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Encontros e desencontros do Caminho - Final do Capítulo 9

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Autor Fernando Tibiriçá

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 04/02/2006 20:38:19


Fizemos queimas de fogos incríveis do heliponto, cascatas caindo sobre os vidros, uma vibração esplendorosa. E o heliponto se tornou o point dos VIPs: visão ampla e total da cidade de São Paulo. Namorei muito no heliponto.
O jornalista Amaury Jr. era o assessor de imprensa do Roof. Através dele, fiquei conhecendo o então presidente da Embratur, João Dória Jr, que fez um link dali com a passagem do cometa Haley próximo da Terra. E assim, acabei indo voar em um Boeing fretado pelo Gallery para que alguns privilegiados vissem o cometa mais de perto. Dezenas de pessoas em traje a rigor, celebridades e beldades, muita bebida e folia. Vez ou outra, alguém berrava que estava vendo o cometa e todo o avião corria para um lado. De repente, outra pessoa dizia que ele estava em um outro ponto e todos corriam para o outro lado. Nesse balanço, corre e tropeça, ninguém viu cometa algum. Mas todos ficaram bêbados e o avião pousou antes de cair. Depressinha, fui do aeroporto para o Roof tentar ver algo do heliponto.
Tal foi o sucesso do Roof, que, finalmente, o edifício Dacon começou a ser ocupado e as ações contra o dono e sua empresa foram sendo todas arquivadas. O prédio se tornou um sucesso por causa do Roof. E o edifício Dacon, de mico, virou um caminho.
Os espanhóis eram muitos engraçados. A estação de Burgos se transformou em uma verdadeira festa. Putas, tios, avós, malandros, povo em geral e turistas iam se ajeitando. Peguei o meu ônibus, ia parar mais ou menos oito quilômetros adiante. O ônibus estava cheio e uma senhora começou a apresentar toda a família ao motorista. Logo, desci e deixei o clima de festa do ônibus. Parecia que eu era o condenado à morte ou o herói. Quando o ônibus parou, todo mundo colocou a cara nas janelas. Eu coloquei minha mochila nas costas e novamente me transformei em um peregrino. Pronto, estava feito o show e todos voltaram aos seus lugares. Ônibus andando e eu sozinho.
Começava ai uma nova aventura. Dei uma geral por onde estava, mirei na placa Isar e fui. Quilômetros depois, passei por Isar e sua simplicidade. Malucos dirigindo passavam de carro a mil por hora. Mais tarde, entrei na cidade de Hornillos del Camiño, povoado com apenas uma única rua, que corta o lugar de ponta a ponta. Dezenas de casas pequenas, de ruelas e becos, mas só uma rua. Eram 70 habitantes em época de movimento, 27 em época sem movimento. Soube que existia apenas uma única criança no povoado, filho da dona de uma loja de conveniência, onde se comprava e comia de tudo, desde frutas até queijos importados, de água a vinhos da melhor qualidade, aspargos, azeitonas etc. Diz ela que foram os peregrinos que pediram para incrementar a sua lojinha. E ela estava ganhando dinheiro. Na aldeia, havia apenas um só um albergue e dezenas de peregrinos passando por lá.
Segui o meu caminho. A meta era chegar em Castrojeriz. Vinte e poucos quilômetros à frente. Para quem já havia feito outro tanto, dava e não dava. Caminho bravo, terra árida, trechos desgastantes. Comecei a ver placas indicando piscinas em Hontanas, a próxima aldeia. Eu andando num calor infernal, já me via caindo na piscina com mochila e tudo. E anda, anda, anda e nada de piscina, riozinho, torneira, um bebedouro. Nada. De repente, no coração de um pequeno vale, a aldeia de Hontanas. Coisa de filme. Pequena, charmosa e muito antiga. Aquela coisa de 600, 800 anos. Entrei pela viela principal e fui parar num centrinho com duas pousadas, a igreja e casinhas. Ao longe, casas maiores, mas ainda simples.
Encontrei o dentista brasileiro, aquele mesmo que cruzei em Atapuerca, ele ficou feliz em me rever e poder novamente falar de coisas da nossa terra. Ele estava instalado no albergue com amigos de vários países. Eu precisava correr atrás de um lugar para tomar um banho, comer e descansar. Entrei na Fuente las Estrellas e fui atendido por uma mulher simpática, que me disse não haver vagas e que eu não esperasse encontrar porque a aldeia estava com seus lugares todos ocupados. Pensei num táxi, van ou qualquer transporte para chegar em Castrojeriz. Eram quase 6h da tarde e eu teria que andar mais uns dez quilômetros. Não ia dar certo. A mulher, vendo o meu desapontamento, chamou outra que, delicadamente, pediu para eu esperar um pouco. Saiu, voltou e falou que tinha arrumado um lugar para mim na casa de sua família. Ainda perguntou se eu me importava. Logicamente que não, ao contrário.
Ela, então, me levou, poucos metros adiante, para uma casa antiga e espaçosa, com um gramado nos fundos, árvores, pássaros e falou para eu ficar à vontade. Me mostrou um quarto e os banheiros, que todos usavam. Tomei um banho, dei uma geral nas coisas e voltei para Fuente Las Estrellas. O nome se deve a uma fonte que fica em frente à pousada, encostada nos fundos da igreja. Todo mundo se refresca e bebe água nesta fonte.
Jantei e percebi que as duas mulheres, junto com a mãe, eram as donas do lugar. Um lugar montado recentemente dentro dos padrões do caminho, mas rico nos detalhes e na atenção com os hóspedes. Poucos quartos, mas todos bem montados. Uma das irmãs, Araceli, além da cozinhar, coordenava tudo. Pessoa genial. Foi enfermeira e professora durante 35 anos em Madri. Agora, estava de volta à aldeia onde nasceu e, com seu jeito atencioso e cordial, cativava a todos. A outra irmã, Azuceña, tinha um tipo charmoso e também era extremamente simpática. Durante 22 anos, foi apresentadora de programas de rádio em Burgos. Agora, estava retornando à casa da família. Agustina, a mãe, também muito amável, zelava por todos. Mais uma lição de vida eu aprendia ali.
Vi como funcionava uma família. Unida, querida e solidária. Em nenhum momento, vi qualquer delas com ar sério. Vão fazer muito sucesso. Havia muita gente largando outras atividades e/ou se mudando para perto do caminho. O caminho dava amor, mas dava dinheiro também. E Hontanas não tinha nada, são pouquíssimos os habitantes, mas tinha um albergue, duas pousadas com bares e restaurantes e mais dois outros bares. Azuceña comentou que nunca esteve tão feliz, que quando trabalhava na rádio, quando tinha seus compromissos artísticos, as pessoas eram falsas e pouco leais. Agora, ela lidava com gente de todo o mundo e todos eram autênticos e gentis. É o caminho.
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