Estar bem.

   

Autor Paulo Salvio Antolini

Estar bem.

            É comum, quando cumprimentamos alguém, perguntarmos, quase que instintivamente, como ela está passando, se está tudo bem. Às vezes ouvimos uma resposta negativa, ou seja, a de que ela não está bem, pois se sente abatida, com problemas... E então vale a pena refletir um pouco sobre o que é estar bem.

            Vamos começar observando nossa disposição para o enfrentamento de problemas. Por muitas razões, desde muito cedo, foi-nos ensinado que não devemos ter problemas, que a vida fica "estragada" quando os temos. Visão distorcida, reagimos então sempre mal humorados pelos percalços que temos que enfrentar no dia-a-dia. A vida possui, em seu fluxo natural, situações que, para serem compartilhadas, precisam de nossa atuação, ajustando-as e adequando-as para o nosso bem viver. Não admitir isso e achar que tudo deveria nos chegar já pronto, é nos carregar de "problemas".

            Vemos, constantemente, pessoas dizendo que querem resolver todos os problemas já na segunda feira, a fim de ficar livres durante o restante da semana. Triste ilusão, pois problemas nada mais são do que situações a serem resolvidas e isso nós teremos todos os dias. A não percepção desse fato já é suficiente para gerar descontentamento, irritação, mau humor e impossibilidade de aproximação dessas pessoas, que sempre priorizam o seu infortúnio, não tendo olhos para os que as cercam.

            Estresse constante, dificuldade para raciocinar e encontrar as melhores soluções são algumas conseqüências dessa postura. Obstáculos que para muitos são vistos como barreiras e impedimentos, para outros são pontos a serem superados, vencidos. Para os primeiros, grandes desgastes, para os segundos, desafios que os impulsionam a seguir em frente, criando motivação para a execução dos planos traçados.

            Então, se estar bem é não ter problemas, então nunca ninguém estará bem.

            Estar bem é estar coerente com o seu estado. Uma pessoa que acabou de perder um ente querido não pode estar eufórica e feliz, mesmo que em todos os outros aspectos sua vida esteja organizada. Sua tristeza, seu abatimento são naturais e não poderia ser diferente. Ela está bem. Cometem um grande erro aqueles que, não suportando ver o sofrimento de determinada pessoa em um enterro, sedam-na com medicamentos a fim de "acalmá-la". Não imaginam o dano que lhe causam com esse tipo de atitude, pois quando o efeito passar, ela não mais poderá estar com aquele que lhe era muito significativo e, no entanto, partiu. Portanto, devemos entender que, mesmo em desespero, mesmo passando por momentos tristes, é possível que se possa estar bem, estar coerente com o momento que se está vivendo. A retomada de vida de uma pessoa que foi sedada quando da perda de um ente amado é muito difícil e demorada. Aquela que chorou, que desabafou, em menor tempo reassumirá sua rotina.

            Vemos alguém quieto, pensativo e lá vamos nós, empunhando a bandeira do "vamos, anime-se!" E tentamos de tudo para fazê-lo sorrir, brincar. Quando levamos uma resposta irritada, "atravessada", ainda nos sentimos ofendidos, incompreendidos, quando de verdade, quem não está compreendendo somos nós.

            O ensimesmamento, que significa "voltar-se para dentro de si próprio" cada dia faz-se mais necessário para as pessoas.

            Refletir sobre como estou vendo minha vida, como estou reagindo frente as minhas obrigações, é muito importante para determinar meu grau de satisfação ou insatisfação com o que estou vivendo. Rever a postura frente os "problemas". Situações a serem resolvidas podem (e devem) ser vistas como estímulos para nossa auto-realização. Observem a alegria e a satisfação que as pessoas sentem quando resolvem uma situação que aparentemente era muito complicada. Como é que isso foi resolvido? Você se envolveu na situação, foi passo a passo descobrindo, tentando, conversando e, então, as coisas aconteceram.

            Lembrem-se: Estar bem é estar coerente com o seu estado.

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