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Encontros e desencontros do Caminho - Final do Capítulo 12 e Capítulo 13 - 1a. parte

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Autor Fernando Tibiriçá

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 2/18/2006 12:50:37 AM


. Mudei o canal e vi um telejornal com as imagens marcantes da semana em todo o mundo. Violência, guerras etc. De repente, uma imagem do Brasil. Rio de Janeiro, um arrastão, tapas, socos, pontapés e roubo. Não acreditei. Iraque, Palestina, Haiti, política da Espanha, o debate presidencial nos Estados Unidos e aquele horror no Rio de Janeiro. Desliguei a TV com saudades do caminho. À propósito, a televisão na Espanha, França e Alemanha apresentavam tanta mediocridade envolvendo história de casamento e namoros frustrados, idênticas às baboseiras dos reality shows. A mesma bobagem que se assiste na TV aberta do Brasil. Fui dormir. Era o caminho.


Capítulo 13
Na manhã seguinte, segui rumo à O Cebreiro e suas maravilhas. 7h30 da manhã é cedo para quem vai dormir sempre às 5h, 6h ou 7h, o dia já claro. Abri as janelas e a escuridão era total. Lá, só começava a clarear por volta das 8h30. Às 10h, eu estava no caminho para percorrer o mais emocionante trecho até agora. Satisfeito com o resultado da etapa dos bosques, árvores e dos “assistentes”, pensei em tudo. Até em conhecer meu mentor, meu protetor. Até em encontrar meu anjo da guarda. Logo que o caminho se mostrou, senti um abraço da natureza. Manhã fria, a lua nítida ainda posicionada à minha esquerda, o sol surgindo com força total às minhas costas. E bosques, riachos, gado, pássaros e o cheiro do campo. Aldeias encantadoras, pequenos povoados e montanhas mostrando a sua grandiosidade.
Fui cruzando com muitos peregrinos, que sempre me saudavam e desejavam boa sorte para o dia e o caminho. Só parei para fazer xixi. Fui indo e vendo a maravilha que se tinha ao alcance dos olhos e há muito eu não desfrutava. Na caminhada, uns ficavam para trás e outros disparavam pela frente. Eu, na minha, fui ficando sozinho. Como eu queria, aliás. Agora, mais do que nunca, sentia que o meu cajado atravessado, seguro pelas minhas mãos, era puxado em direção ao meu objetivo – Santiago de Compostela. Tinha a impressão de que, quando eu desanimava, algo me puxava para a frente. Meu cajado já não era mais uma arma e, sim, o apoio companheiro. Puxado e empurrado, fui parando, fechando os olhos e começando a aprender que os olhos abertos ou fechados estão sempre vendo. A gente é que não quer ver. É a luz do caminho.
Me lembrei que em 1981 fiz uma música chamada Espelho e um dos momentos do refrão dizia: Quem é você que me olha, mas não me vê. Quantas vezes vivi esta frase, mas não aprendi. Olhar e não ver, se sentir invisível. Tive uma banda de rock. Fazia as letras, compunha as músicas com outros três integrantes. Ensaiávamos em um sítio, onde eu morava, em Cotia. Rock pauleira. Letras debochadas, irreverentes e políticas. Todas as letras, mesmo agora em 2004, ainda são atuais e muito divertidas. Cantei muito rock na época do Victória Club, entre 79 e 83. Tantas bandas e tanta folia. Depois cada um seguiu seu caminho.
Parei algumas vezes, me concentrei, a mente aberta, receptiva. Vi as belezas do caminho em outros momentos. Mil anos antes. Nos bosques, a movimentação era de uma multidão, peregrinos, cavaleiros, guerreiros e todo o tipo de viajante. Sentia que todos me acompanhavam em silêncio, para não perturbar a natureza. No tempo em que caminhei, meditei e conversei comigo e com “outros” que me acompanhavam e me animavam. Assim, embora sempre estivesse sozinho, nunca me senti só. Seguindo, fui desfrutando de uma vista esplendorosa. No caminho, a dificuldade era muito grande. O caminho propriamente dito é cheio de pedras e cascalhos, terra batida, um zigue zague cansativo. E tudo em ritmo de subida. Mas fui chegando, chegando e finalmente O Cebreiro.
Música celta tocando alto, dezenas de peregrinos chegando. Casas e tudo mais de pedra, construções antiqüíssimas. O lugar foi criado e cuidado por monges beneditinos em 836. Exatamente 1.168 anos atrás. E tinha muita coisa conservada desde essa época. Tirei rolos e rolos de fotos. Imperdível. No lado oposto ao que os peregrinos chegavam, havia uma carretera por onde passavam os ciclistas, que não encaravam a montanha e suas pedras. E chegavam carros e ônibus trazendo turistas de todo o mundo.
O dia era belíssimo. Japoneses, alemães, franceses e ingleses aos montes, fotografando e comprando tudo que viam pela frente. Outra vez, o lado mercadológico do caminho: um pequeno povoado, uma aldeia celta, com duas tiendas (lojas) de fazer inveja a qualquer ponto em um shopping de São Paulo vendendo de tudo sobre o caminho – lembranças de Santiago, CDs e até queijos e vinhos. Havia também vários bares e pequenos restaurantes, cinco ou seis pequenos hotéis ou hostais e um albergue. Comércio bravo como acontece em todo o caminho.
Táxis não paravam de chegar e sair com turistas ou peregrinos cansados. Nenhuma farmácia ou médico ou polícia. Nada. E tudo em paz. De repente, os curiosos e turistas desapareceram e, então, o lugar ficou extremamente agradável com sua simplicidade e riquezas culturais. O Cebreiro foi usado pelos romanos como via de acesso ao centro da Galícia. Logo, os peregrinos começaram a seguir por essa via. Existiam quatro pallozas, espécie de choupanas de pedra com palha como cobertura da época pré-romana. Peguei uma pedrinha solta numa das paredes de uma destas pallozas e guardei comigo. Não me importava se ela era muito antiga ou não. Ao passar as mãos nas pallozas, pude sentir a sua vibração. Quanta história!
A hospedaria e o hospital de peregrinos foram criados em 836 e, desde o princípio, os reis sempre foram generosos com este refúgio de peregrinos, dando proteção real. Assim, a padroeira recebeu o nome de Santa Maria la Real. O conhecido milagre de O Cebreiro aconteceu em sua capela, no século XIV. Um camponês fez um esforço enorme para chegar e orar numa das missas. Um monge que a celebrava, monge francês da ordem de Aurillac, que desde 1072 comandava a paróquia, menosprezou o esforço do camponês. No momento da consagração, o monge viu que a hóstia se converteu em carne e o cálice, em sangue, que ferveu e tingiu os corporais. Os corporais, com o sangue, caíram no cálice e a hóstia, na Patena. Em 1486, os reis católicos, peregrinos a caminho de Compostela, se hospedaram com os monges, contemplaram o milagre e depois doaram o relicário onde se guardou o milagre até os nossos dias. Hoje, o cálice, a Patena e o relicário constituem um valioso conjunto religioso, histórico, artístico e estão expostos em uma caixa forte na igreja de O Cebreiro.
A igreja era simples, mas calorosa e aconchegante. Fiquei mais um dia em O Cebreiro para visitá-la. Encostei nas pedras. Meditei. Senti a forte energia religiosa e a sua proteção. Estive várias vezes nessa igrejinha, quase uma capela. Sempre sozinho. Era extremamente reconfortante. Ao mentalizar, revi a igreja mil anos atrás, a neve, o frio e os peregrinos chegando.Desta vez, me hospedei em um hostal ou méson de um galego, que era uma figura rara. O lugar era pequeno, apenas quatro quartos. O meu era gostosíssimo. O dono, Anton, falava com sotaque português, ouvi o verdadeiro portunhol. Ele era boa gente, fazia um polvo bastante elogiado. Eu passei, não consegui encarar. Mas, no café da manhã, ouvi uma história contada por ele, que foi muito divertida.

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