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Encontros e desencontros do Caminho - Capítulo 7 - 3a. parte

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Autor Fernando Tibiriçá

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 2/4/2006 8:27:19 PM


Falando em dar Brasil, que vontade de encontrar o tal ex-padre irlandês que interrompeu nosso maratonista nas Olímpiadas. Na etapa de Saint Jean até Roncesvalles, ele poderia correr para me tirar a vitória. Ia enchê-lo de porrada com o meu cajado. Com a permissão de Santiago, é claro. Curioso, até agora, não encontrei brasileiros no Caminho, apenas o casal do refúgio de Orisson. Ou estiveram por ali antes de mim ou chegarão a Santiago depois de mim. É a espera do Caminho.

Em Los Arcos, novamente a grata surpresa de uma missa linda em uma igreja maravilhosa. No final da cerimônia, o padre chamou os peregrinos presentes para perto do altar, nos abençoou a todos, pediu que levássemos a palavra de Deus e que fizéssemos um bom Caminho. Com naturalidade, se despediu em vários idiomas e deu a cada um a Oração do Peregrino. Em português, saudou o Brasil e me deixou feliz.

Algumas vezes, tinha a sorte de chegar à cidade justamente na hora da missa. Normalmente exausto, rapidamente me recompunha. Em Los Arcos, a Espanha limpa, correta e bonita começou a sumir. Estava acabando a Província de Navarra. É nítida a diferença na aparência e na apresentação das coisas, das pessoas. Continua a simpatia, mas os modos já não são os mesmos.

A igreja da Santíssima Nossa Senhora de Assunción era de uma beleza indescritível. Muitas das igrejas onde comunguei foram construídas 300, 400, 500 anos antes do Brasil ser descoberto. A arquitetura era fantástica. Na igreja de Los Arcos, como na maioria das igrejas da Espanha, sempre havia um lugar para reuniões especiais que aconteciam decidindo, muitas vezes, o destino do povo. Nesta área, na igreja da Santíssima de Assunción, na parte superior de cada assento solene, havia figuras esculpidas na madeira do encosto.

E Jesus aparecia com traços mais morenos, cabelos e barba levemente crespos e encaracolados. Um Jesus Cristo firme e bastante humano. A igreja era do século XII, quase mil anos atrás. Jesus, os apóstolos, os santos, todos tinham aparência solene, mas, acima de tudo, humana. Pessoas com desempenho acima do normal, boas pessoas, normalmente são admiradas. Por isso as imagens parecem humanas; porque foram seres humanos que, depois, foram santificados.

Missão cumprida em Los Arcos, tinha que marchar até Logroño. E eu sempre tinha à frente uma vista esplendorosa do horizonte, do sol, podia ver e ouvir os pássaros cantando, me encantava a todo momento com a paisagem, com as plantações, enfim, com todo o caminho.

Quase me esqueci de contar: em Ayegui fui a uma bodega de vinho que mantinha, para os peregrinos, dois bebedouros para uso não abusivo. Nenhum guarda ou vigia, apenas um portão aberto e dois bebedouros de latão, um com água fresca e gelada, o outro com vinho tinto. Os peregrinos bebiam gratuitamente e seguiam sua caminhada. Ninguém ficava bêbado ou engarrafava o vinho. Um simples gole e todos voltam ao Caminho.

A caminho de Logroño a terra ia ficando árida. Marchei por uma área de preservação ambiental, sob cuidados da União Européia e fui chegando a Viana que faz parte do caminho de quem quer ir a Logroño. Ao me aproximar, escutei explosões. Eram fogos no centro da cidade. Ao me aproximar ainda mais, escutei música. Entrei na cidade e caminhei sem ver ninguém. As pessoas estavam no centro da aldeia. As ruas estreitas estavam abarrotadas de gente com roupa branca e lenço vermelho. Gente de toda idade.
Havia música no interior da igreja. Entrei e fui para os fundos, já que o lugar estava lotado e eu estava suado, com a legítima aparência de um peregrino. Olhei para o altar, que era maravilhoso, e fui pego pelo destino. Estava acontecendo um casamento. Os noivos ajoelhados, o padre falando, um coral cantando. Todo mundo na igreja estava bem arrumado. Pronto, eu estava em um legítimo casamento espanhol, em uma aldeia em festa, toda atmosfera era de alegria. Melhor recepção, impossível.

Era sábado, 11 de setembro: enquanto o mundo voltava a se questionar sobre o atentado acontecido três anos antes em Nova York, como em um conto de fadas, o povo de uma aldeia festejava uma de suas padroeiras, Nossa Señora de las Nieves e, na igreja principal, uma boda acontecia. E eu, ali, observador atento. Esperei o casamento terminar e pude ver os noivos serem cobertos com grãos, além do arroz tradicional, antes de saírem. Na porta, uma BMW prateada com laços e flores penduradas os esperava.
Saí e me dirigi à praça onde um grupo de jovens cantava ao som de violões e acordeón. E como cantavam! De repente, no meio daquele povo, notei dois japoneses, altos e com cara de compenetrados. Turistas, não peregrinos, como eu. O engraçado eram os espanhóis de branco e lenço vermelho, justamente, as cores da bandeira japonesa. Fotografei o que dava e segui em frente, buscando as setas amarelas que indicam o Caminho e lá fui eu para Logroño. Atrasado, mas feliz por uma tarde de sábado absolutamente inusitada. Mais um 11 de setembro inesquecível. Era o Caminho.

O casamento que vi na igreja me fez lembrar do meu casamento. Me casei em um longínquo 13 de setembro de 1973, primeiro no civil e, dias depois, no religioso. Um casamento que aconteceu porque a noiva ficou grávida. Um casamento que nunca deveria ter acontecido. O relacionamento já era. Mas a cerimônia religiosa aconteceu na Capela São Pedro e São Paulo - na original - linda até hoje. Vale uma visita para se ter uma idéia de algo simples e realmente bonito. Eu estava aprendendo no meu Caminho.

Nessa época estava escrevendo, produzindo, dirigindo e apresentando programas na TV Bandeirantes. Fui líder de audiência com um programa infantil, fiz musicais, provas de motociclismo e um programa de variedades muito louco para a época. Bandas de rock, bailarinos, comentários com irreverência, moda, clipes, etc., faziam parte do roteiro. Dizem que foi usado como referência para o Fantástico e para outros programas de variedades que vieram mais tarde. Esse comentário foi de gente importante que estava na televisão naquela década, de 70 para 80. O programa se chamava Band 13 e vinha com uma cara de total irreverência e deboche.

Em 73 mesmo, quando houve o embargo do petróleo, eu e o jornalista Fernando Garcia bolamos um quadro em que se tinha a imagem do rei Faissal num altar, muitas velas e pessoas ajoelhadas simulando uma reza. Em off, Fernando narrava um texto exaltando São Faissal que, com o embargo, contribuía para a não poluição do ambiente, ao que a natureza agradecia. O texto ainda exaltava São Faissal que faria as pessoas voltarem a andar de bicicleta, uma vez que a gasolina se tornaria escassa e assim por diante. Foi ao ar num domingo às 8h da noite. Eu já havia colocado psiquiatras deitados em um divã dentro de uma jaula sendo entrevistados, mostrei o Dzi Croquettes dançando – para quem não sabe, o Dzi foi o primeiro grupo andrógino assumido que estourou no Brasil e depois na Europa e era liderado pelo extraordinário bailarino e coreógrafo americano radicado no país, Lennie Dale – mostrei também aranhas viúvas-negras que em determinada época infestaram o bairro do Morumbi.

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