FILHOS ESTRAGADOS
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Autor Paula Sousa
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 12/13/2017 11:05:47 AM
Quando uma criança chega ao mundo, ele já foi estabelecido há tempos. Todos babam de alegria sobre qualquer bebezinho mas somente os pais babam pela criança mais crescidinha. É preciso ter noção dessa força que gera embasbacamento, tendo a decência de perceber que as outras pessoas não acham o seu filho um avatar da humanidade, tendo eles, tampouco, a obrigação de aturá-la. Essa obrigação compete só aos pais.
Sobre tal obrigação, as constelações familiares apontam para o princípio da ordem: os que vem antes, tem primazia sobre os que vem depois. Privilégio? Não, porque ter primazia significa ter maior responsabilidade para criar e para cuidar. É apenas uma sequência da dinâmica de responsabilidades pois a vida tem um fluxo e, quem é recém-chegado agora, sendo o último da fila, logo terá a responsabilidade por aqueles que virão depois. Nesse sentido, dizemos que existem os grandes e os pequenos. Os grandes se responsabilizam pelos pequenos e os pequenos seguem os grandes.
Na família, pai e mãe são grandes. Dentre esses, o pai é o grande dos grandes. O segundo grande é a mãe. Isso não é um estado, é uma conquista, tem a ver com a integração pessoal e com o fato de ambos carregarem os princípios masculino e feminino.
Mas o pai, predominantemente masculino, quando rejeita ou não ocupa a função adequadamente, gera problemas enormes. Ou seja, sobre as costas dele, pesam as consequências daquilo que não fez direito. Não sei se é tão bom ser o grande dos grandes, como pareceria, a princípio; mas não há escapatória disto por causa do lugar posicional dentro da estrutura familiar, que requer uma ordenação de funções. Assim, o pai precisa buscar a força na ancestralidade para conseguir realizar bem essa tarefa.
Esse raciocínio vale também para para o segundo grande, que é a mãe, que ocupa um lugar bem complicado, cheio de força mas que não se sustenta sozinho. Ela conta com a força de proteção e de apoio do masculino. As tendências do feminino são: 1- adequar as pessoas a partir formato do ambiente doméstico. Mas o mundo não tem a configuração da casa e é muito mais exigente. Então, caberia ao masculino apontar (para ela e para a prole) a realidade de que o mundo não terá a mesma apreciação embasbacada que ela e o pai tem da criança; 2- Na ausência de um parceiro/pai da prole ou na presença de um masculino “banana”, visto ela também possuir o elemento masculino, ela vai tentar chamar para si essa função e responsabilidade que seria do pai. No entanto, vai conseguir apenas fazer um remendo meio mal feito.
Por último (por último mesmo!), temos aquele que deve ser o pequeno dos pequenos, o que tem menos importância decisória na estrutura sistêmica. É o soldado raso, que deve fazer o que os comandantes da casa, com amor, orientam. É bom salientar que eles mais orientam do que aconselham pois, afinal, nessa casa e família, “tem gerência”.
Quando a união do casal está fraturada, o filho é interposto entre os parceiros, ficando em um lugar de importância que não lhe pertence e gerando uma disfuncionalidade sistêmica na qual o pequeno dos pequenos se sente maior do que os comandantes (que abdicaram do posto). Fica com sentimento onipotente, contudo delirante, pois, apesar de se sentir com poder, ele não tem poder vital algum. Pode até ter algum poder dentro da casa, mas fora dali, onde o mundo não se pauta pelo embasbacamento doméstico, ele será esfolado, ralado, cuspido, batido, boicotado, agredido e excluído.
A pura realidade é que os filhos dos outros enchem o saco e dentro do nosso terreno, onde não existe esse tipo de afeição parental, quem canta de galo somos nós mesmos. É uma lástima assistir, todos os dias, vários pequenos se comportarem arrongantemente, mal-educadamente, gritarem com a mãe e o pai, darem escândalos públicos nas fuças de grandes que, passivos, perplexos e condescendentes, proporcionam esse show de horrores. É um quadro dantesco que comunica a incapacidade tanto do pai como da mãe. Se você presencia isso, quem mais lhe desperta inconformidade: a criança ou os pais?
Podemos afirmar, com pouca chance de errar que, por detrás daquela cena constrangedora de restaurante, shopping center ou qualquer lugar público, existe um pai panaca que deveria ser grande, um homem que não liga nem pra mulher e nem pro filho e provavelmente só cumpre a tabela do relógio da prescrição pedagógica de que deve “passar tempo como a família”; e que, no minuto derradeiro, corre de volta pro seu mundinho particular. Se ele realmente se importasse, se incomodaria com a cena e teria uma ação.
O mundo prático real impõe tomadas de decisão que, pelo caráter imediato, não carecem de teorias, nem pedagógicas nem psicológicas, porque decidir no calor do fogo é tecer tramas compostas pela realidade e pela verdade do coração. O coração sabe do que é preciso: se o coração do pai não está voltado nem para a mulher e para o filho, abre-se a clareira para o surgimento de uma criança despótica, tirânica e mal-educada. A verdade é: quem quer agradar demais o filho, passa vergonha. Outra verdade é: homens bons maridos e bons pais são artigos que estão em falta atualmente no mercado.
Os filhos pequenos não tem a capacidade nem de serem “sacados”, “gênios”, avant-gardes” porque são seres sem dotações que carecem de adultos realistas para os formarem. Se os pais recompensam tudo o que o filho faz, o deixam paralisado na mediocridade. Uma garatuja do filho está muito longe de ser uma obra de Salvador Dali. Fico perplexo com a babação-de-ovo de pais que supervalorizam ações banais dos filhos.
Uma outra coisa, referente ao convívio social, precisa ser lembrada: se os pais perceberem que o filho incomoda as pessoas, por exemplo, da mesa ao lado, em um restaurante, eles é que devem ter a responsabilidade de se levantarem e administrarem aquela situação - ao invés de assumirem a postura de que “os incomodados é que devem se mudar”. Estando presentes o pai e a mãe, a iniciativa deve partir do pai. Ainda vai chegar o dia que os sábios dirão a esses pais inválidos que eles não estão prontos para o convívio social. Assim já é na Europa (e olha que criança lá é artigo raro). Não é muito raro o próprio gerente do restaurante pedir para pessoas assim sairem porque estão incomodando os demais clientes. Mas aqui ainda é essa várzea! Se não pode cuidar dos filhos, não os tenha.
Não me interpretem mal: estou apontando os extremos. Tudo o que é demais, estraga. Quero enfatizar que tais pequenos começam a viver dentro de uma ficção doméstica na qual eles são poderosos e importantes sem terem a noção de isso tem valor apenas para os seus pais e ali. O mundo exterior é uma máquina de moer carne humana. Nela, eles não tem poder algum e estão psicologicamente impedidos por habitarem dentro de um factoide sem relação com o mundo real. Pelo contrário, o palco da vida não tem nada a ver com quão alto se grita pros pais a respeito de qual sabor de iogurte se quer comer.
A verdadeira capacidade não é medida pela arrogância. A capacidade tem a ver com o quanto se consegue transigir com o poder real do mundo externo e conseguir realizar algo de útil nele. Esta geração arrogante acha que não precisa aprender de ninguém: é curta de conhecimento, é cheia de papo e arroga ter bastante iniciativa enquanto que, na real, lhes falta a "acabativa", que é ligada ao poder da tenacidade e é uma construção familiar.
Infelizmente os pais estão muito confusos com teorias sobre criação de filhos. É preciso usar mais de autoridade e dar menos autonomia. É como afirma aquela piada: é preciso usar menos Piaget e mais Pinochet. A autonomia é uma conquista pessoal que não pode ser dada a quem ainda não amadureceu. Dar autonomia a um imaturo é dar combustível para ele ser um tirano prepotente que vai acabar com os outros ou consigo próprio.
Confusos também são os grandes que, internamente, são pequenos. Esse é é o caso daqueles que querem realizar a própria infância frustrada na dos filhos. É comum, infelizmente, eu ouvir os pais dizerem: “vou dar para eles tudo o que eu não tive”. Primeiro, se os pais não conseguiram superar a experiência de privações infantis, eles ainda estão sob o poder delas e se relacionam com o mundo como se fossem crianças feridas que ainda não conseguiram crescer e que percebem a infância que teria sido boa para eles, a partir de lentes de idealização fantasiosa. Segundo, a satisfação nunca foi garantia de amadurecimento e sucesso pessoal. Terceiro, sempre haverá uma zona muito vasta de insatisfação pessoal, sendo isso inerente ao estar vivo. Quarto, a insatisfação empurra o sujeito para frente, ajuda ele a buscar realização e querer deixar um legado positivo de conquistas que são reais – ao invés de colecionar ressentimentos com a vida.
Os filhos dos pais que ainda não integraram tais verdades são crianças sem capacidade de transigir com o mundo e sem qualquer poder real construtivo. Não é a toa que a maior questão da geração atual é a sensação de vazio, de incapacidade de realização e de inutilidade. Como isto é possível em um contexto onde os “pais querem dar tudo o que não tiveram” para os filhos? O fracasso dos filhos é o fracasso dos pais. Como isso é possível em um contexto cheio de teorias sobre criação de filhos? É que muitas teorias não passam de teorias que carecem de profundas revisões.
As constelações familiares levam em conta a ordem dos sistemas. Uma constelação serve para alinhar energeticamente um sistema no qual os pais serão pais e os filhos serão filhos.
Não raro, recebo pais querendo constelar os problemas comportamentais de filhos e, daí, o campo mostra que tais ajustes da ordem devem ser feitos.
É muito gostoso ver que, alguma mágica acontece depois disso: o pai se apropria do seu lugar e ganha energia para crescer e ser um adulto que apresenta a essência do mundo ao filho, a mãe se torna capaz de amar de verdade, até mesmo contrariando a arrogância doméstica do filho e o filho, automaticamente muda de comportamento, possibilitando que a paz comece a reinar na casa.
[Autor do texto: Miguel Mello – doutor, psicólogo, constelador, escritor]
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