Misticismo Cristão: perfeição
Autor Marcos Spagnuolo Souza
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 4/27/2008 9:02:10 PM
Entendemos por misticismo cristão a materialização da consciência individual no plano material e não a materialização do ego no plano da forma. A consciência individual é metafísica e está harmônica com a Consciência Causal ou Divina. O ego é formado a partir do momento em que o corpo físico nasce com a introdução na psique da cultura dominante.
“De modo algum jureis: nem pelo céu, por ser o trono de Deus; nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser cidade do grande rei, nem jureis pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porem, a tua palavra; Sim, sim; Não, não. O que disto passar vem do maligno”.
O homem está sendo dirigido pelo ego que não possui a verdade sendo o "não-ser". O ego é estruturado pela cultura que vivenciamos, assim sendo, qualquer afirmativa (juramento) do ego é falsa. Qualquer declaração que parte do ego é relativista, pois, o ego não possui acesso à verdade. Qualquer declaração ou afirmativa do ego está desassociada da causa primeira. O ego está limitado pela cultura ou culturas não conseguindo ultrapassar os limites da percepção.
“Não resistais ao perverso; mas a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pede, e não voltes às costas ao que deseja que lhe emprestes”.
O corpo humano controlado pelo ego é repleto de desejos e de ter posse de tudo, assim sendo, vivemos em um mundo egótico onde predomina a inveja, as desavenças, as rivalidades e principalmente o desejo de possuir. O corpo humano controlado pela consciência não se opõe aos desejos do homem controlado pelo ego. O ego está na ignorância e qualquer resistência aos seus desejos o ego adquire mais força e se impõe de qualquer maneira. A consciência é destituída de desejos e logicamente não possui o desejo de se opor as pessoas egóticas.
“Não matarás; e quem matar estará sujeito a julgamento”.
Matar é tirar a vida e quebrar a harmonia cósmica. Quando tiramos à vida de qualquer ente, quer seja ele mineral, vegetal, animal e humano estamos indo contra a ordem cósmica. Apenas o homem egótico mata sendo que o ser humano autêntico, dirigido pela consciência vive em plena harmonia com todos os seres do universo, prevalecendo a cooperação.
“Amai os vossos inimigos e amai os que vos perseguem. Se amardes os que vos amam, que recompensa tendes?”
O ser humano consciente de Deus só possui amor. Amor é viver em unidade com todo o cosmo não se opondo as causas primárias que governa todo o existente. O ser humano movimentado pela consciência não vivencia a oposição. A consciência vive em harmonia plena com a vida e vida é harmonia absoluta e inquebrantável.
“Sede vós perfeito como perfeito é o vosso Pai celeste”.
O ego é imperfeição e a consciência é perfeita em si mesma. A consciência criada por Deus é tão perfeita como o seu criador. O ser humano deve ser perfeito, isto é, não dirigido ou controlado pelo ego e sim pela perfeição da consciência, pelo nosso ser crístico.
“Quando deres esmolas, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Tu, porém, ao dares a esmola, ignora a tua esquerda o que faz a tua direita”.
O ego possui o desejo de ter uma individualidade inclusive a individualidade de piedoso. O ego quer ser glorificado por sua bondade em ajudar os menos favorecidos. É de suma importância para o ego que os outros egos os veja como um indivíduo que está disposto a ajudar aqueles que nada possuem. O ego fica cada vez mais forte quando é reconhecido pela caridade que presta a sociedade em que vive. O Ser em si, que é consciência pura possui a sabedoria divina e não precisa da aceitação ou reconhecimento dos outros seres humanos porque suas ações são reflexos diretos da Consciência Causal.
“Quando orares, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Tu, porém, quando orares , entra em teu quarto, e, fecha a porta, orarás a teu Pai que está em secreto; e teu Pai que vê em secreto, te recompensará”.
O homem encarnado pelo ego precisa de templos e orações comunitárias, precisa da existência de uma individualidade religiosa seja ela qual for. O Ser, que é a consciência, já está em Deus e Deus está na consciência. A própria consciência é em si uma oração que vive em unidade com o Pai. O ego precisa mostrar que ora e ensinar os outros a orar, ensinar a praticar a devoção a Deus, pois, quer ser mestre, quer ter uma individualidade superior aos outros, no entanto, não podemos esquecer que o ego não se comunica com Deus, apenas a consciência está unida a divindade. A consciência já é luz e Deus é luz.
“Orando, não usem de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais”.
O ego se confunde com o corpo e logicamente precisa movimentar o corpo e utilizar de palavras para chegar ao seu deus que também é um “não-ser” egótico. O ego utiliza de tudo que possui existência fenomênica para fazer um teatro religioso, um teatro de ligação com o divino, sendo tudo uma encenação mayavádica, ou seja, ilusória. A consciência está em Deus e Deus na consciência. Assim sendo a consciência não necessita nem do pensamento e nem de palavras para que Deus escute. Deus é onipresente e a consciência também é onipresente tendo existências em uma dimensão não temporal e não espacial. Qualquer referência de comunicação corporal com Deus é desnecessária devido a própria onipresença da causa sem causa.
Observamos que existem dois tipos básicos de comportamentos corporais: o comportamento orientado pela consciência e o comportamento dirigido pelo ego. O primeiro tipo de comportamento é metafísico e o segundo é essencialmente material e ilusório.
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