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Estranhos no ninho!

Atualizado dia 15/10/2007 17:52:43 em Autoconhecimento
por Flávio Bastos


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Nós, seres pensantes, apesar de termos identificações e semelhanças uns com os outros, ainda não conseguimos conviver satisfatoriamente com as diferenças. Por esse motivo, boa parte de nossas inibições nascem da idéia de que as outras pessoas são diferentes, melhores ou piores. Há pessoas que sofrem de uma enorme dificuldade de se manifestarem diante dos outros, de se exporem, exatamente pela idéia de que são inferiores e de que não são tão boas.

Segundo o psiquiatra espírita Sergio Lopes, entre as tantas razões para uma pessoa viver isoladamente, uma delas é certamente o sentido de que ela sinta-se diferente dos outros e de que não seja aceita. A baixa auto-estima está na origem das mais variadas patologias mentais que levam ao isolamento e à exclusão da convivência satisfatória.

Há exatamente 32 anos, uma verdadeira obra de arte do cinema intitulada "Um estranho no ninho", tratou com muita sensibilidade e honestidade intelectual os polêmicos temas da liberdade e da loucura no comportamento humano. Nesse filme oscarizado, interpretado pelo ator Jack Nicholson no papel de Randle Mcmurphy, um prisioneiro de 38 anos simula estar louco para não trabalhar numa penitenciária rural. É, então, transferido para uma instituição especializada em doentes mentais, o Oregon State Hospital, nos Estados Unidos.

Ao chegar à referida instituição é recebido pelo médico-chefe, Dr. John Spivey, que lhe explica as razões dele estar ali e, em seguida, é encaminhado ao pavilhão supervisionado pela autoritária e rigorosa enfermeira Mildred. Impassível, ela praticamente não mexe os músculos da face, não demonstra as suas emoções, não aparenta fraqueza. É profissional e sadicamente bem intencionada com suas maçantes sessões de terapia de grupo.

Nesse novo universo onde se vê permanentemente cercado de pessoas inseguras, ansiosas e constantemente dopadas, Mcmurphy estimula os internos a se revoltarem e a lutarem por um melhor tratamento. Numa reunião no escritório do Dr. Spivey, concordam que Mcmurphy é "perigoso" e possivelmente uma ameaça para a instituição, mas certamente não é um doente mental. A enfermeira Mildred, entretanto, é favorável a mantê-lo no hospital, não para ajudá-lo, mas pelo fato de estar determinada a dobrá-lo.

A confrontação entre Mcmurphy e a enfermeira Mildred, cada um lutando a seu modo pelo controle do grupo, permeia todo o filme. Mas ele não tem idéia do preço que irá pagar por desafiar uma clínica "especializada".

O colunista Fabiano Holanda do site link, inspirado no filme, comenta sobre a loucura: "A loucura pode ser encarada e concebida de diferentes formas no decorrer da história. Da mais alta valorização e respeito atribuído ao louco da antiguidade, sendo visto como a encarnação de manifestações divinas e demoníacas, à degradação e marginalização à qual o louco foi submetido nos asilos sujos de fezes e urina nos séculos seguintes, e aos eletrochoques há até bem pouco tempo atrás".

Ao desviarmos o olhar para Antonio Artraud, poeta, ator, roteirista e diretor do teatro francês, através da lente analítica de Claudio Willer - site link - percebemos que, ao assumirmos a visão de Artraud que foi internado como louco, marginalizado e incompreendido enquanto viveu, "distinguir entre categorias como normalidade e loucura, ou entre arte, sintoma e delírio, é uma falsa questão. É inevitável, ao discuti-lo, adotar a perspectiva e o tipo de epistemologia defendida por Michel Focault na parte final de "As palavras e as Coisas" e, a meu ver, de modo mais consistente pelo surrealismo. Consiste em pensar o delírio, tanto quanto o sonho e a criação poética, como meios de conhecimento. Assim como a linguagem científica abre campos de conhecimento, a linguagem não-instrumental, não-discursiva, abre outros campos de experiência do real. Entender o inconsciente como consciência não-discursiva ajuda a esclarecer a modernidade de Höderlin, Nerval, Corbiére, Germain Nouveau, Jarry e Artaud. Permitindo a intervenção do inconsciente rompem com o discursivo e com a sociedade: rompem com o discurso da sociedade. Fazem arte revolucionária pela radicalidade da rebelião individual e por sua crítica à realidade: por isso falo em torná-la como meio de conhecimento e não apenas como algo a ser interpretado, como objeto do paradigma clínico ou de uma teoria literária. A inserção consciente de Artraud na tradição da ruptura acentua o caráter universal de sua contribuição, por mais que esta se tenha manifestado de modo particular, irredutível, que não permite uma escola ou doutrina de seguidores, apesar da sua influência em tantos campos da modernidade: teatro, poesia, contracultura".

Na verdade, acredito que a grande maioria de nós tem um pouco do libertário Mcmurphy, da autoritária enfermeira Mildred e um pouquinho da lucidez de Artraud, características que apesar das diferenças nos tornam semelhantes.

É óbvio que o conceito de "loucura" evoluiu muito em 32 anos e reporto-me ao filme "Um estranho no ninho" como um ícone para que as necessárias mudanças no cenário das patologias mentais continuem acontecendo com o passar das próximas décadas. No entanto, sabemos que precisamos evoluir ainda muito mais para que se estabeleça uma metodologia de tratamento que contemple as várias tendências atuais de investigação do inconsciente humano.

Enquanto isso não acontece, lembremos novamente o psiquiatra Sergio Lopes ao referir-se em seu artigo "Lei de igualdade e saúde mental" como sendo "esse aparente paradoxo, da necessidade da diferença, e ao mesmo tempo de sermos essencialmente iguais, uma realidade inquestionável das leis divinas, ou seja, somos diferentes e iguais ao mesmo tempo. Nossas diferenças se refletem na aparência por características de individualidade. Quanto mais crescemos, mais nos diferenciamos. Nossas semelhanças partem da nossa realidade essencial. Apesar de únicos, somos iguais, uns e outros, feitos de uma mesma substância, fomos constituidos da matéria-prima do amor divino, o que nos faz semelhantes apesar das diferenças". E conclui: "O que nos engrandece na Lei da igualdade é que nosso destino último na evolução é a vocação para o amor, única fatalidade verdadeira a que todos nós um dia incrivelmente chegaremos".

Talvez seja esse ingrediente, o amor, que esteja faltando como componente principal na construção de uma metodologia terapêutica que contemple o indivíduo na sua totalidade, para que cada vez mais existam menos pessoas sentindo-se "estranhos no ninho", alienados e à margem do convívio social.

1° Curso de formação em Psicoterapia Interdimensional e Terapia Regressiva.

Psicanalista Clínico e Interdimensional

Texto revisado por: Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Flávio Bastos   
Flavio Bastos é criador intuitivo da Psicoterapia Interdimensional (PI) e psicanalista clínico. Outros cursos: Terapia Regressiva Evolutiva (TRE), Psicoterapia Reencarnacionista e Terapia de Regressão, Capacitação em Dependência Química, Hipnose e Auto-hipnose, e Dimensão Espiritual na Psicologia e Psicoterapia.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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