Gênero, Cultura e Doença
Atualizado dia 26/09/2006 14:48:59 em Autoconhecimentopor Fátima Cristina Vieira Perurena
Simone de Beauvoir já dizia, em relação às mulheres mas que certamente serve também para os homens, que uma mulher não nasce mulher, ela se torna mulher, apontando para os papéis sociais nos quais uns e outras são treinados desde o nascimento. Há que se chamar atenção, entretanto, para o peso que o essencialismo biológico sempre teve em nossas representações de mundo (aqui incluído o conceito de ciência) que, ao apontar para as diferenças físico-biológicas como construtoras de identidade, construiu, e constrói, apenas desigualdade social.
Nesse sentido, um preço muito alto que todos, homens e mulheres, pagam acaba aparecendo nas suas peles e corpo físico mesmo, ou seja, o que é origem e fruto da cultura termina por minar a própria qualidade de vida individual. Entre outros motivos e longe de querer esgotar a questão, apenas como hipótese de trabalho, aponta-se para o seguinte dado: nós, mulheres, e os homens, somos treinados para exercermos papéis distintos; as primeiras para o vínculo, para o cuidado, para o privado, enfim, para os relacionamentos com vistas a agradar ao outro, especialmente aos homens em geral, a partir do pai. Os homens, muito mais exercitados e, portanto, voltados para os vínculos extra-lar. Aquelas para o mundo da emoção, estes para o mundo da razão, do mercado, do público.
Como resultado de tamanha dicotomia do que acontece na prática, estão mulheres, de um lado, tentando resolver suas carências no sentido de que, embora tenham feito algum investimento em sua vida profissional, foi nas relações emocionais que jogaram todos os seus dados. Os homens, por sua parte, tendo apostado muito mais fortemente no profissional, diante de uma sociedade globalizada vêem-se diariamente na iminência de perderem aquilo que os qualifica como machos diante das mulheres, ainda – a manutenção econômica dos gastos familiares. Como resultado disto tudo apenas o aumento de trabalho para psicanalistas, psicólogos e todo tipo de terapeuta, para não falar dos adoecimentos mais físicos.
Muito há que ser feito para que uns e outros, homens e mulheres, dêem-se conta de que esta estrutura de relações de gênero posta da forma como está apenas causa problemas de toda ordem e, no limite, graves problemas de saúde, entre os quais depressão, ansiedade, síndrome de pânico e assim por diante. Quem disse que construtos sociais não são causadores de doenças?
Texto revisado por Cris
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