ENCONTROS E DESENCONTROS AMOROSOS
Autor Cristina Ragazzi
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 5/30/2005 10:00:22 PM
O ser humano, não importa a raça, sexo ou idade, carrega uma profunda necessidade de amor. Todos nós temos, sem exceção, essa ânsia de amar e de sermos amados. Nossa felicidade está condicionada à presença do amor em nossa vida e sua ausência ou seu oposto – a rejeição – traz dor e sofrimento.
Experimentamos, ao longo de nossa vida, sentimentos de felicidade e de paz nos momentos de proximidade com pessoas amadas, assim como sentimentos de raiva, dor, medo, angústia e depressão quando somos rejeitados, separados ou abandonados pela pessoa amada.
Então, porque incoerentemente, tantas pessoas apegam-se a relacionamentos que não as fazem felizes? Vamos refletir um pouco sobre como esse processo ocorre, desde a formação da personalidade quando criança.
O sentimento de apego, de aconchego, faz-se presente desde os primórdios de nossa vida – é vital para o bebê, desde os primeiros dias de vida, ter os cuidados carregados de afeto, seja da mãe ou de alguém que a substitua, para que seja emocionalmente saudável.
É através das primeiras relações afetivas das nossas vidas que vai ocorrer o nosso aprendizado amoroso. Os primeiros vínculos afetivos que estabelecemos vão nos ensinar quem nós somos, quem são os outros, o que é o mundo externo. A qualidade destes vínculos vai construir em nós, de forma mais completa ou incompleta, real ou distorcida, as imagens e crenças que levaremos pela vida afora.
Desde que nascemos até a idade adulta, é praticamente certo que todos passamos, em maior ou menor grau, por situações angustiantes, rejeições, separações, relações conflitivas, traumas e perdas afetivas. Quando o sofrimento causado por essas experiências ultrapassa os limites que o frágil psiquismo infantil pode suportar, são automaticamente acionados alguns mecanismos de proteção que funcionam como anestesia. Infelizmente este alívio tem o alto preço de subtrair do ser humano experiências importantes que trariam à tona partes fundamentais para compor sua personalidade de forma mais sadia e abrangente. O indivíduo pode deixar de integrar “pedaços psíquicos” ainda adormecidos de si mesmo, que ficam soterrados sob grossas camadas de defesa e essas ferramentas ou talentos permanecem armazenados no fundo do inconsciente, muitas vezes pela vida toda. Uma das crenças inconscientes mais comuns, nesses casos, é a de que “eu não sou uma pessoa legal, portanto, não mereço ser amada”. A criança atrela à imagem distorcida de si mesma uma razoável parcela de culpa, quase sempre originada de percepções distorcidas dos fatos que ela vivenciou.
Quando adulto, sua personalidade se expressa de maneira fragmentada e o indivíduo se relaciona emocionalmente de forma contraditória, sem coerência entre o que pensa, sente e faz. Por mais que ele deseje conscientemente amar e ser amado de maneira intensa e integral, vai buscar inconscientemente os relacionamentos mais improváveis, que só lhe trarão frustração e dor, ou comporta-se de maneira a afastar um amor que o faria feliz.
É um mecanismo complexo, em que, para evitar a dor da rejeição, a criança desenvolve um padrão de reações que privilegia o outro, anulando seus próprios desejos, seus sentimentos, seu jeito de ser, para atender às expectativas do mundo externo – dos pais, professores, amigos, etc. Ela está sempre querendo agradar a alguém, na busca de ser aceita e amada. Nessa tentativa, toda a sua autenticidade já foi sacrificada, por representar um risco de ser julgada e condenada à rejeição. Ela acaba tornando-se um adulto que não se conhece verdadeiramente, não sabe quais são seus reais desejos - está sempre atendendo ao outro. Para encontrar o que buscamos, em termos de um parceiro, primeiro precisamos saber o que queremos, precisamos nos conhecer, saber o que é importante para nós.
Outra coisa importante é a reciprocidade. Temos a liberdade de escolher, mas, para que a relação funcione bem, precisamos também ser escolhidos. Para sermos escolhidos, precisamos estar íntegros, gostar de nós mesmos, salientar o que temos de positivo.
Quando estamos emocionalmente fragmentados, nossas escolhas nos preparam verdadeiras armadilhas afetivas, reforçando aquela crença inconsciente de que não merecemos ser amados; nos apegamos a quem não nos quer (caso de amor não correspondido) ou nos apaixonamos por alguém que não está disponível (amor impossível).
Qual o caminho para escapar dessas armadilhas? Devemos aprender a ouvir o nosso próprio coração, priorizando a nós mesmos, nos aceitando e nos amando incondicionalmente, antes de mais nada. Se este for um caminho difícil para se empreender sozinho, um processo terapêutico pode nos ajudar a entrar em contato e expurgar nossas feridas emocionais, chorando as nossas dores recalcadas e finalmente cicatrizando-as.
Jung chamava este processo de integração da sombra, aqueles aspectos sombrios de nossa personalidade que escondemos até de nós mesmos.
Quanto mais integrados formos em termos psicológicos, melhor percebemos nossas verdadeiras necessidades e as reais características dos nossos potenciais companheiros. Esta percepção mais realista nos permitirá escolher companheiros mais compatíveis conosco e conseqüentemente, estabelecermos relacionamentos mais prazeirosos, duradouros e enriquecedores.
Cristina Ragazzi Cocco
analista junguiana; fornece consultoria para empresas, palestras, cursos e workshops.
(11) 5904-2251
[email protected]
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 28
Visite o Site do autor e leia mais artigos.. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
