Encontros e desencontros do Caminho - Capítulo 18 - 2a. parte

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Autor Fernando Tibiriçá

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 2/18/2006 1:27:36 AM


Quando começaram a servir o jantar, avisaram que um café da manhã também seria servido. Ora, jantar com aviso de café da manhã é sinal de viagem longa. Meus pés doíam cada vez mais. Fiz as contas e vi que o pessoal calculou errado, calculou levando em conta o horário espanhol. No horário brasileiro, seriam dez horas de vôo e só tinha passado uma hora e meia.
Bebi vinho tinto para amenizar o clima, encarei dois filmes e só depois conseguir cochilar um pouco. Mas ainda faltavam três horas para chegar a São Paulo. Comecei a conversar com uma senhora ao meu lado, pessoa simples, ela tinha se mantido calada durante toda a viagem. Esther, mineira, ela mora perto de Londres, trabalha cuidando de uma pessoa que teve um problema muito sério no cérebro. Surpreso, perguntei como ela tinha ido parar nos arredores de Londres. Ela havia conhecido a pessoa, uma jovem senhora, anos atrás no Brasil, na região de Uberaba. Mulher rica, se chama Maria de Fátima porque nasceu quando a imagem de Fátima tinha acabado de chegar à Uberaba. Seu apelido é Nona, hoje tem 50 anos.
Ela foi muito bonita e, depois de se formar no Brasil, foi estudar inglês em Londres. Conheceu o marido lá, bonito, cientista, também muito rico. Foram morar numa fazenda à beira mar. Tiveram três filhos homens. Anos atrás, Nona sofreu um pequeno acidente de carro. Por precaução, fizeram vários exames e descobriram placas de esclerose múltipla degenerativa. Algo genético, fadado a acontecer. O choque do carro e o stress causado pelo acidente apenas apressou o surgimento da doença. Especialistas de todo mundo foram convocados e o tratamento mais eficiente foi encontrado no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, em São Paulo.
Fiquei com lágrimas nos olhos. A jovem senhora, Esther, estava me dando uma lição sobre esclerose múltipla degenerativa. No Hospital de Londres, ela me disse, podia encontrar jovens de 15 anos em cadeiras de rodas com esta doença, sem esperança. Nessa doença, o envelhecimento precoce é inevitável – Nona tem 50 anos, mas aparenta quase 70. O marido dava uma certa assistência, mas não se interessava mais pela mulher. Os filhos sentiam a falta dela nos encontros familiares, na escola. Revoltados, não acompanhavam mais a vida da mãe. Para Maria de Fátima, sua melhor companhia e companheira, no momento, era justamente Esther, a jovem senhora ao meu lado.
Estava emocionado. Ela também. Ela estava indo ao Brasil, após três anos, para ter algumas semanas de férias com os filhos, uma enfermeira, um advogado e outro, professor. Ela estava preocupada porque havia deixado uma jovem enfermeira com a Nona, não havia encontrado outra pessoa, era uma inglesa que, claro, não falava português. E Nona, em seus momentos de explosão ou desilusão, gostava de falar em português. Ela ainda acredita que vai ficar boa. Esther estará presente até os últimos momentos. Duas brasileiras e uma história de tantos caminhos.
O avião trazia um jovem time de futsal, que acabava de se sagrar vice-campeão mundial universitário. Golearam todas as seleções e só perderam a final para a Ucrânia por 3 X 1. Achavam que iam ganhar com facilidade. A Ucrânia jogou com o time que vai representar o país no próximo mundial de adultos, jogou na retranca e, em apenas três contra-ataques, fizeram três gols. Foram mais competentes no esquema tático, eles são mais disciplinados. O melhor jogador do mundial, realizado em Mallorca, foi Grello, 19 anos, jogador do São Paulo Futebol Clube, que é atacante e, com certeza, grande promessa no mundo do futsal. Os melhores jogadores do Brasil estão atuando na Espanha, Itália e outros países europeus. Ganham em media três mil euros por mês, algo fora da realidade brasileira. É o Brasil, potência no futsal.
Duas histórias envolvendo brasileiros. Uma senhora que cuida de uma brasileira doente e jovens brasileiros, que foram aplaudidos por fanáticos torcedores de futsal. O Brasil vitorioso e no caminho. Um registro especial para os médicos do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e para o dr. Hamilton, conhecido como São Hamilton. Que orgulho. Mal espero para contar ao meu pai, que nasceu em Ribeirão Preto. Quero contar a todos os brasileiros a felicidade de saber que brasileiros descobriram como estancar e até curar esta doença. É o melhor do caminho.
Na Copa do Mundo de 2002, coloquei discretamente uma bandeira do Brasil na janela da sala do apartamento onde moro. O Brasil havia sido campeão e a bandeira lá ficou porque, em seguida, começaram as propagandas, debates etc ligados às eleições presidencias. Veio o reveillon e a guerra do Iraque aconteceu e começaram insinuações sobre a invasão de outros países ou regiões, que seriam feitas pelo governo americano. Falaram muito da nossa Amazônia. Deixei a bandeira na janela.
Quase um ano após eu tê-la colocado na janela, sem prejuízo algum de qualquer morador ou contra a estética do prédio, recebi uma notificação dizendo que deveria retirar a bandeira do Brasil. Fiquei indignado, ela não incomodava ninguém e a bandeira havia sido colocada espontaneamente. A proibição vinha do conselho de condôminos, da administradora e do síndico do prédio.
Resolvi mostrar que minha ação não tinha sido premeditada e era a bandeira do Brasil, que, no meu entender, está acima de qualquer regulamento ou convenção de condomínio. Não era a bandeira de um clube de futebol ou associação particular ou de cunho comercial. Um dos conselheiros disse que outras pessoas iriam pendurar lençóis e cuecas sujas, entre outros, o que não me agradou. Era de extrema ignorância. Dei a reunião como encerrada e não tirei a bandeira.
A Rede Globo e o Jornal da Tarde souberam do fato e fizeram entrevistas comigo. No SPTV 2a. edição, foram dois dias com o assunto sendo colocado em votação. 85% das pessoas disseram que eu não deveria tirar a bandeira. A Globo e o Jornal da Tarde me incentivaram a deixar a bandeira onde ela estava.
Só fui tirá-la após os Jogos Pan-americanos, 14 meses após tê-la colocado na minha janela. Tirei para não parecer aparecido. Não me interessava ser conhecido como o Fernando da bandeira. Pior ainda se fosse Fernando dá bandeira. Trocadilhos à parte, o episódio mostrou que além de umas poucas pessoas acharem brega o uso da bandeira do Brasil, outros não a respeitam.
O pior é que todos cobram do povo uma maior manifestação de brasilidade e patriotismo, mas quando a gente quer demonstrar patriotismo, não deixam. Este é o Brasil fora do caminho.
Finalmente, chegamos. Me despedi de Éster e dos jogadores, estava morrendo de saudade do meu filho. Queria chegar em casa, queria o meu quarto para, fisicamente, terminar este caminho e começar a recolher dele o melhor para o meu caminho de todos os dias.
Quando fui pegar minha mochila e meu cajado, que havia despachado, encontrei apenas a mochila. Não sairia de lá sem o meu cajado, afinal, ele foi meu grande companheiro de viagem. Iria até a Espanha novamente para encontrá-lo. Felizmente, não foi preciso, ele apareceu. Tudo certo. Com eles, fui do Sul da França até São Paulo. Agora, vou com eles para a minha casa.

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