Lutar contra quem?
Atualizado dia 2/10/2019 11:57:53 AM em Autoconhecimentopor Paulo Tavares de Souza
É tão comum encarar a vida como uma luta que esse tipo de cumprimento surge no automático. Mas, será que a vida é realmente uma Luta? Será que tudo que nos disseram, tudo que nos ensinaram a respeito da vida, está correto?
Os pais, desde muito cedo educam o filho com essa convicção, preparam a criança para competir e com isso acabam moldando o seu caráter de forma a tratar o próximo como um adversário. Ensinam a defender-se dos inimigos através de uma adestramento constante para o combate e, desta forma, o mundo transforma-se em uma arena, uma espécie de coliseu onde apenas os mais fortes sobrevivem. Todos contra todos. Justamente por esse motivo o princípio do amar ao próximo como a si mesmo transformou-se em algo utópico. Como podemos desenvolver a nossa capacidade de amar quando estamos programados para o enfrentamento? Como ter estima por aqueles que queremos ultrapassar, afinal, estamos condicionados a vencer e superar esse mesmo próximo?
Infelizmente, Thomas Hobbes estava certo ao denunciar que o homem é lobo do homem e que só através de um contrato social a vida no planeta seria possível. Esse filósofo inglês da idade moderna conhecia a natureza humana e entendia que, na verdade, todos querem as mesmas coisas, por isso sempre existiram guerras e conflitos.
Como podemos mudar isso?
Está claro que esse modelo predatório é o maior responsável pela falta de paz e harmonia em nosso globo, no entanto, não fazemos nada a respeito, continuamos reproduzindo os mesmos erros atávicos, sem a menor reflexão acerca de nossas ações, pois elas surgem quase sempre de forma impensada e autômata e é preciso mudar para poder renunciar a essa ideia de combate. A vida não é um gládio, enquanto não nos desarmarmos e trabalharmos as virtudes necessárias para passarmos ao largo desse modelo agressivo, estaremos vulneráveis a toda sorte de sofrimento e dor; enquanto não aprendermos a colaborar, perdoar, compreender, aceitar e renunciar, toda a nossa existência será pautado por um pressuposto equivocado.
Infelizmente, seguimos uma programação de crenças e valores nefasta que só poderá ser alterada quando alcançarmos uma maior expansão da consciência. Está na hora da humanidade começar a fazer perguntas que ainda não fez. Está na hora de pensarmos em um outro paradigma, até pela preservação da nossa espécie, não existe a menor possibilidade de criarmos um mundo diferente fazendo as mesmas coisas de sempre, pensando da mesma forma.
A humanidade agoniza na ignorância, busca soluções para o incômodo da dor nos lugares menos prováveis, é como se estivesse cavando em busca de água sem nenhum localizador.
Será necessário tornar-ser um observador, não envolver-se emocionalmente com as coisas, nem mesmo com as pessoas, pois a emoção só atrapalha, e, por que não livrar-se de tantos desejos?
O homem precisa aprender a fazer o bom combate, enfrentar os inimigos internos, derrotar os grandes adversários que existem dentro dele, pois isso sim é louvável. O mito do herói grego é uma representação de tudo isso, de uma luta que deve ser travada contra todos os construtos mentais ilusórios que nos prendem na ilusão da matéria. Minotauros, medusas, esfinges, magos, bruxas e tantos outros arquétipos encontrados na saga de cada herói ao longo da história, são apenas a representação dos nossos vícios mentais.
Quando Jesus nos disse que não veio trazer a paz, mas a espada, estava referindo-se à essa luta que acontece no campo de batalhas do nosso mundo interior, através de um combate constante. Para libertar a princesa, presa no alto da torre, teremos que enfrentar o dragão que está no pátio. A união que surge depois da vitória simboliza o encontro e a integração com a nossa própria alma, pois enquanto estivermos renunciando essa missão, fugindo dessa luta, nossa alma continuará presa e protegida.
Essa é a única luta legítima. Tratar ou outro como um inimigo, considerar irmãos como adversários, tudo isso, é um grande equívoco. O outro é apenas um espelho onde projetamos, infelizmente, as nossas mazelas. Se observarmos esse fenômeno do encontro de corpos e percebermos como ele se processa, iremos notar que tudo aquilo que identificamos no outro é nosso.
O mundo acontece dentro da gente, ganha significado dentro da gente, portanto, é dentro da gente que ele deve ser transformado.
Por mais contraditório que possa parecer, a verdadeira luta consiste em não lutar, ou seja, em aceitar, confiar, entregar, agradecer e alinhar-se com a Vida. Não posso dizer que o esforço não será grande, não posso afirmar que o desenvolvimento dessa atitude diante da Vida é algo simples de ser alcançado e não teremos que travar, com isso, algum tipo de luta contra todas as forças que nos impulsionam ao combate. Tudo o que posso afirmar é que esse é o verdadeiro bom combate.
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