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Encontros e desencontros do Caminho - Capítulo 10 - 2a. parte

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Autor Fernando Tibiriçá

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 2/4/2006 8:40:59 PM


Entrei e dei de cara com o albergue, máquinas da Pepsi e da Coca-Cola. Caminhei para encontrar o hostal Camiño Real. Poucas ruas e pouca gente, muito campo colhido ou sendo plantado e, agora, pouca mosca. Havia quebrado meus óculos tentando espantar mosquitinhos, que querem entrar em nossos olhos, bocas, embaixo do chapéu, enfim.
Com o calor absurdo, desde Hontanas até Carrion de los Condes, foi um festival de moscas e mosquitos. Matei um montão no caminho, pousadas, hotéis e onde mais desse para matar. As moscas acompanhavam o esterco e o adubo das plantações e o gado dos matadouros e a água parada e o pouco lixo e iam formando o perfil do caminho desde Burgos, na realidade, desde Nájera. Mosca na Espanha era bem comum. Como era comum os espanhóis cuspirem nas ruas e calçadas. Impressionante. Eles davam o arranque e mandavam “ostras” em qualquer lugar. Com naturalidade. Nessa hora, eles confundiam cultura e educação.
Cheguei na pousada, mais um negócio novo num povoado onde nem lojas havia. Nenhum comércio, mas tinha o hostal com cafeteria, restaurante, bar e as habitaciones. Fiquei com a última disponível. Três janelas, contando com a do banheiro. Lavei as minhas roupas e matei muitas moscas. A vista do final de tarde com campos infindáveis era linda. Tirei uma foto super pop ou roqueira: coloquei minhas botas na janela do banheiro para secar. Sem querer, elas ficaram em cima da privada. Lembrei da década de 60 e 70.
Quando desci para comer, fiquei sem graça porque o dono berrou: “Brasileiro!”. Só para ser amável. O restaurante lotado todo se virou para mim. Entrei e comi mostrando que brasileiro é civilizado. Durante o jantar, muitos peregrinos de vários países assistiam à televisão ligada mostrando o noticiário, guerras, atentados e, no ar, um clima de atenção em toda a Espanha.
Desde a semana passada, por todos os hotéis, pousadas, albergues e hostais, os documentos era checados, verificados e, na maioria das vezes, xerocados. A força policial estava preocupada com infiltrações de grupos terroristas entre os peregrinos. Era complicado porque tinha gente de todo o mundo e, justamente por isso, o caminho seria um prato cheio para qualquer grupo terrorista. Não havia tensão em razão da vibração da proposta do lugar, mas era inegável uma certa apreensão no caminho.
O islamismo cresceu porque o cristianismo ficou fortemente ligado às forças colonizadoras e imperialistas. No período colonizador, as grandes potências usavam e abusavam da palavra de Cristo e desmereciam, no Oriente Médio, África e parte da Ásia, qualquer culto que não fosse cristão. A insatisfação por ser subjugado e ter seu credo desrespeitado fez de alguns vilões verdadeiros mártires com seguidores muito jovens. Agora, ficou difícil consertar e quanto mais os direitos dos muçulmanos não forem respeitados, mais insatisfeitos haverá. A pobreza e a miséria por onde anda o islamismo é imensa, não em função da religião, é claro, e sim por causa dos seus governantes, que são tiranos, com raras exceções.
Os cristãos que dialogam com os muçulmanos são benquistos como pessoas. Afinal, Jesus Cristo e sua rebeldia contra as tradições e a forma de atuar dos governantes judeus acabou ganhando o respeito dos muçulmanos. Aliás, no Brasil, deveria haver programas religiosos obrigatórios, como obrigatórios são os programas políticos: eles mostrariam todos os credos, religiões ou manifestações religiosas. Assim, o brasileiro conheceria a religiosidade das pessoas, o pensamento de cada religião e poderia comparar, analisar, aprender e respeitar e não ser obrigatoriamente catequizado ou induzido por qualquer credo. Os programas religiosos que compram horários ou grupos religiosos que ganham concessões não deveriam existir. Normalmente, o poder do dinheiro supera a vontade de se praticar a religião na sua essência.
A discussão sobre a adoração de imagens, fotos, quadros etc é absurda. Pessoas decentes e bondosas merecem cultuar imagens e santos, principalmente quando foram agraciadas com milagres. Madre Tereza de Calcutá esteve durante muitas décadas atendendo miseráveis e lhes dando carinho, muito diferente dos faladores, dos pregadores da televisão, que talvez nunca tenham afagado um doente terminal ou um miserável. No entanto, eles certamente esperam bustos, gravuras e fotos para serem lembrados. Isso, sim, é culto à imagem. Não deveria haver catequização através do poder financeiro. Não é o caminho.
Estudei no colégio São Luiz, um colégio católico em São Paulo. Na época, eram só homens, a base era religiosa. Final da década de 50, início de 60, padres em todo lugar. Jogávamos futebol e, com isso, os jesuítas tentavam mostrar uma igreja mais moderna. Tínhamos aulas de religião e os padres eram muito simpáticos. O São Luiz foi campeão de torneios entre colégios. No futebol, era imbatível. O colégio era um grande casarão antigo, tinha campos de areia, recreio, hora de estudo e muita informação. Cinquentões, sessentões e setentões, que comandam boa parte do país, hoje, passaram pelo São Luiz. Colégio religioso, mas com dinâmica atualizada. Assim era nos anos 50 e 60. Hoje está em outro caminho, mas ainda é um bom caminho.
Um garçom cubano veio falar comigo. Falou do Lula, nosso presidente, e do respeito que todo mundo tinha por ele. Aliás, em todo o caminho, só se falava bem do Lula. Gente simples ou não falava do Lula como uma coisa nova no cenário mundial. Perguntavam sobre ele e o governo. Dizia que no Brasil era difícil governar com 180 milhões de pessoas, desigualdades sociais e financeiras, regiões mais ricas e outras mais pobres. Ninguém consegue governar e resolver tudo em pouco tempo. É um duro caminho.
Acho que no Brasil deveríamos ter um conselho de representantes do povo, acima da câmara federal e do senado. As pessoas não seriam escolhidas por voto ou por indução financeira ou até por falsas promessas, se aproveitando da ignorância da maioria dos eleitores. Esse seria um conselho com gente que representasse todas as parcelas da sociedade brasileira e que pudesse delinear um programa para melhorar o perfil do brasileiro, que pudesse formar um brasileiro com mais educação cívica, com disciplina, com mais interesse pela família, que soubesse da importância das riquezas naturais do Brasil, que recebesse mais cuidados de saúde etc. Tudo isso serviria para educar e habilitar o povo para o exercício pleno da sua cidadania, para que ele aprendesse que não é preciso ser submisso ou agressivo para se conseguir algo na vida. As regras, então, seriam cumpridas por todos, não haveria mais impunidade e muito menos injustiça. Utopia no caminho.
Na nossa realidade, não adianta a pessoa ter uma Ferrari, um Audi ou qualquer carro importado, se seus empregados ou funcionários precisam tomar três, quatro ou cinco conduções para chegar ao trabalho. Não adianta morar numa mansão com quatro, cinco ou seis quartos e toda a infra-estrutura, se seu subordinado mora ao lado de um lixão, sem posto de saúde, sem posto policial, sem tranqüilidade. Se as diferenças não forem medidas e comedidas, em duas décadas, no máximo, o Brasil será desmembrado em pequenos países ou nações ou, no mínimo, em regiões totalmente autônomas. Alias, é o destino natural do mundo todo face às diferenças sociais, étnicas e políticas.
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