Krishna - Artigo III
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Autor Erick Schulz
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 6/11/2008 7:16:13 PM
Voltando a ambas, lhes disse: (primeiro olhando para Saraswati): -Teus lábios têm o perfume do âmbar e de todas as flores.....
(olhando para Nichdali) comentou: -Tuas pálpebras velam profundos olhos e sabes sondar tua própria alma. As amo incondicionalmente, não amarei somente um ser nunca.... Somente amarei com amor eterno.... e complementou seu raciocínio dizendo assim: Para Eu amar um só ser, seria necessário que a luz se extinguisse do dia, que um raio caísse em meu coração e que uma alma se lançasse fora do céu.
E assim ambas voltaram para casa, tristes e chorosas. Na noite seguinte as golpis se reuniram para seus jogos, mas em vão esperaram seu Mestre. Ele havia desaparecido não deixando mais que sua essência, um perfume de seu ser: os cantos e as danças sagradas. Deste momento em diante, Krishna, procurou seus antepassados em busca de notícias ainda de sua mãe e do velho ancião. Deparou-se com a inveja e ira de seu tio, o rei Kansas; teve encontros com demônios de toda a extirpe, brigou contra toda a ilusão que chegava até Ele; e assim o rei de Madura, o rei Kansas, tentava impor ao caminho do Mestre sempre dificuldades enormes com o objetivo de vê-lo desanimar e cair desgraçadamente ao chão.
E foi assim, durante o seu caminhar, que encontrou um centenário Vasichta que vivia a quase um ano, em uma cabana escondida no mais profundo da selva santa. Este velho tinha já se libertado das leis da matéria, e vivia totalmente liberado das ações egoístas dos homens. Krishna, marchando pelo estreito caminho, se encontrou de repente com este ancião; Estava sentado, as pernas cruzadas sobre uma esteira, apoiado em um poste que sustentava sua cabana, em uma paz profunda. De seus olhos de cego, saia um resplendor interno de vidente, e quando Krishna o viu, o reconheceu, sabendo que era “o sublime ancião”. Sentiu uma comoção de alegria;.... O velho estende seus braços em direção a Ele, e disse “OM”.
Intuitivamente o velho olha para o rei Kansas que o perseguia, e fala que a morte seria benéfica já que a matéria de seu corpo não prestava para mais nada, e que o filho de Mahadeva e de sua irmã estava ali, representado por Krishna, aquele que iria destruir seu reinado. Pálido de ira, Kansas estendeu seu arco, e com toda sua força, lançou uma flecha contra Krishna. Mas, neste momento, seu braço tremeu e a seta disparada, desviando-se do seu alvo, foi cravar diretamente no peito de Vasichta, que com os braços em cruz, parecia esperá-la com total êxtase. Krishna ecoa um grito terrível, pois sentiu vibrar a flecha em seu ouvido, e viu a mesma no corpo do santo... e lhe parecia que havia entrado em seu próprio coração; de tal modo que sua alma neste instante havia se identificado com a do rishi (homem santo).
Com esta flecha aguda, toda a dor do mundo transpassou a alma de Krishna. Entretanto, o velho com a flecha em seu peito, murmurava para Krishna: “Filho de Mahadeva, porque gritas? Matar é uma ação tão absurda que só os profundos ignorantes os escravos do ego a praticam.
A flecha não pode ferir sua alma, e a vítima é o vencedor do assassino. Triunfa Krishna... o destino se cumpre. Eu volto a Aquele que não se muda jamais, sendo Ele eternamente imutável. Que Deus receba minha alma. Mas tu és o elegido salvador do mundo, em pé...... Krishna....... Então um resplendor rendeu o negro céu e Krishna que tinha caído na terra como ferido por um raio, passou sobre uma luz deslumbradora. Mas seu corpo parecia insensível, sua alma unida a do ancião, pelo poder da simpatia, subiu nos espaços, elevando-se ambos ao sétimo céu dos devas (deuses), até ao Pai de todos os Seres, ao Sol dos Sóis, Mahadeva, a Inteligência Divina. Ambos se submergiram em um oceano de luz, e bem no centro Krishna viu a DEVAKI, sua mãe radiante, sua mãe glorificada, que com um sorriso inefável, lhe estendia os braços e lhe atraia em seu seio.
Milhares de devas vinham beber na radiação da Virgem-Mãe, como em um foco incandescente e Krishna se sentiu como reabsorvido em um olhar de Amor de Devaki. Então, do coração da mãe luminosa, viu-se raios que atravessaram todos os céus. Ela sentiu que Krishna era a alma divina de todos os seres, a palavra de vida, o verbo criador superior da vida Universal; Ele a penetrava, SEM a menor essência de dor, através do fogo da oração e a felicidade de um divino sacro-ofício.
Quando Krishna voltou a si, a selva estava sombria e torrentes de chuva caiam sobre a cabana. “O ancião sublime” já não era mais que um cadáver. Mas Krishna se levantou como um ressuscitado. Um abismo o separavam do mundo e de suas vãs aparências. Ele havia percebido a grande verdade e compreendido sua missão. E quanto ao rei Kansas, cheio de espanto, corria sobre o seu carro perseguido pela tempestade e seus cavalos corriam fustigados por mil demônios. Krishna foi saudado pêlos anacoretas (povo da aldeia de sua mãe) como o sucessor esperado e predestinado de Vasichta.
Celebrou-se o SHRADA, a cerimônia fúnebre do santo ancião, na selva sagrada, e o filho de Devaki (Krishna) recebeu o bastão dos sete nós, sinal de comando, depois de haver feito o sacrifício do fogo em presença dos mais antigos anacoretas, daqueles que sabem de memória os três vedas (verdades eternas).
Em seguida, Krishna se retirou ao monte Meru para meditar ali sua doutrina e o caminho da salvação para os homens. Suas meditações e suas austeridades duraram sete anos. Então sentiu que havia dominado sua natureza terrena por meio de sua natureza divina, e que se havia identificado grandemente com o sol de Mahadeva para merecer o nome de filho de Deus. Então chamou a seu lado, os anacoretas jovens e anciões para revelar-lhes sua doutrina. Eles encontraram Krishna totalmente modificado, bastante purificado e engrandecido; o herói se havia transformado em Santo; não havia perdido sua força de leão, mas havia ganho a doçura das aves. Entre os primeiros que o ouviram, estava Árjuna, um descendente dos reis solares, um dos Pándavas destronados pêlos Kauravas, os reis lunares.
O jovem Árjuna era apaixonado, cheio de fogo, mas pronto a desencorajar-se e a cair em dúvida, e se entusiasmou apaixonadamente com as doutrinas de Krishna. Este, sentado sobre os cedros do monte Meru, frente ao Himalaya, começou a falar aos seus discípulos as verdades inacessíveis aos homens que vivem na escravidão dos sentidos. Os ensinou a doutrina do ATMA imortal, de seus renascimentos, e de sua união mística com Deus. O corpo, envolve o ATMA, ou seja, a ALMA, e este corpo é finito; mas o ATMA que habita um corpo material é invisível, incorruptível e eterno. O homem terrestre é triplo como a divindade que reflete: inteligência, atma e corpo. Se o atma se une a inteligência, alcança SATWA, a sabedoria e a paz. Se o atma permanece incerto entre a inteligência e o corpo, então está dominado por RAJAS, a paixão e vai de objeto em objeto em um círculo fatal. Se finalmente o atma abandona o corpo, então cai em TAMAS, o sem razão, a ignorância, a morte temporal. E aí o que cada homem pode observar de si mesmo e ao seu redor (o anunciado desta doutrina foi mais tarde a de Platão).
Continuação no artigo IV ...
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Erick Schulz - Vice Presidente da Associação Brasileira de Ayurveda, Diretor do Instituto de Cultura Hindu Naradeva Shala e Emissário Instrutor da Milenar Escola Iniciática Hindu Suddha Dharma Mandalam. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |