Existe transição paradigmática?
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Autor Fátima Cristina Vieira Perurena
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 9/26/2006 2:42:52 PM
Existe transição paradigmática?
As Ciências Sociais, mas especialmente a sociologia depois da queda do muro do Berlin, vem experenciando aquilo que se tem costumado chamar de “crise dos paradigmas”, e que a rigor se resumiria em uma pergunta: o paradigma cartesiano, instituído com a modernidade, e objetivado na teoria crítica clássica (leia-se marxismo), ainda responde por nossas perguntas? A resposta, dada pelas correntes auto-intituladas de pós-modernas, é clara e não deixa dúvidas: o cartesianismo acabou, e por via de conseqüência a modernidade. O que existe hoje é a pós-modernidade. Críticas a esta não faltam de todos os lados, mas especialmente daqueles que se reivindicam de valores iluministas. Para estes, a própria crise dos paradigmas está inserida na modernidade mesma.
Um dos epistemólogos contemporaneos mais respeitados dentro da sociologia, o português Boaventura de Sousa Santos, escapa um pouco da discussão comentada acima, e sugere o que ele chama de “transição paradigmática”. Assim, estaríamos vivendo no limbo, entre o esgotamento do paradigma cartesiano e o surgimento de outro ou de outros paradigmas, e que para ele seria o “paradigma de um conhecimento prudente para uma vida decente”. Se, de um lado, o cartesianismo não abre brechas para que se possam pensar estratégias emancipatórias genuínas à medida em que todas estão condenadas a transformar-se em estratégias regulatórias, de outro não temos bases, ainda, para avistar o paradigma proposto pelo Prof. Boaventura.
Aqui se propõe, como hipótese de trabalho alternativa àquela do sociólogo português, que não existe o que ele chama de “transição paradigmática”. Aceitar sua existência implica em aceitar a idéia de que tínhamos um paradigma e estamos fazendo o caminho entre este e outro que por certo virá. Acreditar que o próximo paradigma será o “bom” paradigma é esquecer que o “mau” está contido no “bom” e, conseqüentemente, repetir erros do passado. A verdadeira transição é esta que se dá no dia a dia, assim a crise que vemos hoje é a crise que nossos antepassados viram ontem e nossos filhos verão amanhã – cada qual com os olhos do seu momento histórico. Se hoje ela nos parece tão intensa que percebemos uma transição – o que significa um corte – é porque nossos olhos “querem”, porque nossas melhores utopias nos informam neste sentido. O embate entre os diversos saberes é que se escancara à nossa frente colocando em xeque nossas melhores teorias e, ainda assim, temos de conviver com elas, aprimorá-las e assim por diante. São elas que nos permitem, através de suas lentes, esclarecer a opacidade do real.
Se se concorda com os espaços multiculturais e a idéia de uma ciência multicultural, há que se perguntar: por que não aceitar os diversos saberes (por que não dizer paradigmas?) que nos rodeiam – cada qual com sua peculiaridade e diversidade de pensamento, inclusive do próprio senso comum. Ao incorporarmos o senso comum às nossas melhores teorias, estamos abolindo o conceito de ciência, e, finalmente, entendendo-a como um processo humanizador.
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