Éramos felizes e já sabíamos!
Atualizado dia 13/11/2008 23:20:33 em Autoconhecimentopor Flávio Bastos
Houve um época folgada que nem bombacha de gaúcho, em que as relações humanas eram mais descontraídas e naturais. Havia espaço físico de sobra e clima de mútua confiança entre vizinhos para que a criançada se reunisse no sentido de colocar em prática as suas brincadeiras e jogos infantis, principalmente as de roda, onde o canto, palavras de ordem, movimentos coordenados e olhares furtivos, exercitavam o futuro adulto para as relações sócio-afetivas em sua vida.
Nos bairros afastados dos centros das grandes cidades, havia espaço de sobra para todo tipo de atividades lúdica, inclusive para a prática do futebol tão apreciado pela "piazada" que escolhia o terreno mais adequado para a preparação do campinho de futebol do time da rua ou da zona. E quando reuniam-se equipes rivais da mesma zona ou bairro, eram disputadíssimas essa partidas. Quem perdia, geralmente, experimentava o amargo sabor da derrota e da "corneta". Quem vencia experimentava o doce sabor da vitória de quem vencera um "importante clássico". Ensaios para a vida...
E entre um clássico e outro... uma brincadeira aqui, outra lá, a vida seguia livre, reunindo crianças de ruas e zonas próximas umas das outras, porque não havia inseguranças nas ruas... era o tempo em que o "véio do saco" e o "ladrão de galinha" povoavam a imaginação da meninada.
Nas noites quentes de verão, dormia-se de janela aberta, e o máximo que poderia entrar por aquela abertura, eram mosquitos, mariposas da noite ou, eventualmente, um bicho gambá à procura de restos de comida na lata de lixo da cozinha.
Nas férias de verão, a criançada costumava ficar até mais tarde da noite deitada nas calçadas ou na relva, conversando e mirando o firmamento à procura da estrela cadente ou de satélites que cruzavam o estrelado céu. Nessas ocasiões, sempre tinha alguém que contava histórias aguçando a fértil imaginação de quem já encontrava-se extasiado e hipnotizado pelo firmamento sem fim. Eram momentos de magia e de encantamento...
Durante as férias escolares, as brincadeiras de roda que geralmente reuniam meninos e meninas, não tinham horário para começar ou terminar. E a brincadeira preferida de muitos era a que permitia o toque, ou seja, o ensaio, o exercício da relação amorosa do futuro adulto. Era a "passagem do anel" em que o(a) escolhido(a) pelas regras da brincadeira tinha que passar o "anel", escondendo-o com as mãos unidas em forma de concha, de mão em mão até depositá-lo nas mãos de alguém que fora por ele (ou ela) escolhido. Os demais, posicionados em círculo, tinham que adivinhar com que estava o anel.
Ocorria, seguidamente, do passador do anel depositá-lo quase sempre nas mãos da mesma pessoa, naturalmente do sexo oposto, estabelecendo com isso um vínculo sentimental que mais tarde, na fase adulta, viria aproximar esse casal através do "namoro". Nada acontece por acaso...
Nessa época de muito menos stress e paranóia, as pessoas cantarolavam e assoviavam livremente pelas ruas. A naturalidade acompanhava o dia a dia das pessoas. Eram corriqueiros os banhos de rio que reuniam uma "patota" das ruas que se deslocavam alegremente carregando seus "instrumentos de lazer náutico" que resumiam-se em vara de pescar, minhocas e bóia de cãmara de pneu de automóvel ou de caminhão. Aprendia-se a ser feliz dessa forma... com pouco...
Como o indivíduo, geralmente, tinha uma boa estrutura na infância, a sua adolescência era menos problemática no sentido de sua passagem que ia até os 19 anos no máximo para os homens, e 18 anos no máximo para as mulheres. O início da fase adulta era definido a partir dos 19 e 18 anos, respectivamente, fase em que ambos os sexos começavam a pensar sériamente em namoro. Era a fase da famosa piscadela de olho na direção da pretendente, dos recadinhos entregues por terceiros e do assovio malicioso e prolongado: "Fiuuu... fiuuuuuuuu!"
Depois, inevitavelmente, cada um segue o seu rumo conduzido pelas suas escolhas e decisões na vida. No entanto, algo fica registrado para sempre nas consciências de todos aqueles que conviveram saudávelmente um importante período de suas vidas, a infância. E esse "algo", hoje podemos resumir em uma única frase: "Éramos felizes sim... e sabíamos". Experiência que reforça a tese de que só alcançamos a felicidade possível quando compartilhamos a vida com nossos semelhantes.
Psicanalista Clínico e Interdimensional.
Atendimento online/MSN: visite o site do autor
Texto revisado por: Cris
Avaliação: 5 | Votos: 23
Flavio Bastos é criador intuitivo da Psicoterapia Interdimensional (PI) e psicanalista clínico. Outros cursos: Terapia Regressiva Evolutiva (TRE), Psicoterapia Reencarnacionista e Terapia de Regressão, Capacitação em Dependência Química, Hipnose e Auto-hipnose, e Dimensão Espiritual na Psicologia e Psicoterapia. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |