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Medo à Liberdade

Atualizado dia 8/15/2006 2:11:02 PM em Autoconhecimento
por Maria Kleinicke


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Por que as pessoas preconizam a liberdade, quando na verdade não sabem o que ela significa. Ser livre é fazer o que se quer, quando se quer ou como se quer?
Na realidade é, porém, isso é possível? Faz parte da vida humana a liberdade, dentro da sociedade atual?
Estas questões de saber o que é liberdade significam para o homem moderno a procura constante do real sentido da palavra, e foi dada à idéia de que esta é a realidade da existência humana. O homem pós-moderno está vivendo em crise, angustiado e depressivo, sem estrutura para compreender o outro e a si mesmo; tem medo de sair de se comunicar e sentir-se um igual. Não se sabe mais o que é normal ou esquisito, pois o normal é aquele comportamento que tenha um maior número de pessoas pensando igual, agindo de forma semelhante. Qualquer que se encontre em situação diferente ou pense e aja de forma própria, livre, é isolado pelo meio.
Então, tudo que seja uma atitude livre, autêntica, precisa ser aprovada pelo meio. Onde fica a liberdade quando a sociedade não respeita nem uma idéia que seja inovadora e criativa só porque ela foge das convenções “normais”?
Satre nos mostra em o “Existencialismo” cujo sentido etimológico é “Sair de" concebe que há pelo menos um ser que existe para si, que não foi criado por (Deus) ou produzido a partir de uma essência preexistente: O Homem. No homem, a existência vem antes da essência; não havendo tal essência, todos são iguais e igualmente livres para se fazerem.
Não se pode falar, por isso, em natureza humana, pois esta seria uma definição que pré-definiria o homem antes dele existir. Não há uma natureza humana, mas uma condição humana. É a ausência desta natureza humana que faz com que o homem seja ditado pela busca do egoísmo individual, causado por uma sociedade onde o comportamento econômico separou-se da ética e dos valores humanos.
Em todas as suas ações, o homem só pode contar consigo mesmo, simplesmente porque descobre que existe e tem que decidir o que fazer de si mesmo.
Então, o que é o homem? Se formulado em caráter geral, só se pode responder: Nada.
O Homem nada é, enquanto não fizer de si alguma coisa. Exatamente por isso, ele é para si no sentido de ser aquilo que fizer de si.
A existência é um projetar-se num sentido de impulsionar-se para o futuro. O projeto existencial não implica a subjetividade no sentido tradicional, pois nem mesmo se pode dizer que o Ego seja a essência profunda do homem. O Homem tem sido sim uma dimensão subjetiva que é a própria projeção de si, e pode ter plena e autêntica consciência disto.
A consciência é necessariamente sempre consciência; portanto, a consciência aparece como intenção para um objeto, de modo que o objeto está por princípio fora da consciência.
Se a consciência é vista como intencional ela se purifica por inteiro, já não há nada nela, salvo a intenção, um movimento para fora de si. Assim, a consciência já não tem precisamente “dentro", interior e não tem precisamente porque ela nada mais é que intenção movimento pra fora. Dessa maneira a partir da consciência é que se pode pensar o mundo não como algo já dado e encerrado mas sim ter a oportunidade de transformá-lo. De a mesma forma pensar o próprio homem sempre com a possibilidade de mudar, experimentar outra forma de ser, inventar. A invenção na verdade é o grande deleite da liberdade, sempre renovável de vir a ser o que for preciso.

Longe de parecer uma grande festa de máscaras inconseqüentes, é um convite arriscado para uma luta muito séria a de o homem tomar em suas próprias mãos a responsabilidade de decidir o que fazer consigo mesmo e com o mundo.
O futuro está sempre em aberto e ele será preenchido por um projeto que é fruto de uma escolha e de uma decisão. Como não há uma essência pré-condicionando a escolha, esta se dá a partir de uma liberdade em sentido radical o homem é livre na exata medida em que introduz o nada no mundo. E, como isso é inerente à condição humana, não há como ser livre.
Pode-se mascarar a liberdade através da má fé ou a recusa do exercício da liberdade. O que isso quer dizer? Quer dizer que quando se diz que um homem é fraco e passa-se a comportar como tal, na verdade esconde sob a capa da sua fraqueza toda liberdade que lhe é própria e que lhe daria a chance de ser qualquer outra coisa, como por exemplo uma pessoa forte. Não podendo assim justificar nenhuma eventual covardia, dizendo que foi covarde porque é fraco.
O homem está condenado porque ele deve sofrer a agonia de sua tomada de decisão e a angústia de suas conseqüências.
O homem é angústia, tal afirmação significa o seguinte: O homem que se engaja e que se dá conta de que não é apenas aquele que escolheu ser, mas também um legislador que escolhe simultaneamente a si mesmo e a humanidade inteira.
Assim, quando se diz que o homem é responsável por si mesmo, não se quer dizer que o homem é apenas responsável pela sua estrita individualidade, mas que ele é responsável por todos os homens.
O homem se escolhe a si mesmo, quer dizer, que cada um de nós se escolhe, mas quer dizer também que, escolhendo-se ele escolhe todos os homens. Não há um único de seus atos que criando o homem que se quer ser, não se esteja criando, simultaneamente, uma imagem do homem tal como se julga que ele deva ser.
Escolher ser isto ou aquilo é afirmar concomitantemente, o valor do que se está escolhendo, pois não se pode nunca escolher o mal, o que se escolhe sempre o bem, e nada pode ser bom para o homem sem o ser para todos.
Se por outro lado à existência precede a essência, e se o homem quer existir ao mesmo tempo em que se molda sua imagem, essa imagem é válida para todos e para toda uma época. Portanto, a responsabilidade é muito maior do que poderia supor pois ela engaja a humanidade inteira.

Texto revisado por: Cris

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