todos os momentos de nossas vidas, pois, na prática, somos verdadeiros escravos do ego. É claro que no contexto social somos obrigados a assumir diferentes papéis, o que acaba por nos diferenciar das outras pessoas. Nossas “personas” respondem pela maior parte dos conflitos entre pessoas e Nações, pois são elas que alimentam e realimentam o ciclo da competição que caracteriza nossas relações econômicas, culturais, sociais e afetivas.
Então o ego é a parte negativa de nossa personalidade? Não é bem assim.
O ego funciona como uma espécie de filtro que processa as informações da realidade que nos cerca, estabelecendo nossa ligação com o mundo exterior. Ao mesmo tempo tem papel essencial no desenvolvimento de nossas capacidades e potencialidades. Ao filtrar as informações resultantes do nosso modo de ver e perceber a realidade, o ego tem o poder de influenciar a forma como nossa mente “lê” a realidade. Assim, a maneira como reagimos aos acontecimentos depende do modo como as informações são filtradas pelo ego e processadas na mente. Se temos uma percepção ingênua da realidade, a filtragem do ego e o registro da mente acabam por deturpar os fatos. É por isso que costumamos acreditar que o que importa não são os acontecimentos em si, mas a interpretação que damos a eles.
A mente deveria trabalhar livre, sem a influência das artimanhas do ego. E por que o ego trabalha através de artimanhas? É porque ele não quer que nossos pensamentos sejam lúcidos, pois sua lógica está baseada na fantasia e na ilusão. Desse modo, a mente passa a ser um mero apêndice de seus desejos, criando e recriando o mecanismo da escravidão da ilusão egótica. Trata-se de artimanhas porque o ego faz tudo isso de modo absolutamente sutil e engenhoso, e não percebemos que somos vítimas.
O resultado é o embotamento de nossa capacidade de reflexão, limitação do nosso potencial criativo e o desequilíbrio energético do corpo e da mente. Trata-se de um verdadeiro círculo vicioso. Passamos a ver a vida a partir de uma ótica individualista, onde a presença do outro é sinônimo de ameaça. Essa lógica perversa embasa toda uma ideologia voltada para o egoísmo dos interesses pessoais, inviabilizando qualquer tentativa de equanimidade nas relações humanas. Essa é a verdadeira razão do caos social, econômico e existencial a que estamos submetidos, pois a exacerbação do ego impede o exercício de estados superiores de consciência.
Há cinco mil anos, o homem vem tentando encontrar as respostas para algumas perguntas essenciais sobre a sua verdadeira condição. Quem sou? De onde venho? Para onde vou? Qual o meu papel aqui? Mas infelizmente as respostas ainda não são satisfatórias. Enquanto continuarmos a ver a vida pela ótica do pensamento egocêntrico, não nos será data a chance de conhecer a verdadeira essência da vida.
O ego não é nosso inimigo, mas é nosso algoz. E isso ocorre porque continuamos aprisionados ao medo da libertação do jugo da ignorância a que Platão se referia no Mito da Caverna. Sair da escuridão da ignorância existencial é transformar o ego em aliado, fazendo-o trabalhar a nosso favor e não contra nós.
José Diney Matos é jornalista, economista e consultor de empresas. Fundador e presidente do IBEHI – Instituto Brasileiro de Estudos Humanísticos Integrados, acaba de lançar o livro Artimanhas do Ego.
https://geocities.yahoo.com.br/ibehi_sp/









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