FRUTOS DA IMAGINAÇÃO
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Autor Christina Nunes
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 5/23/2006 9:20:50 AM
Esta semana, revendo o excelente O Mistério da Libélula, filme de tocante sensibilidade e de cunho espiritualista, com o ator Kevin Costner, atentei novamente para a pérola proferida por uma das personagens - uma Irmã de Caridade que, na história, é estudiosa dos fenômenos de quase morte - quando o personagem de Costner questiona dela se seria possível que as visões das crianças do departamento de oncologia de um hospital, que tinham passado pela curiosa vivência de saída e retorno ao corpo, fossem, simplesmente, frutos da imaginação.
Ela responde que toda a vida que nos circunda é, de certa forma, um fruto da nossa imaginação. Acrescenta: "se você é um médico hoje, não será porque, em algum momento, imaginou que o seria - e o fato de ser médico não é a materialização do que antes era apenas um fruto da imaginação?"
E, com grande lucidez, arremata que tudo o que realizamos nada mais é que um fruto da imaginação. E que se podemos, a partir disso, idealizar a nossa vida naquilo que nos toca aqui, de maneira mais imediata, certamente a regra também funcionará para o que nos aguarda para além deste mundo material, num grau de consciência diferenciado, dentre os muitos que existem para além da nossa percepção.
Ela diz ainda ao personagem de Costner - um médico angustiado com a morte recente e prematura da mulher grávida, de quem julga estar recebendo sinais de comunicação do outro lado da vida: "Pergunte a qualquer anestesista; há uma infinidade de graus de consciência, onde gradativamente mergulhamos. É uma escala. O anestesista nada mais faz que dosar isso. Todo anestesista sabe..."
É por isso e por outras muitas coisas que amo a arte cinematográfica; mais ainda quando se torna veículo deste tipo de informação vital para o crescimento interior das pessoas. O filme, neste caso, deixa de ser mero entretenimento; torna-se a um só tempo deleite e portal para as dimensões mais sublimes da vida, descerrando aos que se acham atentos todo um novo universo de informações vitais, embora sutis, que nos passam desapercebidas de dentro do atordoamento da passagem frenética das horas, nas atividades rotineiras do cotidiano.
A informação transmitida pela mensagem desta personagem é soberana na realidade da vida.
Fruto da imaginação - o que é? O termo costuma ser usado para designar uma coisa ilusória, que, a priori, só encontra substância no mundo íntimo de quem o concebe. E é aí que começa o engano.
Um prédio é projetado antes de tomar corpo e envergadura, tijolo por tijolo; mas até que isto aconteça, com a cooperação de dezenas de profissionais, primeiro repousou, incógnito, na imaginação do arquiteto.
Livros são compilados, preliminarmente, na mente do escritor, até que passem, finalmente, ao papel ou ao arquivo de computador, e um longo trajeto é percorrido até que este fruto da imaginação do autor tome a forma da obra literária pronta, à venda nas livrarias. O mesmo processo se dá com a música, e com todo o espectro criativo das artes.
Mesmo nas brincadeiras das crianças, no seu universo lúdico, observamos com facilidade o processo - como poeticamente mencionado na música de Chico Buarque: "Agora eu era o herói/e o meu cavalo só falava inglês/a noiva do cowboy/era você além das outras três/eu enfrentava os batalhões/os aviões e seus canhões..." E podemos acreditar que, de fato, naquele momento o menino será o herói e a menina a noiva do cowboy - eles "materializam" esta realidade: esta toma forma e substância verídica, pelo menos durante o momento em que perdura aquela brincadeira. Trata-se do ensaio importantíssimo, nos verdes anos, que haverá de conduzir o adulto saudável à consumação dos seus objetivos - daquilo que, anos antes, fora muitas vezes simples fruto da sua imaginação, ou considerado mero devaneio ou brincadeira.
A simpática personagem do filme explica que é assim, por intermédio desta crença temperada com fé, que nascem as realidades - as daqui e as próximas, a nos aguardarem no vasto porvir, para além das ilusórias portas materiais. Porque esta capacidade é inerente aos seres, para muito além daquilo que é possível conceber por intermédio da tacanha medição terrena.
Ora, se esta poderosa capacidade nos leva a construir mundos em torno de nós, aqui, porque não mais além, e dispondo de recursos íntimos mais libertos, e de um cabedal de conhecimento da vida mais vasto, desvelado, transcendente dos tolhimentos aos quais estamos sujeitos enquanto reencarnados?! A experiência de quase-morte se dá quando colocamos um pé na soleira deste universo mais amplo. Momentaneamente vamos e voltamos - e, eventualmente, nos lembramos, para depois contar por aqui o que vimos por lá.
Algumas vezes recebi textos psicografados dos amigos da espiritualidade com informações existentes também em outras fontes da literatura espiritualista disponível hoje em dia, a respeito de mundos cambiantes, para fora da esfera corpórea: lugares onde a força do pensamento é utilizada livremente por populações já por completo cônscias da grande responsabilidade inerente a ver seus sonhos materializados na mesma hora em que os concebem; mundos onde a criação se manifesta simultânea à concepção de uma idéia. Locais feéricos em luz, cor e movimento; algo quase inconcebível para a capacidade intelectiva do nosso momento de reencarnados. Paragens outras, ainda, onde este atributo é exaustivamente treinado naqueles que já se acham prontos para a dádiva; treina-se de tudo: desde a materialização de uma flor até à de um objeto - o que nos elucida, magnificamente, os fenômenos de materialização tão mencionados nos postulados espíritas. Dimensões da existência tomadas pelo espetáculo inigualável de miríades de co-criadores renovando incessantemente panoramas, formas e energias para o engrandecimento do Universo. O mais esplendoroso cenário, onde frutos da imaginação sem paralelos vêm à luz; borbulham, infindos, em realidade sincrônica à capacidade evolutiva de povos que se fazem por merecer dispor desta ferramenta poderosa de enriquecimento da Vida!
Tome cuidado com o que deseja, pois você corre o risco de que se realize, já nos aconselha, de há muito, o sugestivo adágio, que é mais do que um adágio, contudo. É expressão plena de uma Verdade maior a nos aguardar num prazo mais ou menos longo, tão logo nos façamos merecedores de executar em conjunto a sinfonia da Criação - mas sintonizados, definitivamente, na freqüência divina do amor, visando apenas a perpetuação excelsa do bem e do belo em todos os mundos, e para todos os seres.
Com amor,
Lucilla & Caio Fábio Quinto
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Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |