Mudança de estação
Atualizado dia 11/29/2016 5:03:29 PM em Autoconhecimentopor Adriana Garibaldi
Sem enxergar o escuro, o triste ou o feio, como valorizarmos a beleza das coisas, a claridade diamantina da alma humana, do amor, da alegria de sermos livres das prisões do medo, do tédio ou do pesar? A polaridade da vida chega a ser uma bênção e deveremos aprender a desfrutar das mudanças de estação sem afetação.
Às vezes, o inverno gélido pode nos trazer certo desconforto, um estado de depressão, de isolamento. Ficamos dentro de casa, dentro de nós mesmos e isso é bom, uma forma válida de nos encontrar, de nos redescobrir, olhando para nossos silêncios e questões mais profundas e, quando a primavera vier, estaremos prontos a florescer de novo, começaremos a olhar para fora, para as flores que desabrocham no jardim, permitindo-nos desabrochar também, deixando eclodir a primavera dentro de nós.
Então, o verão chega nos despertando para a alegria, banhando-nos num oceano dourado de luz e de calor, numa claridade que nos deixa soltos, plenos de vida.
As roupas são mais leves no verão, bebemos mais água e mergulhamos nas águas da vida que pulsa, águas que ficaram represadas no inverno, mas que precisam ser soltas agora, na estação da expansão. Um precioso momento de pormos para fora nossas mazelas e temores, expulsando-os de nós.
E a vida continua assim mesmo, ciclicamente, em constante mutação.
Quando aceitamos a lógica das estações e fluímos nesse sentido de impermanência, compreendemos que nos apegar ao momento, mesmo que este nos pareça maravilhoso, só nos cria dificuldades, não nos permitindo ver que a única realidade que existe é a permanente mudança, um movimento que nos lança de um estado para um outro, tanto quanto acontece com o clima e isso chega a ser o que nos fertiliza e nos faz renascer a cada nova estação.
Às vezes, tememos a mudança, tememos aquilo que o dia pode nos reservar, nos agarramos às coisas, sensações, emoções ou sentimentos que pessoas ou situações provocam em nós. Desejamos que as pessoas que amamos sejam sempre as mesmas, que elas não mudem.
Vamos ao encontro de um amigo querido e desejamos sempre encontrar nele um sorriso de boas vindas, um movimento de acolhimento, um gesto de afeição . Mas quando não é assim que nos acontece e o tempo fecha, quando aquele amigo estiver de mau humor ou de má vontade conosco, sentimos como se o mundo caísse sobre nossas cabeças. A sensação de rejeição, o medo de termos perdido o afeto daquela pessoa nos assusta.
Buscamos sempre as flores da primavera ou o calor aconchegante do verão e não queremos o ocre do outono ou o frio gélido do inverno no coração daquele que amamos. Desejaríamos ter um poder sobrenatural de transformar isso tudo, uma varinha mágica para perpetuarmos alguns instantes tão curtos de felicidade, um olhar mais demorado, um abraço, um leve toque nas mãos, no entanto, as estações mudam fora e dentro das pessoas, e isso não somos capazes de deter nem de evitar. Não são somente formas inerentes à natureza exterior, mas também da nossa própria natureza emocional, fazem parte das mudanças climáticas no coração das pessoas.
Estações que nos obrigam a nos recolher dentro de nossos espaços internos, quando climas gelados nos surpreendem ou nos abrimos numa troca de empatia e carinho quando o estado climático nos outros, ou em nós, assim o permite.
Não nos prendamos ao imponderável e curioso mistério da natureza da qual fazemos parte, surfemos nesse mar de magia que significa a eterna e cíclica mudança das estações.
Texto revisado
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