Enxergar Cristo
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Autor Mirtes Carneiro
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 4/23/2010 9:03:32 PM
Como reconhecer Cristo no outro?
Me lembro de um professor de teologia, Frei Gorgulho que dizia que o Ressuscitado estava presente no pobre, no mendigo, naquele que sofre, e que para estar em contato com Ele devemos nos curvar a um ponto de estarmos de cabeça baixa, olhando para o chão, para a terra.
Uma questão me vem à mente: como identificar Cristo no outro?
Basta olhar para um mendigo e enxergar Cristo?
Penso que a questão é mais profunda um pouco.
O outro pode ser considerado um espelho para mim, que irá refletir as minhas próprias convicções, as minhas verdades, as minhas mentiras, as minhas dúvidas, as minhas alegrias, os meus sofrimentos.
Reconheço no outro aquilo que reconheço em mim, desprezo no outro aquilo que desprezo em mim, amo no outro aquilo que amo em mim.
Como reconhecer um mendigo em mim? Existe um mendigo em mim?
Se não reconheço um mendigo em mim, posso ter empatia, compaixão por um mendigo? NÂO.
Dick Sutphen diz: "A compaixão é um sentimento de profunda simpatia ou tristeza pelo sofrimento alheio, acompanhado do desejo de aliviar a dor ou remover sua causa."
Como posso enxergar o sofrimento do outro se eu não conheço o sofrimento, se não sei que ele existe? Como posso conhecer o sofrimento se não for pela experiência própria?
Se olho para um mendigo e o vejo, reconheço, posso aliviar a dor desse mendigo em MIM, e depois nele. Se não reconheço um mendigo em mim, posso ainda assim ajudar aquele outro mendigo, em uma ação que pode ter um outro significado, mas ainda assim é uma ajuda ao mendigo. A verdadeira ajuda ao mendigo, penso eu, é aquela que se dá de alma para alma, do meu mendigo interior para o mendigo que está no outro real.
Sim, existe um mendigo simbólico dentro de cada um de nós, isto é fato. Daí a reconhecermos isto é uma outra história.
Alguma vez você já se sentiu desvalido, necessitado, desprotegido, desamparado, miserável? Se a resposta for sim, aí está o seu mendigo interior, aí está o elo que te une ao mendigo real, jogado em um canto na rua.
Você costuma olhar para este desamparado e necessitado em você?
Se não, muito provavelmente você não vai querer ver o mendigo na rua, sabe por que? Porque ele vai te remeter ao seu próprio desamparo, a sua miserabilidade.
Talvez seja bem mais fácil reconhecer em mim o sucesso, a alegria, o prazer...talvez seja bem mais fácil estar próximo de pessoas alegres, sem dor...
Sim, o sofrimento assusta, e ao mesmo tempo se mostra a nós quase sempre. Porém, se queremos ver e entrar em contato, não sei. Aliás, sei sim, a resposta é NÂO, não queremos sofrer, não queremos ser tristes, não queremos ver a tristeza no outro com a ilusão de que não veremos a tristeza em nós.
A compaixão diz respeito a uma partilha que transcende o ego, sendo assim a compaixão é igual a: eu e tu somos um. Eu aqui, dentro de meu carro de luxo indo para uma balada, com a ilusão de prazer, e lá aquele mendigo deitado no caminho, consciente de sua desventura. Aqui o que nos separa é somente a ilusão de e a consciência de. Dentro de meu carro eu vivo meus enganos, enquanto que o mendigo compreende a sua condição.
Concluindo, consigo ver no outro aquilo que brota em mim, o Cristo que enxergo no outro é o mesmo Cristo que vive dentro de mim.
Se é difícil enxergar Cristo no outro é porque a Ele não está sendo dado muito espaço dentro de mim.
Olhe para o chão, é lá que está o seu mendigo.
Abaixe-se um pouco, curve-se um pouco e irá ficar mais próximo dele, é claro, se seu desejo for conhecer o seu mendigo interior. Caso contrário, encha o peito de ar e olhe para cima e para o alto, siga com a ilusão de que nunca irá se esbarrar com ele.
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Mirtes Carneiro CRP06/111130 Psicóloga e Psicanalista Atendimento on line Tel 11 9 8108-5021 E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |