Encontros e desencontros do Caminho - Final do Capítulo 13
Autor Fernando Tibiriçá
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 2/18/2006 12:51:59 AM
Pelo menos para mim.
Na parede de sua méson havia fotos, caricaturas e recordações, que envolviam Anton e sua família. Numa das fotos, ele aparecia com um enorme polvo nas mãos. Durante o café da manhã, alguns espanhóis disseram que seria impossível ele estar com um polvo nas mãos ali, na frente da méson, que fica no alto das montanhas. Ele se aproximou e resolveu explicar que estava com uns parentes numa praia, não muito longe, e percebeu que uma das meninas olhava insistentemente dentro de um cano enfiado nas paredes da montanha que cercava a praia. Intrigado, foi ver o que havia ali e notou justamente o polvo da foto, agarrado no cano e em alguns ferros. Dizia ele que era comum, com a maré alta e as ondas, os polvos virem para a praia e se alojarem nesses canos. Com muito custo, ele e seus parentes conseguiram tirar o pobre animal do cano, colocá-lo dentro de um grande balde com água salgada e levá-lo até O Cebreiro. Chegando lá, o polvo foi devidamente preparado e comido. O polvo de hoje, evidentemente, era outro. Na hora do jantar, desapareci para não ter que encarar o bicho de frente.
O Cebreiro era um lugar místico, uma aldeia encantadora, em Lugo, na Galícia. A chuva não parava. Queria ir para Samos, provavelmente um dos melhores momentos do caminho, segundo diziam, segundo li. Decidi ir à missa das oito, dos peregrinos, apesar da chuva toda. Muita gente estava com dificuldade para se alojar por causa do tempo. Eu já havia assistido uma missa, na noite anterior, como sempre, vários peregrinos de várias nacionalidades leram uma oração, cada um no idioma de seu país. Igrejas cheias poderiam ser mais comuns no mundo todo. Nos outros povoados pelos quais passei, só vi jovens naquele casamento em Viana. No mais, apenas velhos e viúvas. Tudo muito solene sem o povo jovem. No caminho, eles eram muitos. Dentro da igreja, eram poucos. Mas aqui, os padres se esforçam para atrair os jovens e aumentar o número de fiéis nas missas. E a população que freqüenta as igrejas se porta de forma conservadora. Não é o caminho.
No Brasil, temos padres dinâmicos, mas a forma de atrair os fiéis não é das mais interessantes para se obter o resultado desejado. Alguns cultos usam jovens para atrair outros jovens e seus familiares para as cerimônias religiosas. Muitos dos que fazem este trabalho não são devidamente preparados. Não fizeram nenhum curso ou algo que o valha, nem possuem um lastro religioso que os habilite. São apenas iniciantes.
Já na Igreja Católica Apostólica Romana, os padres estão sozinhos. Eles não usam artifícios para atrair as pessoas. A igreja acredita que só depois de muitos anos de aprendizado, de estudo, os seminaristas podem atrair os fiéis. A igreja tem medo que uma pessoa inexperiente possa comprometer a sua imagem, diferente de outros cultos religiosos, que não têm essa preocupação e se valem do marketing religioso. Então, tudo fica apenas por conta dos padres e de algumas pessoas, normalmente conservadoras, que estão próximas da paróquia. A igreja perde a luta, neste momento, apesar de termos o movimento carismático e as missas festivas do padre Marcelo Rossi. Mesmo assim, não é o suficiente e a igreja Católica Apostólica Romana fica sem rumo no caminho.
De repente, fui incomodado por gargalhadas de uma tropa de alemãs, todas senhoras, no quarto ao lado. Achei melhor ir para a igreja. Era a solução no caminho. A igreja não estava cheia, mas havia gente de todos os cantos do mundo ali. Pensei no que acontecia em seus países: acho que todos os partidos políticos, quando propõem melhorias sociais, educacionais, culturais e da saúde, acabam se apropriando do que encontramos na bíblia. Ou seja, eles acabam se apropriando das palavras de Jesus Cristo, sejam partidos de direita ou esquerda, nos Estados Unidos ou da China.
Independentemente do culto ou da igreja, Cristo vive e sempre viverá graças aos seus fiéis e também às propostas apresentadas por políticos de todo o mundo. Com os templos cheios ou não, Jesus Cristo viverá porque suas idéias e ideais estão sempre atualizados. E Cristo não admitiria, hoje, o que nunca admitiu em vida: a ostentação dos pregadores religiosos, gente que nunca esteve próximo de enfermos, miseráveis e desajustados, mas usam as suas palavras para sustentar um padrão de vida incompatível com os pensamentos e vontades de Jesus Cristo. Estão fora do caminho.
O Cebreiro foi ficando para trás. Um momento inesquecível no caminho. Agora era dormir e descansar. O melhor vinha por aí, com chuva ou não. O caminho vai continuar e a caminhada seguirá.
Leia os 18 Capítulos neste Site ou peça o livro completo via e-mail que o enviarei gratuitamente com prazer.
Avaliação: 5 | Votos: 25
Pude informar e amenizar leitores que buscam o comentário preciso e um agrado para sua alma. Por isso sinto-me feliz... E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
