EU E MEU PAI SOMOS UM
Autor Christina Nunes
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 3/11/2006 7:28:27 PM
Há umas semanas atrás nasceu num dos meus canteiros uma plantinha que mais parecia mato. Não era resultado de nenhuma das minhas semeaduras, amante que sou das flores, surgindo, de um dia para o outro, sem mais nem menos, e se desenvolvendo com tal ímpeto que, quando me dei conta plena, já era um raminho robusto e cheio de folhas.
Fui aconselhada a remover, para não sufocar as que porventura se desenvolvessem das sementes ali plantadas; e já me via mesmo decidida a arrancá-la, mas as crianças protestaram. Por alguma razão se enamoraram da plantinha, e reclamavam, sempre que desconfiavam que eu me aproximava para executar meu obscuro intento de subtraí-la dali. E acabei cedendo aos seus chorosos rogos, não por faltar a certeza de tratar-se, certamente, de planta humilde, das que brotam facilmente em qualquer amontoado de terra - mas por ter me lembrado, estranhamente, do que fiquei sabendo acidentalmente há alguns anos atrás, a respeito da espontânea "telepatia" das plantas, sempre ultra-sensíveis, e capazes de identificar, instantaneamente, emitindo uma espécie de "zumbido" intimidado (e já captado por aparelhagem adequada) tanto aqueles que as cuidam, quanto os que delas se acercam, por assim dizer, "mal intencionados", como eu me achava no caso em questão, e reagindo diferenciadamente a cada indivíduo desses, em particular. Em outras palavras, fiquei sabendo que as plantas "sabem" quem as trata com carinho, e quem as ameaça, reagindo a cada qual de acordo com as respectivas intenções.
Por causa destas duas razões conjuntas, acabei não arrancando a plantinha. E agora, passadas semanas, qual não foi minha surpresa ao reparar que não se tratava, exatamente, de mato ordinário como eu calculava - mas de um tipo de arvorezinha anã, do meu desconhecimento, que desabrocha ao mesmo tempo, na ponta de cada um de seus vários ramos, várias florezinhas rosas minúsculas, lindas, graciosas - perfeitas, como toda a manifestação ostensiva e mágica do Criador!
Metade tomada por remorso e por satisfação a um só tempo, sempre que, agora, me aproximo todas as manhãs para regar com especial cuidado a arvorezinha, veio-me também, espontaneamente, através desta plantinha aparentemente grata aos meus cuidados e compaixão, a conscientização clara de como ela ilustra, à semelhança de nós mesmos, a unidade da Presença Divina em tudo que há no universo manifesto.
Nós também, antes de um maior despertamento da nossa consciência para os grandes propósitos da nossa vida, jazemos confinados num obscurecimento enganoso, que nos faz semelhar à plantinha desconhecida na fase inicial do seu desenvolvimento. Imersos no mecanicismo confinante das rotinas, na sucessão vertiginosa dos dias - acordar, alimentar-se, banhar-se, dirigir-se à pressa ao trabalho que nos garanta o sustento material, e na exausta volta para casa ao final do dia - tendemos, no início, a depreciar injustamente o sentido da nossa presença no mundo, e muita vez nos perguntamos, abatidos, qual seria a razão desta estafante repetitividade, à primeira vista destituída de lógica. Somente quando soa a hora em que principiamos a despertar, e alçamos nossa alma para as verdades maiores que orientam a nossa passagem pelo mundo - quando aprendemos, de forma mais consciente, que a jornada é infinda; que somos, em primeiro lugar, espíritos em aprendizado através de um sem número de vidas sucessivas e de dimensões que envolvem milhares de rotinas menores, mas não menos importantes para o nosso crescimento - nossas insuspeitadas flores finalmente brotam, e assumimos, em consciência, o nosso papel de co-criadores, únicos em perfil, e idênticos em essência com o Criador Maior que, a cada componente-aspecto de sua Obra, atribuiu exclusividade, e papel relevante no todo da paisagem universal.
Assim, afinal, entendemos que não importa quanto demore até que incorporemos ao nosso ser esta compreensão final, destinada a nos situar na plenitude da nossa importância no repertório vasto da Vida - assim como minha varanda era mais empobrecida na ausência das belas florezinhas minúsculas da surpreendente arvorezinha desconhecida, (e, a princípio, pela minha falta de visão, menosprezada nos primórdios do seu desenvolvimento) - assim, também, o todo da existência não seria o mesmo sem o colorido das flores exclusivas que brotam da nossa contribuição única ao cenário exuberante da vida.
É este, pois, e sempre foi, o verdadeiro significado da máxima outrora enunciada por Jesus, a ser expressada por cada um de nós honradamente, em pleno entendimento - e sem nenhum laivo ou especulação de arrogância - quando, enfim, encontra ressonância consciente, de forma gradativa, nas realizações do espírito humano:
"Em verdade, em verdade, vos digo que eu e Meu Pai somos Um, e o Mesmo"
Com amor
Lucilla e Caio Fábio Quinto
"Elysium"
https://www.elysium.com.br
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 15
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
