Krishna - Artigo V
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Autor Erick Schulz
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 6/11/2008 7:19:05 PM
Resolveu mandá-los a um lugar de penitencias com a finalidade de que eles observassem seus crimes. Passado alguns dias Krishna com a concordância dos mais velhos, consagra o seu discípulo Arjuna, o mais ilustre descendente da raça solar, como rei de Madura, e deu-lhe a autoridade suprema dos Brahmanes, que se converteram em instrutores dos reis. Krishna continuou sendo chefe dos anacoretas, que formaram o conselho superior dos Brahmanes.
Então construíram para si mesmos uma cidade forte entre as montanhas; se chamava DWARKA. No centro desta cidade encontrava-se o templo dos iniciados, cuja parte mais importante estava oculta no subterrâneo; Entretanto, quando os reis do culto lunar souberam que um rei do culto solar havia subido ao trono em Madura e que os Brahmanes iam ser os donos da Índia, formaram entre si uma poderosa liga para derrubar o trono. Arjuna, por sua parte, agrupou ao seu redor todos os reis do culto solar, da tradição branca, ária, védica. Desde o fundo do templo de Dwarka, Krishna os seguia, os dirigia. Os dois exércitos se encontravam em presença, e a batalha era eminente. Arjuna, ao faltar-lhe ao seu lado o Mestre, sentia-se conturbado e seu valor debilitado. Uma manhã, ao romper o dia, Krishna apareceu ante a tenda do rei, seu discípulo e lhe perguntou por que não teria começado o combate que iria decidir quem iria reinar sobre a terra, os filhos do sol ou os filhos da lua?
E Arjuna responde que sem Ele não poderia fazê-lo. Desolado, pediu ao Mestre que junto dele olhasse os dois exércitos imensos e essas multidões que iriam morrer. Desde a eminência em que estavam colocados, o Senhor dos Espíritos e o rei de Madura contemplaram os dois exércitos imensos, alinhados em ordem, um frente ao outro. Viam-se brilhar os fios das malhas douradas dos chefes; milhares de guerreiros, cavalos e elefantes, esperavam o sinal do combate. E neste momento, o mais ancião dos Kauravas, assoprou a grande concha com um rugido de leão, e assim deu-se o início ao combate. Krishna sentiu-se logo muito violentado e sentiu fundir-se seu coração, submergido na piedade e falou muito abatido: “Ao ver tudo isto, minha boca se seca, meu corpo treme, meus cabelos se eriçam sobre minha cabeça, meu pé arde, meu espírito gira em tonturas. Ninguém pode viver bem, vindo desta matança”. Questionou sobre absolutamente tudo, seus parentes, amigos, enfim....... Exausto Arjuna foi surpreendido por Krishna quando este lhe disse: Em pé! Chamo-te de rei do sono para que teu espírito esteja sempre alerta. Mas teu espírito dormiu e teu corpo venceu tua alma. Os que acreditam que a alma mata ou morre, se enganam igualmente. Nem mata e nem pode matar. Ela não foi nascida e não morre, e não pode perdê-la, o ser que a sempre teve. Nem a espada a corta, nem o fogo a queima, nem a água a molham, nem o ar a seca. Duradoura, firme, eterna, ela atravessa o todo; para aquele que nasce a morte é certa, e para o que morre o renascimento é certo.
Então Arjuna sentiu ferver seu sangue real com seu valor, lançando-se sobre seu carro dando o sinal de combate. Krishna se despediu de seus discípulos, porque estava seguro da vitória dos filhos do sol. Ele havia compreendido que, para fazer valer sua religião aos vencidos, era preciso ganhar sobre sua alma uma última vitória, mais difícil que a das armas. De igual modo que o santo Vasichta havia sido morto, atravessado por uma flecha para revelar a verdade suprema a Krishna, assim Krishna deveria morrer voluntariamente sob os golpes de seu inimigo mortal, para implantar no coração de seus adversários a fé que Ele havia ensinado aos seus seguidores e ao mundo. Ele sabia que o rei de Madura havia se refugiado na casa de Kalayeni, o mago negro, rei das serpentes; e que Ele Krishna estava sempre sendo vigiado pêlos homens desse seu rival. O mestre sentia em contra partida que sua missão tinha terminado e por esta razão, cessou de evitar a companhia do inimigo pelo poder de sua vontade. Por fim, o filho de DEVAKI queria morrer longe dos homens, perto do Himalaya. Ali se sentiria mais perto de sua mãe radiante, do sublime ancião e do sol de Mahadeva.
Krishna partiu...... Nenhum de seus discípulos havia penetrado seus desígnios. Somente Saraswati e Nichdali que o seguiram é claro, com sua permissão. Após alguns dias de viagem, elas questionaram ao Mestre do porque daquilo? E Krishna respondeu: É necessário que o filho de Mahadeva morra atravessado por uma flecha, para que o mundo acredite em sua palavra. Pediu então que todos orassem durante sete dias. O semblante de Krishna se transfigurava e parecia mais radiante. Após o sétimo dia os arqueiros do rei Kansa chegaram próximo do Mestre, olharam para as mulheres..... Eram soldados rudes, de rosto amarelado e negro. Ao ver a figura estática do santo, se deteve. Primeiro o injuriaram, depois lhe jogaram pedras, mas Ele não saia de sua imobilidade. Logo os arqueiros se colocaram a distancia e se puseram a atirar sobre Ele. A primeira flecha que lhe atravessou lhe brotou o sangue e Krishna exclamou: “Vasichta, os filhos do sol venceram”. Quando a Segunda flecha vibrou em sua carne, disse: “Minha mãe radiante, que os que me amam, entrem comigo em sua luz”. E na terceira disse somente: “Mahadeva! (Deus)....
“E logo, com o nome de Deus, entrego meu espírito”.
O sol havia se escondido, um grande vento se fez, uma tempestade de neve inundou o Himalaya. O céu se fechou. Os assassinos fugiram; e as duas mulheres caíram desvanecidas sobre o solo; O corpo de Krishna foi queimado por seus discípulos na cidade santa de DWARKA. Saraswati e Nichdal se atiraram na fogueira para unirem-se a seu dono e Mestre; e a multidão acreditou ver o filho de Mahadeva sair das chamas em um corpo cheio de luz, subindo rumo ao infinito e levando consigo as duas nobres mulheres que tanto o amavam em vida. Depois disto, uma grande parte da Índia adotou o culto de Vishnú, que conciliava os cultos solares e lunares na religião de Brahma (Deus).
Tal é a legenda de Krishna, reconstituída em seu conjunto orgânico e colocada na perspectiva da estória. Ela arroja uma viva luz sobre as origens do Brahmanismo. “SEMPRE HÁ UM GRANDE SER HUMANO NA ORIGEM DE UMA GRANDE INSTITUIÇÃO”. Considerando o papel dominante de Krishna na tradição épica e religiosa, seus aspectos humanos por uma parte e por outra, sua identificação constante com Deus manifestado ou Vishnu, força-nos a crer que Ele foi o criador do culto Vishnuista, que deu ao Brahmanismo sua virtude e seu prestígio. É, pois, lógico admitir que em meio ao caos religioso e social que se criava na Índia primitiva, a invasão dos cultos naturalistas e apaixonados, apareceu um reformador iluminado que renovou a pura doutrina ária pela idéia da trindade e do verbo divino manifestado, que possuiu ao céu pela sua obra e por sacrifício de sua vida, e deu assim à Índia sua alma religiosa, sua forma nacional e sua organização definitiva.
continua no artigo VI ...
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Erick Schulz - Vice Presidente da Associação Brasileira de Ayurveda, Diretor do Instituto de Cultura Hindu Naradeva Shala e Emissário Instrutor da Milenar Escola Iniciática Hindu Suddha Dharma Mandalam. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |