EXEMPLO MÁXIMO DO ESPÍRITO STUM
Autor Paulo Godoy
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 4/16/2005 11:46:57 PM
Parece que vamos nos conhecendo, aprimorando-nos com a riqueza das mensagens desses novos contatos, tomando consciência da beleza da vida e, quando menos esperamos, acabamos nos dando conta de quanta gente é, realmente, GENTE!
O texto abaixo, de Leonardo Boff, é muito significativo pois apresenta, de forma muito bem colocada, um profeta: O "Profeta Gentileza".
Lembro com um misto de tristeza e pesar desse "Profeta Gentileza", muito conhecido na cidade do Rio de Janeiro e em outras partes do país pois sua história, de certa forma, foi muito triste e baseada em um fato traumático: o incêndio de um circo lotado de gente, em Niterói, onde morreram 400 pessoas na sua maioria, crianças.
Gentileza passou a ser um "pregador", a seu modo, e caminhava o dia inteiro pelo centro do Rio de Janeiro com uma bata branca, cheia de fitas, e um cajado muito comprido, às vezes com muitas mensagens penduradas. Cresci indo para o trabalho ora de carro, ora de ônibus, mas sempre vendo aquela figura imponente transitando por entre os carros, mostrando sua bíblia e as mensagens. Nunca tinha me dado conta do fato, até que li o artigo abaixo, o que me fez chorar.
Repito, o exemplo como descrito, nos dá a dimensão da imensa ternura e docilidade do Senhor Gentileza e, para mim e muitos de vocês, merecerá ser considerado um exemplo máximo do nosso "Espírito STUM".
O Profeta Gentileza
por Leonardo Boff
“Seguramente, muitos do Rio se lembram daquela figura singular de cabelos longos, barbas brancas, vestindo uma bata alvíssima com apliques cheios de mensagens, com um estandarte na mão com muitos dizeres em vermelho, que a partir dos inícios de 1970 até a sua morte em 1996 percorria toda a cidade, viajava nas barcas Rio-Niterói, entrava nos trens e ônibus para fazer a sua pregação.
A partir de 1980 encheu as 55 pilastras do viaduto do Caju, perto da Rodoviária, com inscrições em verde-amarelo propondo sua crítica do mundo e sua alternativa ao mal-estar de nossa civilização. Não era louco como parecia, mas um profeta da têmpera dos profetas bíblicos como Amós ou Oséias. Como todo profeta, sentiu, também ele, um chamamento divino que veio através de um acontecimento de grande densidade trágica: o incêndio do circo norte-americano em Niterói no dia 17 de dezembro de 1961, no qual foram calcinadas cerca de 400 pessoas.
Era um empresário de transporte de cargas em Guadalupe e sentiu-se chamado para ser o consolador das famílias destas vítimas. Deixou tudo para trás e tomou um de seus caminhões e colocou sobre ele duas pipas de cem litros de vinho e lá junto às barcas em Niterói distribuía-o em pequenos copos de plástico dizendo: “Quem quiser tomar vinho não precisa pagar nada, é só pedir por gentileza, é só dizer agradecido.”
De José da Trino - esse era seu nome - começou a se chamar José Agradecido ou Profeta Gentileza. Interpretou a queima do circo como uma metáfora da queima do mundo assim como está organizado como um circo pelo capeta-capital; que vende tudo, destrói tudo, destruindo a própria humanidade.
Segundo ele, devemos construir outro mundo a partir da Gentileza, o que ele fez em miniatura, transformando o local num belíssimo jardim, chamado Paraíso Gentileza. O quarto aplique de sua bata dizia: “Gentileza é o remédio de todos os males, amor e liberdade.” E fundamentava assim: “Deus-Pai é Gentileza que gera o Filho por Gentileza. Por isso, Gentileza gera Gentileza.” Ensinava com insistência: em lugar de “muito obrigado” devemos dizer “agradecido” e ao invés de “por favor” devemos usar “por gentileza” porque ninguém é obrigado a nada e devemos ser gentis uns para com os outros e relacionarmo-nos por amor e não por favor.
Não é exatamente isso que o Rio de Janeiro está precisando? Já dissemos que, junto com o princípio de Geometria, a Gentileza funda um princípio civilizatório, princípio descurado pela modernidade e hoje de extrema importância se quisermos humanizar as relações demasiadamente funcionais e marcadas pela violência.
A crítica da modernidade não é monopólio dos mestres do pensamento acadêmico como Freud com seu “O mal estar da civilização” ou “A Escola de Frankfurt” ou com Horkheimer com seu “O eclipse da razão” e com Habermas com o seu “Conhecimento e interesse” ou mesmo toda a produção filosófica do Heidegger tardio.
O Profeta Gentileza, representante do pensamento popular e cordial, chegou à mesma conclusão que aqueles mestres. Mas foi mais certeiro que eles ao propor a alternativa: a Gentileza como irradiação do cuidado e da ternura essencial. Esse paradigma tem mais chance de nos humanizar do que aquele que ardeu no circo de Niterói: o espírito de geometria, o saber como poder e o poder como dominação sobre os outros e a natureza."
Que Deus, em sua infinita bondade, faça isso tocar nossos corações e guardemos as mensagens do Profeta Gentileza como uma herança digna do melhor "Espírito STUM".
Paulo Godoy
Texto revisado por Cris
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