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Éramos loucos por liberdade...

Atualizado dia 30/09/2006 01:36:01 em Autoconhecimento
por Flávio Bastos


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Dizem que de poeta e louco cada um tem um pouco. Baseados nessa premissa que nas décadas de 60 e 70 do século passado, em plena vigência da ditadura militar dos países do cone sul, quando toda tentativa de liberdade de expressão era vigiada ou reprimida pelos órgãos de segurança destas nações, muitos poetas, escritores e compositores que costumavam retratar em suas obras, percepções e vivências do cotidiano de suas realidades sociais, para ludibriar a censura e fugir da perseguição política, costumavam simplesmente fazerem-se de loucos. Ou seja, fantasiando a realidade e maquiando o significado de várias palavras-chaves de suas obras. Eram textos, composições ou poesias "travestidas" nas suas origens para poderem passar pelo crivo do censor.

Na música popular brasileira, o compositor Chico Buarque de Holanda foi o mais expressivo personagem desta época. As composições "O que será", "Apesar de você" e "Caros Amigos", refletem fielmente o que acontecia em termos de censura sobre as diversas formas de expressão cultural e artística. Época em que o também compositor e escritor gaúcho José Fogaça tão bem definira o sentimento jovem na escolha do título de seu livro: "Juventude Amordaçada".

Era um jogo de caça ao rato, portanto, todo cuidado era pouco, porque a "patrulha ideológica" era sistemática, somente vindo a diminuir de intensidade com a pressão da sociedade civil organizada e com o decorrente processo de abertura política nesss países.

Os jovens intelectuais daquele período, independentemente de suas nacionalidades, identificavam-se através de um movimento que afinizava com as "causas proibidas" chamado contracultura. Era um movimento que falava a linguagem dos jovens que não concordavam com uma série de "estado de coisas" que acontecia no mundo. Entre eles, as ditaduras militares e a guerra do Vietnã.

Eduardo Galeano, Julio Cortázar e Pablo Neruda, entre vários outros escritores e poetas da liberdade, também tiveram que representar, diversas vezes, "papéis de loucos" em seus cenários ditatoriais. E assim representavam todos que assumiam uma posição de contestação, fossem figuras ilustres ou não, porque neste espetáculo surreal, quem não posicionava-se de um lado ou de outro, ficava em cima do muro.

Os poemas que serão apresentados a seguir, significam impressões das minhas andanças de jovem pela América do Sul na década de 70. No poema "Tributo a Don Pablo" procuro retratar a perplexidade que causou entre a juventude intelectualizada da época, o violento golpe militar no Chile, seguido da morte do poeta Pablo Neruda. Já o poema "Homem teatral", por si só diz tudo, pois procura expressar com palavras de "um louco" a realidade vivenciada por uma geração "quase" amordaçada.

Hoje, apesar de tudo... e da corrupção, felizmente, os tempos são outros. Viva os novos - e loucos - tempos de liberdade. Vida longa à democracia!

TRIBUTO A DON PABLO

O povo silenciou...
e o velho poeta morreu.

Para viver,
bastava a sua ilha, os bosques,
os campesinos, a sua pátria,
que o velho poeta amou.

Para viver,
restava a consciência, a clareza,
a sensibilidade e o discernimento
... mas que Neruda recusou.

Para viver,
bastava seu socialismo, seus amigos,
sua obra, seus amores
que o poeta desertou.

Porque a morte, Don Pablo?
Deixaste órfão a América que amaste
e o coração americano mais sensível e frágil...

Os bosques do teu Chile estão vazios
e os ventos do pacífico já não clamam teu nome,
mas "el pueblo" ainda te escuta
e sempre te compreenderá,
mesmo do silêncio que preferiste.

Porque a morte, velho poeta?

HOMEM TEATRAL

O calor exprime
a idéia abafada,
o suor que corre,
a voz que cala.

Mentes sequiosas
e congestionadas
em trânsito.
É a tentativa
e o desespero da palavra,
da expressão que agoniza...

O teatro é a vida,
a vida é o teatro.
A peça tornou-se patética,
de uma explosão contida,
de uma violência passiva,
na tentativa... no desespero
contra interpretações distorcidas.

Psicanalista Clínico e Reencarnacionista.
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Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Flávio Bastos   
Flavio Bastos é criador intuitivo da Psicoterapia Interdimensional (PI) e psicanalista clínico. Outros cursos: Terapia Regressiva Evolutiva (TRE), Psicoterapia Reencarnacionista e Terapia de Regressão, Capacitação em Dependência Química, Hipnose e Auto-hipnose, e Dimensão Espiritual na Psicologia e Psicoterapia.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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