Felicidade e Ciências Sociais
Autor Fátima Cristina Vieira Perurena
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 9/26/2006 2:44:51 PM
Felicidade e Ciências Sociais
Pedro Demo, em livro recente, aventurou-se por um tema que não costuma fazer parte da preocupação de cientistas sociais em geral – a felicidade. E deixa claro seu objetivo: “...testar até que ponto a pesquisa científica poderia dedicar-se à intimidade subjetiva das pessoas, sem perder sua verve teórica ou reduzir-se a ativismos da auto-ajuda”(Dialética da Felicidade, p.9).
Não é meu propósito abordar o tema sob a perspectiva do autor referido, que, de resto, trata de forma brilhante o assunto. O que me proponho, neste curto espaço, é pensar brevemente sobre a influência e o peso que o social tem sobre nossas vidas, e, até aqui, nenhuma novidade, isto já tão fartamente pensado, desde os clássicos até os mais contemporâneos. Portanto, somente ratifico o que tantos já afirmaram - do quanto nossa vidas são construídas em relações sociais, apenas com o detalhe de agregar o seguinte: e, conseqüentemente, a felicidade de todos nós.
Muitos não se dão conta do quanto a felicidade que tanto buscam simplesmente não pode existir porque sucumbiram à sociedade, aqui entendida, naturalmente, como a sociedade civil, não o high society. E nem estou falando das subestruturas que nos “marcam” desde o nascimento - classe, etnia e gênero, mas simplesmente do quanto muitos (talvez seja impossível falar em estatísticas) aceitam as normas impostas como se lhes fossem leis. E aqui fica uma pergunta: o que leva a que alguns aceitem as normas passivamente e outros decidam pagar o preço pela afronta ao estabelecido?
A resposta não pode ser dada em caráter definitivo, apenas em nível de especulação, e se insere naquela corrente dos que acreditam que somos bem mais do que seres racionais dotados de inteligência e raciocínio lógicos. Além destas características, há os que acreditam, como Platão (entre tantos, segundo leitura de James Hillman), que trazemos um destino a cumprir, e, que, naturalmente se “mistura” com as subestruturas já mencionadas, ou seja, com o social. Onde começa um e termina o outro, eis a questão. De qualquer forma, só os padres em confessionário, os sociólogos através de pesquisas e os terapeutas em consultório sabem de maneira mais contundente o quanto as normas sociais impostas aos seres humanos se lhes influencia no comportamento. Evidentemente que precisamos ter em mente as circunstâncias históricas em que cada um vive. Nas décadas de 40-50, por exemplo, é bem possível que muitas mulheres tenham “comprado” a idéia de que sexo era feio, e tivemos várias gerações infelizes do ponto de vista do desenvolvimento de sua sexualidade (tema sobejamente trabalhado sob a ótica da antropologia)... e, por que, não dizer, felicidade? Hoje se ouve falar que as meninas estão muito liberais...o que, então, seria impedimento para a dita felicidade?
Há momentos em que a ciência, ou a teoria, como queira, não nos responde, ou não nos responde adequadamente. Só o senso comum, ou os chamados de metafísicos (de forma sarcástica) ousam porque a eles não lhes é dada a obrigação da prova. Assim, resta-nos o caminho do meio desejado entre o que trazemos e o que encontramos, o caminho para a felicidade.
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