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Melancolia e padrões erráticos. Uma alquimia inconveniente...

Atualizado dia 6/23/2007 1:34:50 AM em Autoconhecimento
por João Caçador Neto


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Como contornar a sensação de ausência de rumo, vazio existencial e carência afetiva? Foi conversando com uma amiga que me motivou a escrever esse artigo... Não pretendo me ater aos detalhes de cada sentimento, porque eles vieram apresentados a mim agrupados sob a forma de uma grande sensação de melancolia, mas sinalizar um modo de aliviar essa sensação identificando algumas causas que nos podem induzir a isso e um modo de atuarmos ativamente contra ela, aprendendo a nos amar.

Essa sensação de melancolia aparece trazendo junto outros efeitos, inclusive psicossomáticos; daí a importância de ir bem fundo dentro de nosso interior, onde a resposta está guardada, mas ainda não revelada. Além disso, precisamos saber qual a motivação que está provocando essa melancolia. Normalmente o que acontece é o obscurecimento dessa percepção por padrões pré-estabelecidos, considerados verdadeiros, quer implantados durante nossa criação, quer induzidos por nosso ambiente, nos impedindo nosso autoconhecimento. Penso que a sensação agradável e amorosa que desejamos fica na dependência de uma correlação qualitativa com nosso ambiente relacional, e está fortemente vinculada a esses padrões, ou seja, sentimos, mas não identificamos, portanto não agimos. Vejamos então:

Estes padrões nos são repassados através da família, muitas vezes impostos de maneira severa e opressiva, não permitindo o nosso desenvolvimento de acordo com nossa característica individual. Acabamos por incorporar uma rigidez de pensamentos e princípios que soam como uma verdade universal, como se o mundo girasse em torno dessas verdades. Isso acaba ofuscando o princípio criativo inerente de nosso ser, fazendo que percamos a flexibilidade de adaptação relacional com os fatos que a vida nos apresenta. Um exemplo clássico dessa manipulação que é aproveitada pela família são os dogmas religiosos, que muitas vezes aparecem de forma sectária e extremista, orientadas para o medo e punição, embora existam exceções, que fique claro.

Quando cito a influência social, significa que somos bombardeados maciçamente segundo a idéia que para sermos aceitos precisamos de status, dinheiro, um belo corpo, carreira bem sucedida, etc. Além disso, os meios de comunicação, como novelas, sites de internet mostram uma meia dúzia de celebridades (quase sempre os mesmos) como modelo de consumo ou sucesso, outra “verdade” induzida de forma danosa. Com essa idéia distorcida e o bombardeio da mídia, não é incomum alguém se sentir fora de um grupo, solitário, e com isso sofrer uma sensação de incapacidade e tristeza.

Temos um fato consumado! Sempre receberemos um tipo de orientação, segundo nossas famílias e sempre sofreremos influência de nosso meio social, o que é perfeitamente natural. Entretanto, isso começa a se tornar danoso quando entramos num processo de incômodo de sofrimento e abatimento, fazendo-nos sentir excluídos do direito de sermos felizes. Então, precisamos evoluir, e isso sim é nossa responsabilidade, quer aceitemos ou não. Evoluir significa ir além dos padrões progressivamente, e não aceitar esse jogo.

Temos que filtrar intensamente esses padrões de massificação, para não sermos reduzidos a um rebanho de ovelhas sem percepção e visão crítica, condenados à infelicidade. Muita vezes estamos tão hipnotizados por essa visão errática que não conseguimos identificar o nosso caminho de evolução, ficando presos a esses conceitos. O foco passa a ser os padrões, e não nossa real necessidade. Se não conseguimos seguir os padrões sentimo-nos excluídos, e isso inclui também como escolhemos nossas parcerias de um modo geral. Elas também precisam estar dentro desses padrões, vejam só! Vira um ciclo vicioso de ação e reação com tentativas de resolução de problemas segundo esses mesmos padrões.

O mais grave é contornarmos o problema, sem uma reflexão adequada, achando que a solução será encontrada externamente como, por exemplo, nos casos de carência afetiva, como já ouvi: “-Preciso de um amor!”. Em outras palavras, seria o mesmo que dizer preciso de um(a) salvador(a)! E observem que não é um amor comum, e sim um amor padronizado pelo contexto social, segundo valores de sucesso.
Admito que todos nós necessitamos de amor, sem exceções, mas se não houver a compreensão do que significa isso, por mais que sejamos amados, não perceberemos. Ser amado é ser aceito como a pessoa que é, na sua integridade. Aliás, talvez seja essa a grande confusão, porque até mesmo quando ambicionamos esse objeto de desejo, ele se encontra dentro de padrões pré-estabelecidos. Quando cito amor, penso em algo universal e divino, pais, filhos, irmãos, amigos, parceiros... etc. Nós precisamos de amor, não de “um” amor.

Quando nos limitamos por esse padrão, esquecemos do amor que existe dentro de nós, logo não nos amamos e vivemos em função de alguém ou algo externo. Sim, porque quando percebemos esse amor dentro de nós, seremos gratos por nossa existência, estando aptos a compartilhar isso com os outros, não esperando que alguém nos dê algo. Aí nós podemos compartilhar essa sintonia amorosa. E podemos praticar isso... Sabem como? Amando as pessoas! Mas vamos escolher alguém muito especial, no início, para aceitarmos como ele é, e faremos tudo por esse alguém. Perdoaremos seus atos, o trataremos com carinho, pediremos por ele, faremos por esse alguém tudo que produzimos de melhor, trataremos com compaixão e depois de tudo o libertaremos para fazer isso por seu próximo. Sabem quem é esse alguém que estou falando? De nós mesmos!

Podemos imaginar um amor ideal, fora dos padrões massificados, e que nos traga uma grande felicidade, praticando conosco ao invés de procurarmos isso externamente. Vejam, não estou falando de egoísmo (o ego se manifesta com foco no exterior), pois o amor ideal não é exclusivo dessa ou daquela parceria, mas sim um modo de cuidarmos de nós mesmos. Na verdade, o objetivo é transbordarmos esse amor dentro de nós, para irradiarmos para nosso próximo. Observem que começamos conosco, depois o mais próximo, depois o outro... E assim vai. Nada de pressa, apenas um após o outro, sem traçarmos uma meta quantitativa. Cuidemos de nós mesmos como cuidássemos de um grande amor.

Certamente questionarão: - O que isso tem a ver com a sensação de ausência de rumo, vazio existencial e carência afetiva? E a sensação de melancolia, como fica? Como isso se aplica?

Bem... cabe uma réplica para todas essas perguntas, e um questionamento que devemos nos fazer de vez enquando: - Será que nos amamos?

Se a resposta for sim, já possuímos esse entendimento. Se a resposta for não, que tal praticar o amor incondicional consigo mesmo?

E quando conseguirmos nos amar a reposta para alguns questionamentos acima desaparecerão naturalmente, e com certeza sentiremos uma sensação de bem estar e amorosidade que ao contrário do verbo “precisar”, estaremos aptos a “compartilhar” tudo aquilo que realmente possuímos dentro de nós, que é o amor. Podem ter a certeza que quanto mais nos amarmos, mais estaremos em sintonia com aqueles que amam. Não seria esse um dos caminhos para a felicidade?

Abraço a todos!

Texto revisado por: Cris

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