Eu morro por amor a você
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Autor Theresa Spyra
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 6/17/2008 10:03:56 AM
Talvez você se lembre do final do clássico Romeu e Julieta, de William Shakespeare: Julieta, obrigada a casar com alguém que não queria, toma uma poção que a transforma, aparentemente, em um cadáver. Neste momento, ela já se havia casado com Romeu, secretamente, mas ninguém das famílias rivais sabia disso. Romeu encontra a amada deitada por sob o jazigo, cercada de sombras e dor em um sepulcro que prenuncia a tragédia. Neste momento, encontra Paris, o novo pretendente a marido, duela e mata-o. É o instante em que encontra o corpo inerte de Julieta, jogado em seu leito de aparente morte. O veneno e o fim é a solução. Como viver sem aquela que fora a única razão da sua existência? Poucos instantes depois, Julieta desperta de seu torpor, e percebendo o corpo morto do marido que praticamente nunca o fora, toma de seu punhal e também se suicida.
A literatura é recheada por histórias de amores impossíveis e mortes trágicas. Tristão e Isolda, com idas, vindas, traições, casamentos não consumados, amantes trocados e morte no final é mais um desses exemplos. Podemos dizer que o morrer por amor está impregnado no inconsciente coletivo. Por que será?
Morte por amor ocorre em todas as famílias
O psicoterapeuta alemão Bert Hellinger, ao desenvolver a constelação familiar sistêmica, notou que é muito comum um membro de uma família morrer por amor... Não é o amor sexual dos contos românticos, como Romeu e Julieta, mas sim um amor muito maior, o amor que permeia o sistema familiar, que leva pessoas de gerações muitas vezes distante, a morrer em acidentes, suicídios, doenças fulminantes, assassinatos, em honra e amor a um membro do passado familiar que fora excluído. O sistema familiar está acima da vontade individual de cada um. Existem membros de uma família que nascem com tendência ao vício, como drogas ou álcool, e buscam a morte cedo. Biologicamente, normalmente nenhum animal busca a morte, e isto mostra que existe um motivo além da razão para que pessoas tomem atitudes que significam, praticamente, o suicídio. Principalmente nos casos de drogas ou álcool, é comum verificar que em gerações bem próximas, existe a ocorrência de várias pessoas viciadas. Este fato demonstra que estas pessoas estão buscando a morte por amor a algum membro do passado que foi excluído do sistema, não foi aceito, foi desprezado...
Este membro pode ser alguém que cometeu um crime, como assassinato, incesto, traição.... ou era alguém deficiente, que foi abandonado. Talvez alguém que praticou seguidos abortos. Apesar da sociedade, comumente, condenar esses tipos de atitude, quando somos membros da família que ocorreu tal fato, a condenação ou, o que também é comum, esconder os fatos, é extremamente prejudicial, porque a emoção de ser excluído pela própria família, de não ser aceito, é passada de geração em geração. Estas emoções se mostram em forma de tristeza sem causa, amargura perante a vida, vontade de morrer, busca de vícios, atitudes e estilo de vida inconseqüente, busca de parceiros agressivos ou insensíveis...
Bert Hellinger chama a esse “reviver exclusões do passado” de “emaranhamentos”. Ele explica: “Emaranhamento significa que alguém na família retoma e revive inconscientemente o destino de um familiar que viveu antes dele. Se, por exemplo, numa família, uma criança foi entregue para adoção, mesmo numa geração anterior, então um membro posterior dessa família se comporta como se ele mesmo tivesse sido entregue. Sem conhecer esse emaranhamento não poderá se livrar dele. A solução segue o caminho contrário: a pessoa que foi entregue para adoção entra novamente em jogo. É colocada, por exemplo, na constelação familiar. De repente, a pessoa que foi excluída da família passa a ser uma proteção para aquela que estava identificada com ela. Qundo essa pessoa volta a fazer parte do sistema familiar e é honrada, ela olha afetuosamente para os descendentes”. Estes tipos de emaranhamentos podem assumir proporções trágicas, a ponto de provocarem mortes em pessoas que nem tem conhecimento do seu sistema familiar, e portanto, não conseguem controlar seus atos. Hellinger continua: “Posso dar um exemplo bem terrível. Há algum tempo, um advogado veio a mim completamente perturbado. Ele tinha pesquisado em sua família e descobrira o seguinte: sua bisavó fora casada e estava grávida quando conheceu outro homem. Seu primeiro marido morrera no dia 31 de dezembro, com 27 anos, e existe a suspeita de que ele tenha sido assassinado. Mais tarde, essa mulher acabou por não dar a propriedade que herdara do marido ao primeiro filho, mas ao filho do segundo matrimônio. Isso foi uma grande injustiça. Desde então, três homens dessa família se suicidaram no dia 31 de dezembro, na idade de 27 anos. Quando o advogado soube disso, lembrou-se de um primo que acabara de completar 27 anos; e o dia 31 de dezembro se aproximava. Ele foi, então, até a casa dele para avisá-lo.
Este já havia comprado o revólver para se matar. Assim atuam os emaranhamentos. Posteriormente, esse mesmo advogado voltou a me procurar, em perigo eminente de se suicidar. Pedi-lhe que se encostasse numa parede, imaginasse o homem morto e dissesse: Eu o reverencio e você tem um lugar no meu coração. Vou falar abertamente sobre a injustiça que lhe fizeram para que tudo fique bem. Assim ele se livrou do seu estado de pânico.”
É, pelo que percebemos, os sistemas familiares permeiam a todos nós, e exercem influências, algumas benéficas, outras vezes, desagradáveis... Para o nosso sistema, não existe condenação. Simplesmente, as coisas que estão escondidas ou mal resolvidas devem ser vistas e aceitas. Se houve dor, engano, traição, isso deve ser visto, e os excluídos aceitos, bem como os que excluíram. Se excluirmos aqueles que excluíram, continuaremos perpetuando o “emaranhamento”, que se demonstrará, sem sombra de dúvida, em gerações posteriores.
Theresa Spyra
Consultora e facilitadora de Constelação Familiar Sistêmica
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Theresa Spyra é alemã, trainer e terapeuta com especialização em constelação sistêmica familiar, organizacional e estrutural. Estudou com a também alemã Mimansa Erika Farny, pioneira na introdução do método sistêmico de Bert Hellinger no Brasil, e aprofundou-se nos sistemas estruturais e organizacionais, com estudos no Brasil, Alemanha e Suíça E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |