Mortes Violentas
Autor Ceissamorim - Buddhayan
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 2/12/2006 11:07:21 AM
Há 19 anos sou policial civil aqui no DF. Os 8 primeiros anos foram exclusivamente no plantão policial; ele é nossa clínica geral. Nele aprendemos a ser profissionais rápidos, destemidos e estamos sempre alertas. Nossa ação pode salvar vidas, pode tirar de circulação alguém que acabou de cometer um crime hediondo. É esta a nossa vida de "cana quente"...
Nem preciso dizer que já vi muita coisa triste e feia. Primeiro a equipe de plantão chega ao local do crime; depois, isola o local e em seguida, solicita o comparecimento da equipe de perícia.
Vi muitas mortes e nunca me acostumei com o que vi.
Meu pior momento foi de chegar à residência do "de cujus" (morto) e verificar quem é a pessoa mais "indicada" para receber a notícia do falecimento. É péssimo! Ainda bem que não fui escalada por Deus para ser o Anjo da Morte; eu falharia sempre! Isso porque, em meu sentir, é o anjo mais preciso; não há atraso, não há o "espere um pouquinho que eu já vou". Ele vem e leva mesmo.
Também perdi alguns amigos, chorei muito em seus sepultamentos. A tristeza nos abate em todo funeral, mas quando um policial tomba em combate, a dor é dilacerante.
Não consigo escrever estas palavras sem verter lágrimas de meus olhos. Amo a Polícia Civil de Brasília, foi ela quem me deu tudo o que tenho, muito do que sou. Por motivos alheios à minha vontade tive que abandonar as ruas e aí tudo ficou muito chato. Gostava mesmo era da adrenalina. Em razão de um acidente em serviço passei a ter restrição de movimentos com o joelho direito. Não podia ser irresponsável e causar a morte de companheiros por falta de destreza. Para mim foi o fim do combate...
Em casos de morte violenta (geralmente homicídio) com autoria conhecida, o crime é investigado pela delegacia responsável pela área. Quando a autoria é desconhecida os casos vão para a delegacia especializada em homicídios. Aqui, em Brasília, ela se chama DH e é vinculada ao DPE - Departamento de Polícia Especializada.
Tudo isto para chegar a um insight que me foi revelado há poucos instantes. Nunca tive estômago para trabalhar na DH. Os inquéritos são sangrentos demais, as fotos da perícia nos acompanham em nossos sonhos.
Chega de tanta autobiografia e voltemos ao insight que abriu meus olhos e minha mente. Minha visão foi a seguinte: as mortes violentas são em seu mundo algo terrível, porque vocês associam a cena, ao sofrimento daquele corpo que agora jaz. Nosso Creador (grafado com E mesmo, conforme esclarece Huberto Rohden) não é cruel com ninguém. A vítima perde a consciência antes que o corpo se dilacere, permitindo assim a rápida libertação do espírito. Nosso resgate não brinca em serviço! As pessoas que sofrem mortes violentas, em geral, são as mais evoluídas daquele núcleo e por isso não "sofrem" com as horas contadas da morte comum.
Ninguém sabe o dia de amanhã. A nenhum de nós foi dada tanta visão mas, aproveitemos pois este ensinamento.
"O corpo é o casulo da alma e ela precisa seguir livre para alçar vôos mais altos."
Esta foi a frase que me veio hoje, 12/02/2006 às 10h40min de Brasília (em horário de verão), sob forma de insight encaminhado pelo Conselho (modo como me dirijo aos meus Mentores espirituais).
Texto revisado por Cris
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