Entrevista: UMBANDA, O DESPERTAR DA ESSÊNCIA, Maria Elise Machado - 3
Atualizado dia 5/14/2006 7:25:30 PM em Autoconhecimentopor Orlando josé ravaglio
Q. A Um banda. Não devemos ir em busca de algo que no primeiro instante desconheçamos... não devemos ter loucas procuras. Os terreiros de Umbanda sérios não se predispõem a dar iniciação àqueles que chegam eufóricos. Os terreiros têm a obrigação de fazer com que as pessoas amadureçam a tal ponto que entendam realmente o que é a iniciação, para que possam saber se realmente a querem. Pois existem pessoas que estariam melhor sem ela. Seria melhor para seu karma. Muitos impõem "iniciações" sem dar condições para os discípulos pensarem. Aqueles qu não podem pensar igualmente estão a tal ponto que torna-se difícil distinguir uma da outra. A Umbanda propõe que você se conheça, que você seja verdadeiro e lúcido. Não há ninguém que te ponha a mão na cabeça e diga "seja lúcido a partir de hoje". Isto tudo é um despertar... A iniciação não surge do nada, mas de seu princípio verdadeiro. Surge de alguma coisa que você já foi um dia: alguém perfeito por ser simples. E ser simples é ser o que você é por si só. O dia em que você for o que é de verdade, você é um iniciado, seja em que grau for.
P. Como você vê este "boom" de esoterismo que agora é moda?
R. Como você disse, é um "boom". Isso pressupõe uma explosão, uma bomba. Produz muita fumaça e quase sempre muitos feridos. A fumaça envenena. Esse "boom" foi uma bomba que jogaram, tirando das pessoas o raciocínio, pois elas são levadas - não vão por conta própria - a buscar alguma coisa que desconhecem. Muitas acabam morrendo. Por causa da desilusão morrem para o espiritual... morrem para novas realidades. Hoje as pessoas não vão se buscar. Vão buscar o que os outros acreditam estar certo. Não acredito nesse "esoterismo". Acredito, sim, em filosofias sérias que existem e que fazem com que as pessoas se conheçam. Alguns setores do esoterismo são muito cheios de fórmulas de elevação. E de receitas maravilhosas...
P. ... aproveitando o assunto... e sobre o aparecimento de tantas "magas" ultimamente?
R. Magia, ora, a magia... Magia é o poder de criação, de transformação. Não me considero "maga" e nem pretendo ser uma. Se ser maga é ter a vontade forte para mudar a mim mesma e ao mundo que me cerca, transformar minhas coisas particulares, então, eu sou. Essas pessoas acham que magia resume-se em digerir alguns conceitos e colocá-los num papel onde outros possam repeti-los. Para ser mago, ou "maga", é preciso ser alguma coisa e não simplesmente dizer que é... Não basta estar alicerçado apenas nos aspectos externos, tais como livretos de poções ou de anjos. Essas mulheres falam tanto em magia e esquecem que a maior magia de todas é a de ser mãe. A importância disto é poucas vezes aquilatada. A cada criança nascida, o universo nasce de novo, eternamente. É neste instante que a mulher adquire sua plenitude, pois neste momento tem a oportunidade de gerar o que há de mais nobre em nós.
P. Como você vê os chamados Evangélicos e seus ataques aos Umbandistas?
R. O que faz a Umbanda ser tão maravilhosa é o fato dela aceitar em seu seio a todos sem distinção, sejam eles evangélicos, budistas, católicos, kardecistas, candomblecistas, etc. Mesmo aqueles que nos atacam, sem o saber ou mesmo que não admitam, fazem parte da grande família cósmica. É só questão de tempo para se aperceberem disso. Os praticantes de todos estes cultos, quando a "coisa aperta", se vêem de repente procurando o terreiro de Umbanda para a resolução de seus problemas. É claro que sem contar para a familia... Então, de uma forma ou de outra, todo mundo lá no fundo é um pouquinho umbandista. De forma consciente ou inconsciente eles sentem que a Umbanda possui Tradição, que ela não foi alicerçada há apenas 100, 200, 500 ou 2000 anos atrás, quando nasceu o catolicismo, que mais tarde se disseram donos do destino de tudo e de todos... assim como em outras religiões, o grande mal não é a massa, mas aqueles que se decretam "donos" dela, usando e abusando de um poder ilusório para movimentar sua máquina de domínio. A Umbanda não se diz dona de nada, pois ela ensina que aquilo que é de todos é mais forte. Isso não é ser socialista, como muitos podem pensar. A Umbanda busca, sim, a Sinarquia, o sistema social que o mundo espiritual tanto nos enfatiza, nos ensina... A Umbanda tende a se tornar cada vez maior, como vem sendo, pelo fato das pessoas se sentirem livres estando dentro dela. A Umbanda traz e mostra uma liberdade objetivada, ela dá sentido à procura e ao anseio dos seres humanos. A Umbanda tem objetivo. E para todos os graus de consciência. Umbandista tem de sentir e não ter rótulo.
P. O que é ser filho de santo?
R. É, antes de tudo, compreender a familia... Ser filho, pressupõe a existência de um Pai e de uma Mãe e antes deles, de uma família. Não falo de uma familia terrestre, mas da familia cósmica. A verdadeira família espiritual é a grande família dos "mundos"... Para compreender isto, é preciso compreender, antes, o que é a fidelidade... o que é ser fiel a um Pai e uma Mãe, o que é ser fiel a um mestre encarnado ou a um mestre do Astral. Infelizmente, dentro dos terreiros de Umbanda, isto ainda é irrisório. Não faz sentido ser fiel aos Orixás, aos nossos ancestrais, se eu não consigo ser fiel àqueles que estão mais próximos de mim. Se a Iniciação traz este sentimento e esta compreensão, por outro lado, é preciso ser sacerdote para trabalhar pela família cósmica. Não faz sentido ostentar um título para si para se enganar. Principalmente porque ninguém consegue esconder a verdade de si. Quanto mais conseguimos produzir para nossa família, mais forte ela vai ser... Isto trará uma homogeneidade, uma união jamais alcançada pelos homens. E onde isto deveria começar? Dentro do terreiro de Umbanda, com o Pai, a Mãe e os filhos de santo...
Texto revisado por Cris
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