Entre a razão e o desejo
Autor Flávio Bastos
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 5/16/2007 10:52:31 PM
Em encontro psicanalítico ocorrido na cidade de Porto Alegre, denominado "Fronteiras do pensamento" que reuniu, entre outros, dois dos principais psicanalistas da atualidade, chamou especial atenção a fala do belga Jean Pierre Melman, sobre o que chama de "mutação do laço social" em relação à "perda do gozo em nome da adequação do indivíduo à sociedade".
Entre as causas do processo estariam o distanciamento gradual da religião, com o questionamento científico, e o advento da democracia - elementos que apeariam da posição de destaque e liderança tanto Deus quanto um rei diferenciado. As consequências, para Lebrun, são diversas, mas trazem em sua essência uma mesma característica: a aproximação do comportamento humano à lógica de mercado e do liberalismo que informa que podemos resolver tudo por nós mesmos, não havendo mais a necessidade de regulação, ou seja, no plano pessoal significa "a interiorização do modelo de mercado".
Passar uma vida reprimindo desejos, vontades ou sonhos, pode significar um processo de somatização que tende a levar o indivíduo a padecer de doenças criadas pelo bloqueio do fluir natural de sentimentos e emoções.
A sensibilidade recalcada em nome da razão (entenda-se racional) e do raciocínio lógico a serviço dos condicionamentos mentais exigidos pelo exercício profissional, poderá sufocar a necessária liberdade de expressão da alma humana em seu ciclo evolutivo.
Não somos máquinas programadas para executar sempre a mesma tarefa, pelo contrário, a nossa natureza trnascendente durante o decorrer da vida, cedo ou tarde, estará nos cobrando o seu espaço de atuação no contexto do ser integral que somos. E quando não canalizamos o transcendente através da satisfação de desejos ou sonhos que mexem com as nossas emoções e sentimentos, exercitando a sensibilidade, reprimimos o que há de mais sagrado na natureza humana: a manifestação da essência.
Foi com este sentimento de incompletude que Laura, 39 anos e acadêmica do último semestre de psicologia, procurou-me queixando-se de insatisfações e vazios na vida.
Motivação para o trabalho profissional que exigia-lhe muito em relação à responsabilidade e ao preparo na execução das tarefas que lhe competia, não era o problema imediato, mas sim, mediato. Porque a necessidade de ser cem por cento racional em relação ao que fazia em seu expediente de trabalho, associado à exigência do pensamento racional e acadêmico da psicologia, estava bloqueando as manifestações das potencialidades da alma. Resultado: sintomas depressivos, insatisfações latentes, vitimização, intenso sentimento de incompletude, ou seja, tédio com a vida.
Na experiência regressiva, Laura acessou uma vivência em que era uma religiosa entediada e que vivera em um templo onde morreu e que alí fora sepultada. Na segunda vivência, ainda criança, via-se na companhia de um adulto que usava uma peruca branca de época. Aprendeu com essa pessoa a estudar as estrelas e tornou-se depois de adulto, um devotado estudioso do firmamento, onde à noite, costumava observar as estrelas e fazer anotações com caneta de pena e tinteiro da época. Até que foi chamado para a guerra, pois era oficial militar, vindo a morrer em combate.
Na terceira vivência da mesma experiência regressiva, Laura viu-se vivendo em uma tribo africana e reconheceu um homem que moldava objetos de barro como sendo o seu pai da vida atual. A sua vida resumia-se em trabalho pesado, no entanto, esperava com muita ansiedade o dia da cerimonia da tribo em que podia beber um chá que a fazia sonhar, sair do corpo e flutuar. No mais, conforme suas palavras, a rotina era entediante.
COMENTÁRIO
Observem que Laura, em sucessivas vidas, vêm seguindo um padrão que a caracteriza na vida atual: o tédio, resultante de uma divisão desproporcional entre o "fazer" racional do cotidiano que predomina e o "dar-se ao direito", ainda muito reprimido e controlado pela mente que racionaliza, a satisfazer desejos e sonhos reclamados - há longo tempo - pela sua natureza transcendente. Consequências: a religiosa entediada, o observador das estrelas mais militar do que cientista apaixonado, e a africana entediada mas em busca de emoções para a sua vida.
A experiência regressiva mostrou-lhe exatamente o que ela deveria entender (elaborar) em relação ao que ela vem sendo e na razão direta do que precisa transformar no sentido de encontrar o ponto de equilíbrio para ser uma pessoa mais satisfeita e completa. O aspecto transcendental do homem integral não pode jamais ser anulado ou reprimido, caso contrário, cedo ou tarde, a pressão interna será muito intensa e acionará, como válvula de escape, as inevitáveis consequências das somatizações.
Portanto, dar-se o direito de satisfazer desejos que a alma clama, é uma característica inerente do ser humano visto na sua totalidade. Só seremos seres completos e felizes quando abrirmos a "porta" para que as potencialidades do espírito, até então reprimidas, manifestem-se livremente no palco da vida.
Observação: o verdadeiro nome da pessoa foi preservado.
Psicanalista Clínico de Orientação Reencarnacionista.
flaviobastos
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Flavio Bastos é criador intuitivo da Psicoterapia Interdimensional (PI) e psicanalista clínico. Outros cursos: Terapia Regressiva Evolutiva (TRE), Psicoterapia Reencarnacionista e Terapia de Regressão, Capacitação em Dependência Química, Hipnose e Auto-hipnose, e Dimensão Espiritual na Psicologia e Psicoterapia. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
