Halloween - Você sabe o que é isto??
Atualizado dia 25/10/2006 13:01:33 em Autoconhecimentopor FEMININO ESSENCIAL - Patricia Fox
Costumo dizer em meus cursos e palestras que por trás da linguagem dos homens ouve-se a voz dos deuses. Do mesmo modo, muitas práticas e costumes de nossas sociedades podem revelar – se soubermos procurar – conceitos interessantes de espiritualidades ancestrais. Tal é o caso do Hallowe’en – conhecido em português como Dia das Bruxas.
Em primeiro lugar, o que significa a palavra Hallowe’en? Ela é o resultado da contração de três palavras em inglês: All Hallows’ Evening, ou seja, a véspera de Todos os Santos, uma data (1º de novembro) criada pela igreja cristã para honrar todos os santos. O mesmo calendário cristão tem no dia seguinte – 2 de novembro – o Dia dos Mortos ou Dia de Finados, criado nos primeiros séculos do cristianismo para honrar e homenagear nossos ancestrais já falecidos. Originalmente celebrado em meados de março, o dia dos Mortos foi posteriormente transferido pela igreja para a atual data. Contudo, por trás dessas datas cristãs existe uma rica história que nos remete ao passado, mais precisamente à época dos celtas, esse fascinante e importante povo que viveu por todo o continente europeu e deixa até hoje um importante legado cultural e espiritual para o ocidente.
Origens Celtas
Uma das mais marcantes características da espiritualidade celta – também conhecida como druidismo – é a sua conexão com a Natureza. Para os celtas, tudo no universo é vivo e, portanto, sagrado. Animais, árvores, ventos, a chuva, os rios e lagos, as montanhas – tudo possui dentro de si uma energia vital, uma alma, que interage com as demais criaturas num balé de celebração da vida.
A compreensão prática dos ciclos sazonais, fundamental para uma sociedade dedicada à agricultura e à criação de animais como a celta, levou ao desenvolvimento de uma filosofia para a qual todos os estágios dessa ciclicidade têm igual importância: primavera, verão, outono e inverno são respectivamente os períodos de nascimento, apogeu, declínio e morte. O mesmo padrão pode ser encontrado num dia – aurora, meio-dia, poente e noite – e em nossas próprias vidas bem como na de todas as criaturas.
No Hemisfério Norte, onde as estações são invertidas com relação às nossas no Sul, o mês de novembro marca a aproximação do inverno, um período em que a paisagem temperada da Europa mostra um recolhimento das forças vitais – árvores que desfolham, animais que migram ou hibernam, solo que não produz. Para os celtas, isso não é negativo: o inverno – tal qual a noite - é o período de repouso, de recolhimento, de introspecção.
Essa introspecção punha os indivíduos em contato com suas origens, com sua família, com sua comunidade, através do fortalecimento dos laços de amizade e parentesco, e isso era marcado por uma celebração que até hoje dá nome ao mês de novembro no idioma irlandês: Samhain. Nessa data, os celtas entravam em contato com seus ancestrais mortos e com os deuses, pedindo-lhes inspiração e proteção para suportar os desafios trazidos pelos gelados frios do inverno, e isso era feito numa bela celebração em que os laços familiares e comunitários eram estreitados em honra aos ancestrais comuns e aos deuses e deusas da natureza.
Com a cristianização da Europa a espiritualidade celta entrou em declínio suplantada pela nova religião. A perseguição imposta pela igreja levou os seguidores da ancestral religião celta a serem vistos como contrários ao cristianismo, bruxos – daí a denominação em português de Dia das Bruxas.
Sobrevivência
Contudo, tamanha é a força e o apelo da vigorosa espiritualidade celta que seus temas foram preservados, ainda que distorcidos, nas práticas cristãs. Assim, diante do apego da população do oeste europeu em honrar seus mortos naquela data, a igreja se viu obrigada a adotá-la e adequá-la ao seu calendário, originando o dia de Finados cristão. E como na mesma data os celtas também entravam em comunhão com seus deuses e deusas, o cristianismo trouxe para praticamente a mesma data o seu Dia de Todos os Santos (muitos santos e santas cristãos na verdade são adaptações de deuses e deusas ancestrais, como Sta. Brígida, por exemplo – originalmente a poderosa deusa celta Brighid).
Como se vê, o Hallowe’en é muito mais do que fantasias e brincadeiras para crianças; a compreensão da dimensão sagrada do Hallowe’en – desde sua origem celta passando pela influência cristã – nos inspira a nos conectarmos às nossas origens - honrando nossos ancestrais - e também a divinizarmos nossas vidas, através do contato com o mundo sagrado de deuses e santos.
Claudio Quintino (Crow) é autor de “O Livro da Mitologia Celta” e “A Religião da Grande Deusa”. Não perca o novo curso de Claudio Crow Quintino - "O CAMINHO DO MITO PESSOAL".
Texto revisado por Cris
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