NA DOÇURA DO FRUTO ESQUECEMOS O QUE AS RAÍZES COMERAM
Atualizado dia 6/11/2006 12:28:25 AM em Autoconhecimentopor Vera Godoy
"Benjamin Franklin costumava dizer que se alguém deseja ser amado, deve amar e ser amável. A fórmula não é inédita. Francisco de Assis, em seu cântico, propunha-se a muito mais amar do que ser amado. E foi isso que aquela jovem sentada na lanchonete em frente à clínica, naquela manhã, comprovou por si mesma. Ela estava com medo, pois no dia seguinte seria internada para fazer uma operação na coluna vertebral, de alto risco.
Tinha perdido seu pai recentemente e se sentia desamparada, sozinha. Parecia-lhe que a luz que sempre a guiava, tinha retornado ao céu. Mesmo assim, ela tentava encontrar forças em sua fé. Intimamente, cerrando de leve os olhos, pediu com fervor: “Senhor, nessa época de tanta provação, mande-me um anjo.”
Acabou seu lanche e se dirigiu ao caixa. Uma senhora idosa, andando vagarosamente, ficou à sua frente. Ela começou a admirar a elegância da senhora. Um lindo vestido xadrez vermelho e preto, um lenço, broche, chapéu vermelho-escarlate. Não se conteve. “Desculpe, senhora”, disse-lhe. “Mas não posso deixar de lhe dizer como é bonita. Vê-la assim tão elegante encheu-me de alegria.”
A idosa se voltou para ela e a brindou com um sorriso: “Deus a abençoe, minha jovem. Eu tenho um braço artificial, uma placa de metal no outro e uma perna não é minha. Levo um bom tempo para conseguir me vestir. Tento me arrumar da melhor maneira possível. Você sabe, à medida que os anos passam, parece que as pessoas pensam que não têm importância vestir-se bem. Você fez com que eu me sentisse uma pessoa especial. Que o Senhor a proteja e abençoe. Você deve ser um anjo enviado por ele para alegrar o meu dia.”
A senhora se foi sem que a jovem conseguisse dizer uma só palavra. Sentiu-se reconfortada ao ouvir toda aquela disposição de quem tinha tantas dificuldades e extravasava elegância e bem-estar.
Deus lhe enviara, afinal, o anjo que ela pedira. E ela somente fora amável com alguém, mas o amor é a virtude das virtudes. Veste-se de múltiplos modos e onde quer que se apresente, brinda sempre a quem o recebe com alegria, ventura, vida abundante."
Somos o produto do meio onde vivemos, interagimos e carregamos nossas heranças culturais, familiares, sociais, psicológicas. Isso nos leva a pensar: por que dentro dos nossos relacionamentos muitas vezes não somos capazes de ser aquele “anjo” que pedimos e precisamos?
A lógica nos mostra que principalmente ao convivermos no dia-a-dia com alguém, sentimos que conhecemos essa pessoa como a palma da nossa mão, e isso nos daria instrumentos suficientes para criar harmonia em nosso cotidiano. Porém, mais tarde, descobrimos que, de verdade, nunca chegamos a conhecer profundamente o que existe no coração e na mente de ninguém, nem que esteja ao nosso lado.
Relacionarmo-nos bem, fazer feliz quem está ao nosso lado é um desafio, e para isso vivemos a buscar novas formas de resolução de conflitos. Quando observamos um casal de idosos em algum lugar público, cabecinhas brancas, de mãos dadas, achamos a cena encantadora, mas logo pensamos: o que consegue manter um relacionamento tão longo, com tal qualidade?
Muitas pessoas acham-se sozinhas na vida, alguns dependentes de orientação externa, até da orientação proveniente dos Seres de Luz; outros têm uma postura auto-suficiente, bastam-se. Mas nos dois casos, são pessoas que mal se conectam com sua própria inteligência divina. E é essa inteligência que mostra o que faz com que duas pessoas permaneçam juntas durante tanto tempo, sendo um o anjo da vida do outro, e esse dom divino e precioso é a doçura.
Para mudar esse panorama, precisamos primeiro mudar a nós mesmos, pois nada e nem ninguém se move sobre o planeta se não for com o combustível do amor. Ser doce no início do relacionamento é fácil, mas depois de algum tempo alguns exageram na agressividade que é uma fraqueza; na falta de diálogo que é uma fraqueza; na indiferença que é uma fraqueza; na falta de companheirismo, e muitas outras formas de fraqueza. E o que pode dominar essas fraquezas, senão a doçura?
Esquecem-se de produzir o doce que alimenta os relacionamentos... Ao observarmos um casal de idosos, é só prestar atenção que logo notaremos neles essa doçura no olhar. Podemos apostar que são os que têm interesse em perguntar como foi o dia do outro, em dar um beijo naquele que o espera, são aqueles que sempre se lembram de pedir licença, por favor, e me desculpe.
Para receber, primeiro precisamos dar, e a doçura, a meiguice, a amabilidade fazem nossa vida pulsar intensamente. E essa energia se faz presente em cada gesto, cada fala, cada gentileza e muda uma pessoa por completo; é o mel que abre um coração por mais fechado que seja.
Culpamos o estilo de vida moderna pela amargura, pela falta de respeito e até pela vulgaridade com que muitos tratam seus relacionamentos. Realmente a vida que levamos não é nada fácil; falta principalmente tempo, mas cabe a nós decidirmos com que energia iremos enfrentá-la.
Deus conduz nossa vida por Sua mão amorosa, paciente, serena e doce, com uma doçura que é considerada uma virtude feminina; com uma coragem sem violência, com uma força sem dureza, com um amor sem cólera, iluminada pela alegria e pela gratidão. Sempre desprovida de dureza e de insensibilidade. Como a beleza de um mantra doce que podemos entoar principalmente em todos os momentos mais difíceis de nossas vidas, pois ele nos leva a encontrar o alívio, o reforço, o descanso, o alento, mas, principalmente o aconchego e a motivação.
Quando nos encontramos em dificuldades, principalmente dentro de relacionamentos difíceis, com filhos ou parceiros rebeldes, orgulhosos, creiam, há uma saída; o Caminho Divino, que é também a doçura do perdão e do entendimento. Um caminho que pode ser retomado a cada instante. Basta querer e estar em comunhão com Deus.
Colocar em prática o ser manso, dócil e afável nesse mundo cada vez mais competitivo e individualista quase chega a ser uma utopia, mas há em cada um de nós, competências e habilidades para ser, cada vez mais, centrados, felizes e vislumbrarmos a plenitude em nossas relações. Pensarmos de forma menos individual, mais participativa e com a solidariedade necessária.
A doçura nos torna generosos. Todos querem ser amados puramente, com doçura. Doçura e pureza andam juntas. O homem só é salvo da ignorância, da solidão e da falta de amor, pelo reconhecimento da porção de feminilidade que traz em si. Reconhecer essa energia feminina, é dar um grande salto em seu nível de consciência.
A doçura é uma força, por isso é uma virtude: é força em estado de paz, força tranqüila e cheia de paciência, e de mansuetude.
"Na doçura dos frutos, poucos podem encontrar a lembrança daquilo que as raízes andaram comendo".
VERA GODOY
Texto revisado por Cris
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