FENÔMENO PSICOSSOMÁTICO DA FÉ
Autor João Carvalho Neto
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 3/5/2006 12:39:59 PM
Com o objetivo de fundamentarmos nossa proposta de trabalho, iniciamos apresentando o conceito de Psicossomática como uma parte da medicina que considera o doente como um todo, estudando simultaneamente os aspectos físicos e psíquicos. O termo provém dos vocábulos gregos "psykê" = alma e "soma" = corpo, que a princípio parecem estabelecer uma simples relação entre corpo e mente, mas que, na verdade, apoia-se na noção de solidariedade unitária de todas as funções do organismo.
Apesar da abordagem da Psicossomática como disciplina acadêmica ser uma realidade mais recente, ela já era uma tendência encontrada na obra dos clínicos e dos pensadores antigos. A medicina européia tratou do problema desde o início do século e, mesmo antes, Pavlov deu grande importância à relação entre os fenômenos psíquicos e os puramente somáticos.
Contudo, o movimento organizado no sentido de uma Psicossomática em oposição ao exame excessivamente especializado das doenças, que levava a um mecanicismo extremo, surgiu nos Estados Unidos na década de 1920. Mencionou-se, então, o perigo de ser estudado isoladamente cada órgão do doente, sem se considerar o indivíduo em conjunto. Passou-se a atribuir grande importância à vida subjetiva do doente e ao seu condicionamento psicológico e social. Também os reflexos das perturbações psicológicas sobre o corpo, que determinam verdadeiras afecções somáticas, passaram a constituir motivo de preocupação.
A partir desta concepção aplicou-se a psicoterapia a diversas doenças até então consideradas puramente somáticas, visando a reeducação e reintegração do enfermo. Os conhecimentos oriundos das descobertas de Daniel Goleman sobre a Inteligência Emocional e, posteriormente, de Joseph LeDoux sobre o Cérebro Emocional, trouxeram grande contribuição sobre a compreensão de uma vivência emocional saudável. A idéia de se legitimar as emoções como forma de alcançar o equilíbrio de suas influências, defendida por estes dois autores, vai ao encontro do princípio da catarse pretendido pela técnica psicanalítica que faz justamente tornar consciente as pulsões inconscientes que atuam no psiquismo.
Dentro da Psicossomática vamos encontrar como seu principal objeto de estudo o Fenômeno Psicossomático que são as modificações causadas no corpo por agentes psíquicos de origem neurótica ou não. Essas modificações são da ordem do real, produzindo marcas passíveis de mensuração no corpo do somatizante. Essas marcas representam o roteiro a ser lido pelo terapeuta, indicando os significantes implicados na eclosão do fenômeno psicossomático.
Entretanto, faz-se necessário estabelecer a diferenciação entre o Fenômeno Psicossomático e a Neurose de Conversão, chamada de Histeria por Freud. Esta é um trauma psíquico que corresponde às reminiscências de um incidente causal que não sofreu descarga. O corpo faz, então, a representação deste recalque como uma mensagem ignorada pelo sujeito, cheia de valor metafórico. Por isso, na Neurose de Conversão o sintoma é simbólico, sem que haja lesão ou, quando ocorra alguma, esta é de ordem secundária.
Voltando à Psicossomática e ao Fenômeno Psicossomático vamos levantar a questão de que este fenômeno não se dá necessariamente como um processo patológico. Pode também ser fruto de um significante positivo que imponha características saudáveis ao corpo do sujeito. Seria o que se observa nos fenômenos da fé, quando um estado mental positivo, pleno de confiança e de emoções otimistas, favorece a harmonização das funções orgânicas, restabelecendo a saúde. Curas tidas como impossíveis, dentro dos parâmetros da medicina atual, operam-se sem explicação aparente para o fato. É possível que o significante implicado na sustentação do paciente psicossomático ainda continue a existir mas, como um outro significante a ele se opôs, talvez com uma pulsão que lhe é superior, a cura ou a melhora se realizam. Este outro significante é a fé.
E esta fé não deve ser entendida apenas como a fé religiosa. Pode ser também a fé na eficiência de um determinado médico ou no apoio de pessoas amigas que compartilham o problema com o enfermo. Os chamados grupos de ajuda funcionam nestas bases, como encorajadores da confiança que sustenta a prontidão para a cura. A questão da afetividade na relação entre paciente e médico, apesar de ser um aspecto da Psicologia Médica, também envolve um fenômeno psicossomático que produz conseqüências positivas sobre o estado deste paciente.
Em todas as situações existe um elemento real ou simbólico que é sentido como algo ou alguém capaz de curar, gerando um fenômeno psicossomático para a saúde.
Pesquisas recentes têm demonstrado a veracidade desta colocação, inclusive demonstrando efeitos da oração na melhoria do enfermo. Sem entrarmos na propriedade de uma possível intervenção de forças espirituais, o que é outro aspecto dessa realidade, certamente que algo se modifica no paciente que se deixa levar pela fé, tornando-o um sujeito psicossomático para a saúde, se assim nos podemos expressar.
Certamente que muito ainda há que se estudar nesta área tão recente do conhecimento humano. Contudo, as observações imediatas apontam no sentido de amplas possibilidades para uma melhor condição de vida para a humanidade.
João Carvalho Neto
Psicanalista, autor do livro “Psicanálise da alma”
www.joaocarvalho.com.br
Texto revisado por Cris
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Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal" E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
