Krishnamurti: A Busca do Homem
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Autor Marcos Spagnuolo Souza
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 9/21/2008 10:47:22 PM
O homem sempre indagou: Qual a finalidade dessa vida que estou levando? Tem a vida alguma significação? Vendo a enorme confusão reinante na vida, as brutalidades, as revoltas, as guerras, as intermináveis divisões da religião, da ideologia, da nacionalidade, passou a perguntar com um profundo sentimento de frustração: O que se deve fazer? O que é isso que se chama viver? Existe alguma coisa além dos limites espaciais e temporais?
Nessa batalha constante que chamamos "viver", respondemos as nossas perguntas procurando estabelecer um código de conduta conforme a sociedade em que somos criados, seja ela uma sociedade comunista, quer uma pretensa sociedade livre; aceitamos um padrão de comportamento como parte de nossa tradição hinduísta, mulçumana, cristã ou outra. Estamos sempre esperando que alguém nos diga qual a conduta justa ou injusta, pensamento correto ou incorreto e, pela observância desse padrão, nossa conduta e nosso pensar se tornam mecânicos, nossas reações, automáticas. Pode-se observar isso muito facilmente em nós mesmos.
Fundamentado no discurso teológico surgem os guias que seguimos, observamos determinados rituais, recitamos certas preces ou mantras sagrados, obedecermos a alguns padrões, refrearmos nossos desejos, controlarmos nossos pensamentos, sublimarmos nossas paixões, abstemos das atividades sexuais. Assim é que milhões de pessoas ditas religiosas buscam o isolamento nos desertos, nas montanhas, numa caverna, quer peregrinando de aldeia em aldeia a esmolar, quer em grupos, ingressando em mosteiros e forçando a mente a ajustar-se a padrões estabelecidos.
Durante séculos fomos amparados por nossos instrutores, nossas autoridades, nossos livros, nossos santos. Pedimos: "Dizei-me tudo; mostrai-me o que existe além dos montes, das montanhas e da Terra" e satisfazemo-nos com suas descrições, quer dizer, vivemos de palavras, e nossas vidas são superficiais e vazias. Não somos originais. Somos o resultado de toda espécie de influências e em nós nada existe de novo, nada descoberto por nós mesmos, nada original, inédito, claro. Assim, para descobrir se de fato existe ou não alguma coisa além desta existência ansiosa, culpada, temerosa, competidora, parece-me necessário tomarmos um caminho completamente diferente. O caminho tradicional parte sempre da mente inserida no espaço e tempo, da prática e da renúncia. Quando a mente pensa que chegou ao centro não encontra nada, pois, a mente é criação da própria corrupção, da sociedade embotada e insensível.
Após observar esse processo, perguntamos a nós mesmos se não haverá outro caminho totalmente diferente, isto é, se não teremos possibilidade de "explodir" do centro?
Para responder a pergunta devemos saber que existe uma grande diferença entre o ego e a consciência. O ego é a entidade local, o habitante de qualquer país, pertencente à determinada cultura, uma dada sociedade, a certa religião. A consciência não é uma entidade local. Ele está em toda parte. Se o indivíduo só atua pelo ego está isolado do vasto campo da vida, sua ação está totalmente desligada do todo. O ego é aquela insignificante entidade condicionada, aflita, frustrada, satisfeita com seus pequeninos deuses e tradições; já a consciência está interessada no bem-estar geral, no sofrimento geral e na eliminação total da confusão em que se acha o mundo. A consciência é comprometida com a cooperação.
Não podemos esquecer que nós, seres egóticos, somos os mesmos que éramos a milhões de anos, enormemente ávidos, invejosos, agressivos, ciumentos, ansiosos e desesperados, com ocasionais lampejos de alegria e afeição virtual. Somos uma estranha mistura de ódio e medo; somos regidos pela violência. Construímos o progresso exterior do carro de boi ao avião a jato, porém, psicologicamente, o indivíduo não mudou em nada, e a estrutura da sociedade, em todo o mundo continua a mesma. A estrutura social é o resultado do ego que elabora uma relação humana baseada na competitividade, na hierarquia, no poder e na exploração.
Todas as formas exteriores de mudança, produzidas pelas guerras, revoluções, reformas; pelas leis e ideologias, falharam completamente, pois não mudaram a natureza básica do homem e, portanto, da sociedade porque foram feitas por seres egóticos. Como seres humanos, vivendo neste mundo monstruoso, perguntamos: "Pode esta sociedade, baseada na competição, na brutalidade e no medo, terminar? É possível a consciência criar um mundo totalmente diferente?" Creio que isso só ocorrerá se soubermos que o ego é inteiramente responsável por toda a situação caótica do mundo.
A única condição de surgimento de uma nova sociedade ou do novo homem é a eliminação do ego e o afloramento da consciência. Não há guia, não há instrutor, não há autoridade. Só existe a consciência em seu processo de transcendência. Para empreender essa viagem, precisamos estar livres; não podemos transportar todos os trastes imprestáveis que juntamos no decurso dos últimos dois mil anos ou mais. Devemos esquecer-nos tudo o que sabemos e quando esquecemos provocamos a morte do ego. Quando o ego morre iniciamos uma nova jornada com a consciência.
Referência: KRISNAMURTI. A busca do homem. Disponível em: link Acesso em 21 Setembro 2008.
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