Menu
Somos Todos UM - Home

Encontros e desencontros do Caminho - Capítulo 1

Facebook   E-mail   Whatsapp

Autor Fernando Tibiriçá

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 1/29/2006 9:25:28 PM


Na segunda-feira, 30 de agosto, iniciei as provações do Caminho de Santiago de Compostela ao arrumar minha mochila. Ou melhor, não arrumar a mochila. Simplesmente, não sabia como colocar tanta coisa em um lugar tão pequeno. Se não fosse meu filho Rodrigo e sua namorada Jaqueline, não teria viajado. Sem saber, eu já estava no Caminho, aprendendo o que é uma mochila e para que ela serve. Metade das coisas que separei ficaram. Fui dormir às 7h da manhã do dia 31 de agosto, tendo que estar no avião às 15h45 e, portanto, no aeroporto às 14h.

E sempre há algo a mais para se colocar na mala, na mochila e, desta vez, era uma foto tirada no sábado, 28, em que apareço com os funcionários do "Manga Rosa", clube de música eletrônica do qual sou sócio e dirijo. Tinha explicado que "sumiria" durante algumas semanas e levaria a foto tirada com eles para deixar na catedral de Santiago de Compostela. A maioria entendeu; outros acharam, talvez, que eu fosse ver um jogo de futebol em Santiago, no Chile e que o time se chamava Compostela. Valeu a intenção.

Mala pronta, tudo em cima e eu achando impossível viajar com duas cuecas, três camisetas e duas calças, que se transformam em bermudas, uma havaiana e a bota da caminhada nos pés, além dos remédios dados pela nutricionista e pelos médicos que me acompanham. A mochila não saia do chão, de tão pesada. Tirei as meias, cuecas e senti que ia ficar pelado no caminho. Levei a mochila para pesar e - ufa! - finalmente, deu só 8 kg mas não tinha nada! Na verdade, durante o Caminho carregaria 8 kg mais 1,5 kg de água, documentos, etc... Parecia uma tonelada! Para dar uma volta, tudo bem. Mas eu tinha mais de 800 quilômetros pela frente! Isso, sem contar os desvios. Não tinha jeito. Era a mochila e o avião, senão, tudo estaria acabado. Além do mais, já tinha começado o Caminho meses antes e, agora, não dava para desistir.

Correria para chegar no aeroporto. Eu, meu filho e um advogado para garantir a viagem: a pressa e a pressão me deixaram com pinta de terrorista ou líder religioso carregando uma mochila que não tinha bomba nenhuma, mas era uma bomba para mim. Chegamos ao aeroporto, meu filho se divertindo e o advogado sem saber o que estava fazendo lá. Pedi para ambos me esperarem entrar no avião.

Foi mais fácil do que eu imaginava. Um agente perguntou quem era brasileiro, puxou-nos para fora da fila e nos dispensou da revista. O resto, gente de todo lugar, ficou na fila. Senti como era bom ser brasileiro, passando na frente dos gringos, o peito estufado e as costas começando a doer por causa da mochila. Sala de embarque, chamada para o embarque e, então, me dei com a ONU no avião. Gente de toda espécie, cultura, raça, etc, em um mesmo vôo. Sentei ao lado de uma senhora que parecia espanhola. Cara séria. Na primeira fila eu não podia esticar as pernas no corredor; ao lado, uma mulher com cara séria. Complicado...

Logo após a decolagem levantei para me localizar. À frente, os bacanas tomando champanhe, fecharam a cortina na minha cara. A turma de trás era uma tamanha mistura que o cheiro geral lembrava uma "galera" de vários países numa arquibancada em dia de jogo de Copa do Mundo. Era uma bufa só. Brasileiros eram pouquíssimos. O mais gozado é que, me esquecendo da arquibancada, resolvi expelir o jantar servido no avião. Fui ao banheiro e sentei na privada sem colocar o protetor. Tentei levantar, mas já era. Então, bunda por bunda, eu tinha sentado na bunda de toda aquela ONU.

Voltando à mulher séria, consegui descobrir que era brasileira e ia para Milão. Fiquei sacando a pinta da coroa e percebi que, provavelmente, era uma veterana de missões diplomáticas em Milão indo verificar o trabalho das colegas mais jovens ou atender algum cliente de 30 anos atrás. Posso estar enganado, mas era gente fina. Tão legal, que me convenceu a ir com ela até a porta do banheiro porque tinha medo de ficar presa lá. Fui e fiquei esperando. A ONU toda estava me olhando quando, finalmente, a senhora saiu. Fui atrás dela até as nossas poltronas. Rabinos, pajés, executivos e gente sem fazer nada só medindo a "coroa".

Comecei a achar a veterana interessante, mas meu negócio era a peregrinação religiosa. Continuei a viagem já sentindo minha bunda formigar, com vontade de abrir uma janela e coloca-la para ventilar. Mas não dava, então, me concentrei no Caminho. Mesmo estando ligado nessas bobagens do avião, tinha a peregrinação religiosa como uma coisa séria. Eu, realmente, estava conectado com a atmosfera do Caminho. E, no Caminho, tem gente que está ali por causa da religião, outros vão no universo espiritual, alguns caminham pela aventura e tem gente que vai porque não tem para onde ir. Assim é em todas as rotas religiosas de qualquer religião. De qualquer forma, é um acontecimento fantástico, sem fanatismo e com muita compreensão e solidariedade.

A viagem transcorreu bem apesar de aquela multidão ter passado a maior parte do tempo babando uns em cima dos outros enquanto dormiam. Aterrissamos em Madrid, alfândega daqui, documentos dali, fui observando como esses espanhóis são loucos. O aeroporto de Barajas não tinha nenhum policial. Cada vez que eu tinha que caminhar para a minha conexão para Pamplona, os raios-X eram acionados, mas não vi nenhuma bagagem (minha ou de outros) ser revistada. E o que tinha de vigarista andando pelo aeroporto era incrível! O locutor do aeroporto avisava a toda hora sobre possíveis roubos, para não nos desligarmos de nossas bagagens. E os malandros soltos. E nenhum policial por perto.

Finalmente, o avião para Pamplona ia partir. Era menor e não queriam me deixar entrar com a mochila. Falei que a mochila ia comigo, mostrei o passaporte e a credencial de peregrino. No final, tudo bem. Dentro do avião, percebi porque queriam despachar minha bagagem: o compartimento era pequeno e a mochila não cabia. Comecei a torcer para o avião não encher. Mas encheu e eu tive que colocar a mochila entre as pernas. A meu lado, sentou um espanhol gordinho, de óculos e terno, que ocupou todo espaço dele e invadiu o meu. Ele abaixou a cabeça e começou a dormir com as mãos enfiadas dentro das calças, como se segurasse o saco. Dei uns cutucões, tossi, abri o jornal e depois entendi que, ali, como nos acontecimentos anteriores, estava mais uma provação do Caminho; mais um teste de tolerância e paciência para quem vai fazer uma peregrinação religiosa.

O avião chegou a Pamplona e agora o negócio era descolar um táxi para ir até Saint Jean Pied de Port, na França, e iniciar a minha concentração. Achei um motorista e fomos para Saint Jean. Papo leve, mas escorregadio por parte dele, quando eu falava dos nomes nas placas mostrando a influência basca. E assim foi até chegarmos na cidade. Ali começaria o Caminho.

Leia os 18 Capítulos neste Site ou peça o livro completo via e-mail que o enviarei gratuitamente com prazer.

Texto revisado por Cris

Gostou?    Sim    Não   

starstarstarstarstar Avaliação: 5 | Votos: 100


estamos online   Facebook   E-mail   Whatsapp

foto-autor
Conteúdo desenvolvido pelo Autor Fernando Tibiriçá   
Pude informar e amenizar leitores que buscam o comentário preciso e um agrado para sua alma. Por isso sinto-me feliz...
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

Saiba mais sobre você!
Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui.
Veja também
Deixe seus comentários:



© Copyright - Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução dos textos aqui contidos sem a prévia autorização dos autores.


Siga-nos:
                 

Energias para hoje



publicidade










Receba o SomosTodosUM
em primeira mão!
 
 
Ao se cadastrar, você receberá sempre em primeira mão, o mais variado conteúdo de Autoconhecimento, Astrologia, Numerologia, Horóscopo, e muito mais...


 


Siga-nos:
                 


© Copyright 2000-2025 SomosTodosUM - O SEU SITE DE AUTOCONHECIMENTO. Todos os direitos reservados. Política de Privacidade - Site Parceiro do UOL Universa