Eis a questão: Real ou disfarce?
Atualizado dia 8/5/2006 8:17:57 AM em Autoconhecimentopor Monica Burich
Clark é o disfarce? Ou o Super? Ou ambos fazem parte de uma mesma personalidade?
Nos filmes do Superman, na minha opinião, fica bem claro que o Clark (Clark Joseph Kent - alguns quadrinhos colocam Jeromi ao invés de Joseph) é a identidade secreta, um disfarce do "Super" (Kal-El), que era a sua personalidade verdadeira. Sua roupa também não foge ao padrão da tonalidade da roupa de super-herói: terno azul e gravata vermelha.
No filme "Kill Bill 2", Bill (David Carradine) faz a seguinte observação: "o Super-Homem não se transformou em Super-Homem, ele já nasceu assim. Seu alter ego é Clark Kent. O que Clark veste, os óculos e as roupas de trabalho, aquele é o seu uniforme, é o que o Super-Homem usa para misturar-se conosco. Clark Kent é como Superman nos vê."
O diálogo redigido pelo diretor Quentin Tarantino foi inspirado de uma tese escrita por Jules Feiffer em seu livro "The Great Comic Book Heroes", 1965. Super-Homem mantinha uma identidade pública como Clark Kent, um "tímido e recatado" repórter de jornal, o estereótipo de um homem fraco, quase um covarde escondido atrás de óculos, apaixonado, mas incapaz de tomar uma atitude ativa em relação a Lois Lane, a mulher dos seus sonhos.
Feiffer escreveu a primeira história crítica dos quadrinhos de super-heróis no final dos anos 30 e começo dos 40. Segue a excelente observação de Feiffer, um dos maiores cartunistas americanos, assistente de Will Eisner: "não era Clark Kent quem usava o uniforme de Super-Homem, e sim o super-herói quem se fantasiava sob os trajes de um jornalista tímido e medroso. Quanto à suposta visão crítica que o Superman teria sobre a raça humana, duvido sinceramente que esse baluarte da América fosse capaz de ter um olhar tão cínico a nosso respeito, por mais verdadeiro que possa ser. Ele se mostra fraco, inseguro, aparentando ser quase um covarde. Clark Kent é a visão que o Super-Homem possui da raça humana". Feiffer vê o Super-Homem como "a fantasia máxima da assimilação", sugerindo que o êxito de Siegel foi "transformar em crônica o ‘sonho americano’".
Na série Smallville acontece o contrário: Clark é a verdadeira personalidade. Pode-se também encarar Clark, o adolescente, como sendo o disfarce, já que Kal–El é a essência kriptoniana do Clark fazendeiro. Nos episódios com Alicia (uma namorada que aparece nas terceira e quarta temporadas), Clark diz para sua mãe que é apenas com ela que ele pode ser natural, podendo mostrar quem realmente é, porque ela sabe de seus superpoderes. Na verdade, Clark Kent é uma criação do Jovem Kal-El, uma camuflagem que tem o objetivo de não revelar para as pessoas suas características individuais. É uma necessidade de proteção e privacidade. Ele sente que o Clark adolescente é uma máscara, é o disfarce que busca ocultar e proteger porque ele finge ser desajeitado, tímido, atrapalhado... Justamente para que ninguém faça conexões dele com o “Super”, que é naturalmente imponente e um ser a caminho de se tornar perfeito.
Ou podemos encarar que nem Super-Homem nem tão pouco Clark, são o disfarce. Ambos são os extremos de uma dupla personalidade. Como disse Ghandi: "Sou coerente com a verdade e, como a verdade muda, reservo-me o direito de ser incoerente".
Todas as pessoas têm esses dois lados dentro de si: um real, outro ilusório. O lado “Clark” é o da pessoa comum, enquanto o lado “Super” é a projeção do que todo homem deseja ser: alguém capaz de voar, interceptar balas, romper as barreiras da realidade e das incapacidades que envolvem a todos.
Na série Smallville temos, como exemplo, o episódio em que Clark Kent recebe uma ligação do futuro simbolizando esse poder do Super-Homem, pois consegue realizar o que todas as pessoas já desejaram: a possibilidade de fazer voltar uma oportunidade perdida (a de salvar a Lana Lang da morte, pelo tiro de Adam Knight no episódio "Crisis").
Não é a toda hora que Clark Kent pode manifestar seus sentimentos, o que acaba por tornar a máscara útil para a convivência. Mas nem sempre Clark gosta de se manter no anonimato. Muitas vezes já ficou tentado a se revelar e poder assumir publicamente quem realmente é. Isso já foi mostrado tanto nos filmes de Christopher Reeve, no atual Superman Returns e no seriado Smallville.
Assim como em um baile de carnaval, sempre há o momento em que as máscaras caem. Cedo ou tarde nossas verdades serão reveladas e nossos verdadeiros rostos serão mostrados. Nesses momentos em que a identidade Clark Kent é descoberta, ele sempre leva a pior. Mas não é só o super-herói que apanha... Clark também apanha, e muito, mas do destino, com suas incertezas quanto a assumir ou não seu verdadeiro “Eu”. Resta saber de quem será a iniciativa, se Clark irá se revelar espontaneamente ou se ele será descoberto por seus arqui-inimigos...
Os super-heróis, ícones do inconsciente coletivo da sociedade, sempre andam disfarçados. O propósito deles talvez seja o mais nobre, pois têm a missão de salvar os inocentes. Não poderiam, portanto, arriscar sua identidade e comprometer uma causa maior. O super-herói, como o Super-Homem, é um marco e para muita gente seu début marca o começo da Era de Ouro na história dos quadrinhos; um arquétipo perfeito, o modelo para uma série de personagens e um dos mais perfeitos mitos das eras modernas.
Rejeitado pelos grandes jornais, o Super-Homem encontrou seu lugar nas páginas de uma novidade da época: as revistas em quadrinhos.
"Do mesmo modo que os atores põem uma máscara para que a vergonha não se reflita nos seus rostos, assim entro eu no teatro do mundo - mascarado". René Descartes
Retratando literalmente a necessidade de se ocultar, não poderia deixar de citar o filme “O Máskara”. Dos quadrinhos para o cinema, o personagem Stanley Ipkiss acha no mar a máscara de Loki, um deus escandinavo. Com essa máscara Stanley possui a coragem para fazer coisas mais arriscadas e divertidas. De tímido e desajeitado, passa a fazer tudo o que antes não tinha coragem, além de ganhar poderes sobre-humanos.
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 9
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