Encontros e desencontros do Caminho - Final do Capítulo 3
Autor Fernando Tibiriçá
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 2/4/2006 8:06:04 PM
O casarão tinha uma recepção, restaurante, sala de estar e cozinha no térreo, com madeira antiga e blocos de pedra por toda parte. Convenientemente, os ambientes eram separados por paredes originais, antigas e também por vidros que funcionavam como isolamento acústico. E esses vidros eram imperceptíveis. Subindo a escada, havia uma cozinha medieval com uma chaminé maravilhosa e com tudo o que era necessário para o seu funcionamento. Tudo basco. O homem e a mulher, bascos, foram perfeitos anfitriões. Ela cozinhava, ele servia e eu comia.
Fui dormir, num silêncio absoluto, em um quarto ao lado da chaminé. Sonhos, ruídos e o descanso fizeram me sentir um privilegiado em 1600, no interior da Espanha, no país basco. O casarão ganhou vida, parecia que tudo acontecia durante aquela noite. A movimentação era intensa. Ouvi uma comemoração com gargalhadas e saudações. Abri a porta do quarto e o silêncio novamente se fez. Voltei a dormir pensando na festa que era íntima e para a qual eu não tinha sido convidado. Podia apenas escutar toda a alegria das pessoas.
Não quis comentar no Messenger nem por telefone as emoções que eu vivia e a conversa política com meu anfitrião. A censura e o controle, embora discretos, existem. E eu não queria atrapalhar a vida de ninguém e, muito menos, ser convidado a sair da Espanha. Só faltava parar em Guantanamo como agitador. Logo eu que queria ir até Santiago de Compostela como bom cristão, na base da paz e amor, mas atento às reivindicações honestas e verdadeiras das minorias do caminho.
Aliás, as minorias, no Brasil, são muitas, mas algumas se dão ao luxo de infringirem a lei e usarem, como defesa, a condição de privilegiados em relação ao cidadão comum. No caso dos índios, eles têm seus direitos, mas se cometem crimes ao alcance da lei de todos os brasileiros, assim devem ser julgados. Há pouco tempo, um cacique, com a ajuda da mulher, estuprou uma jovem brasileira, cidadã comum, do interior do Brasil. O cacique se refugiou em terras indígenas e, usando da prerrogativa de fazer parte de uma minoria, não foi para a cadeia. Vive numa grande reserva, usa relógios modernos, tem um carro caro, dizem que faz negócios com o exterior e até avião tem. Verdade ou não, com certeza é um brasileiro privilegiado e, como tal, consciente do que é certo e do que é errado. Cadê a punição?
Por outro lado, um índio foi queimado vivo por um bando de imbecis em Brasília. Houve condenações, apelações e, agora, dizem que os assassinos estão sendo presenteados com cargos públicos. O que é minoria ou que minoria é essa?
Em 1972 vivi a movimentação gay com a presença, em São Paulo, dos Dzi Croquettes. Eu era um dos produtores e coordenava a apresentação do grupo. Treze homens fortes, peludos, barbudos, mas andróginos, que dançavam, cantavam e representavam ironizando a sociedade daquela época. Foi um escândalo que se tornou enorme sucesso. Os gays quarentões, cinqüentões e sessentões devem muito ao Dzy Croquettes. Muita gente se assumiu definitivamente, naqueles tempos. Uma minoria que precisou de um espetáculo musical para poder mostrar a sua cara e encontrar o seu caminho.
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Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 24
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