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Encontros e desencontros do Caminho - Final do Capítulo 7 e Capítulo 8 - 1a. parte

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Autor Fernando Tibiriçá

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 2/4/2006 8:29:02 PM


Também fiz comentários, no Band 13, falando sobre uma inevitável guerra no Oriente Médio. A guerra estourou em outubro de 73 e manifestantes colocaram fogo na área de lixo da Bandeirantes. Certamente, manifestantes contrários às colocações favoráveis aos palestinos e árabes em geral. Era outubro de 73 e parece que essa guerra ainda não terminou.

Eu queria ir para a África ou para o Oriente Médio. Fernando Garcia, outros jornalistas da Bandeirantes, e eu, passamos a pleitear um programa que falasse sobre as reivindicações dos árabes, sem apoiar qualquer ação agressiva contra os israelenses ou judeus que são maravilhosas pessoas e amigos solidários em qualquer momento. Sim, queríamos condenar o sionismo que mascarava uma campanha para fazer os palestinos perderem sua identidade nacional. O sionismo foi condenado como racismo pela ONU e por várias organizações judaicas liberais. Não adiantou.
Hoje, os palestinos não têm nenhum poder, vivem na miséria, praticamente sem identidade. O sionismo ganhou mas também perdeu porque os árabes, solidários ou não aos palestinos, nunca irão perdoar o que está sendo feito. É algo parecido com o que os judeus sofreram na Segunda Guerra, nos guetos. O movimento sionista defende o interesse dos 30 milhões de judeus que existem no mundo e traz problemas e perigos para os outros quase sete bilhões de habitantes. Que caminho!

Os árabes e judeus precisam conhecer o Bom Retiro, em São Paulo, onde palestinos e árabes em geral convivem harmoniosamente com judeus e até com israelenses.

O ar de Logroño me atingia assim como a mudança do visual: a cidade agora tinha sinais de desleixo e uma mistura de raças. Fui à igreja de Santiago - mais uma igreja do século XI ou XII ou XIII. Terminada a celebração, tirei algumas fotos do altar majestoso com Santiago em destaque. Impressionante! Mas o que mais me chamou a atenção foi a belíssima imagem de Jesus Cristo com o braço direito levemente levantado e a mão, como se desse uma benção.

Saí da igreja e estava decidindo aonde ir para ver mais coisas de Logroño, quando ouvi cantos vindo de um prédio ao lado da igreja. Com cortinas semicerradas, total discrição, africanos faziam seu culto religioso. E o prédio estava cheio. Não entendi o que cantavam; parecia dialeto ou música de exaltações. Fiquei ouvindo e depois segui o meu caminho.

Dei um giro e me preparei para a caminhada do dia seguinte. Antes, falei com minha sobrinha e afilhada Roberta - era seu aniversário - com minha mãe, meu irmão e meu filho. Como é bom falar com a família! Ter uma família! Lembrei de minha avó Antonieta quando comia uns doces muito parecidos com os que ela fazia ou comprava para mim. Que saudade! Que gostosa a sensação dos abraços que ganhava dela! Ela viveu feliz até os 92 anos. Hoje, deve trabalhar na alfândega do céu. É o Caminho.

Capítulo 8

Acordei, tomei o café da manhã, peguei minha mochila e saí. Meus óculos escuros estavam quebrados - tinha que colocar um parafuso neles - minha máquina fotográfica pifou e eu precisava trocar dinheiro. Começou uma nova aventura. Para colocar os pinos nos óculos, demorei quase uma hora. Pelo menos a loja tinha um som com Otis Reding, um dos pais da soul music que morreu em 1968, naquele ano... A máquina não tinha jeito e, para não perder tempo, comprei duas descartáveis. Mas acho que fui enrolado – e fui –
porque minha máquina voltou a funcionar em Burgos. Bem feito para mim! Com pressa, é isso aí...

Fui ao banco, peguei fila. À minha frente, uma marroquina se queixava da Espanha com saudades do Marrocos e da família. Chegou a minha vez e eu não podia trocar travel-checks naquela agência. Peguei um táxi com a mochila e tudo e fui atrás de outro banco. Troquei o dinheiro e o táxi me levou até um ponto onde eu ganharia tempo. Taxista enrolado, aquele. Parecia mais um argentino do que um espanhol. Caí fora do táxi, paguei e segui o meu caminho.

Outra surpresa me aguardava: Nájera, minha próxima parada. A degradação e desarrumação ali eram nitidamente visíveis. Os espanhóis, nessa região, têm menos estatura e usam bengalas. Parece que ali a Espanha tem problemas de artrite ou reumatismo. Todo mundo de bengala. Nas outras cidades, isso não acontecia. E os bebês apareciam aos montes. Desde o início do Caminho, na verdade, é um verdadeiro festival de carrinhos de bebês, de bebês no colo, de carrinhos sem bebês, de bebês nas calçadas... Os filhos dos que usam bengalas estão usando outras coisas e os bebês não param de nascer.

Em Nájera fiquei em um hotel à beira de um rio, com uma ambientação fantasticamente brega. A sala de estar era super kitsh; às vezes, lembrava um bordel. O restaurante, além de peregrinos, recebia gente da cidade e turistas em geral. As mesas não eram limpas e a bagunça, total. À medida em que as mesas eram desocupadas, os pratos e travessas eram colocados, empilhados em mesas ao lado, sem uma limpeza prévia. Uma verdadeira bagunça. E a maioria das pessoas da cidade, ali no restaurante, ficavam próximas de uma TV assistindo a uma luta tailandesa. Era cômica a situação. Desencanei de tudo, comi e fui dormir.

No dia seguinte, café da manhã e vamos nessa, rumo a Santo Domingo de la Calzada. Outra vez, uma imagem diferente do início da viagem: deteriorização e, às vezes, abandono. Estava explicado porque o pessoal de Navarra quer a independência da região ou uma autonomia maior. E eles querem a coisa certa, eles formam uma região fabulosa. Em Nájera, vi muitas crianças e em Santo Domingo é a mesma coisa - bengalas e bebês, além de ruínas, igrejas e construções, em geral, com aquele ar de Idade Média.
Em Santo Domingo de la Calzada há um ditado popular que diz que a galinha cantou depois de assada. A história conta que uma atendente de um castelo se apaixonou por um jovem hóspede. Não sendo correspondida, ela escondeu algumas peças de talheres de prata na sacola de viagem dele. Isso era crime e ele foi enforcado. Por obra de Santo Domingo, entretanto, o rapaz não morreu. A autoridade local soube da história enquanto almoçava e comentou que aquilo era impossível, que era como se a galinha assada que ele ia comer, começasse a cantar. E ela realmente cantou.

A catedral da cidade era maravilhosa, a sua arquitetura, inacreditável, e a missa das oito, sensacional. Muitos turistas, peregrinos e gente da cidade. Num ponto da igreja, havia um aquário gigante feito de madeira e vidros, suspenso, para todos verem. E no interior desse aquário, havia galinhas brancas criadas especialmente para que o povo se lembrasse da história de Santo Domingo e da galinha assada que cantou. Ali também o padre fez menção aos peregrinos. Todos comungamos. Na saída, chovia. Segui para um restaurante, ou quase isso. Precisava comer uma massa, batatas e uma salada de frutas. Comi tudo e fui dormir porque tinha hora para chegar. Eu estava hospedado em um convento, veja só, e a freira-chefe estava me esperando quando cheguei.

Resolvi assistir TV e ver o jogo do Barcelona contra o Celtic. Entrei na sala coletiva, onde havia um espanhol baixinho assistindo um programa qualquer. Puxei assunto, falei do jogo, ele mudou de canal várias vezes, deixou no jogo do Valência contra o Anderlecht e começamos a conversar. Impressionantemente, eu não entendia nada.
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