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NA VOLTA DAS FÉRIAS...

Atualizado dia 27/01/2007 11:20:16 em Autoconhecimento
por Christina Nunes


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Vamos falar de um assunto que todos conhecem e entendem, e num português claro: em todo setor profissional existem os jogos de poder. No mundo massificante de hoje em dia, altamente competitivo, é inevitável. Só que não é todo mundo que dá pra isso e que gosta de participar desse jogo.

Eu sou uma entre esses. Acho chato, absurdo, injusto, desgastante e, mais que tudo: os critérios adotados nesta trincheira de competitividade são altamente caducos para se avaliar de fato competência e desempenho. Atendem, via de regra, os interesses dos mais espertos. Daqueles que sabem se virar na hora de dar uma derrubada boa num colega de setor para crescer, assim como na selva as feras se valem da inferioridade de forças - meramente casual! - de um coelho, para sobreviverem através da única coisa que os sustenta, que é a alimentação.

Só que o coelho também tem direito à vida. Se vira como pode para se defender e escapar; apenas que os métodos, comparativamente, são uma covardia para a ação da ferocidade e da força bruta mais ousada, mais audaz, sobretudo mais letal. É a lei das selvas exercida por dentes ou presas. Sobrevive quem convive com elas da melhor forma em que se enquadrar; mas isso longe está de significar que tudo quanto é animal na selva deveria ter nascido guepardo ou pantera, pois que Deus errou nisso; afinal, para que servem coelhos e cervos?!

Fala sério! Mas, por absurdo que pareça, a conduta de muitos no ambiente de trabalho pressupõe uma mentalidade formada a partir desses parâmetros. Como se ninguém tivesse tanta utilidade quanto "eu"; ninguém sabe tanto quanto "eu"; ninguém merece tanto quanto "eu"... então, e partindo dessas premissas indiscutíveis, os outros que se danem! Pois, primeiro "eu"!

Triste, mas verídico. Acontece que existem, queiram ou não, muito coelhos e cervos por aí, que não rezam por esta cartilha. Que têm a noção de que o mundo não começa e não acaba entre as paredes de um prédio onde se exerce o trabalho profissional, por mais passemos a maior fatia horária das nossas vidas ali dentro; de que competência e necessidade de bom desempenho existem, sim... mas no interesse do serviço e de si próprio também, para se evitar eventuais catástrofes no bom andamento do trabalho de equipe... existe, para esses, a noção clara disso - mas também a consciência de que não há necessidade de se trucidar profissionalmente um outro ser humano e colega para se posicionar na vida - na chamada antropofagia de escritório!

Então, "coelhos e cervos", como sobreviver a isso? Principalmente, após o período de férias, durante o qual saimos desse tipo de confinamento guerreiro inerente aos dias atuais, retomando, a plenos pulmões, a consciência das luzes e da grandiosidade do mundo muito mais vasto daqui de fora - o que fazer, em voltando, e passadas as primeiras horas de abraços em colegas e conversas sobre as novidades, para se manter lúcido, neste confinamento que, gradativamente, e de maneira inevitável, no decorrer de cada ano vai mergulhando a todos na mesma carga cavalar de stress, de cansaço, de desgaste físico e emocional que até mesmo, a muitos, chega a comprometer a saúde orgânica?

O que lhes falo, o faço de experiência própria. Num longo aprendizado no decorrer de quase vinte anos de ir e vir para dentro e para fora de salas apertadas e tumultuadas.

Olhe pela janela do escritório de vez em quando. Permita-se, volta e meia, esse exercício de meditação, nem que seja por um mísero minuto. Olhar por uma janela lhe recorda de que existe "vida após trabalho". Existe sua casa aqui fora, com seus filhos ou família ou namorada. Existe sol e céu azul. Existem, porventura, atividades profissionais outras que o esperam, às vezes mais gratificantes, e com as quais mais você se identifica. Existe ar para os seus pulmões. E existem pessoas bacanas, legais, cheias de luz, com quem nos enriquecemos muitíssimo através das trocas que nos proporcionam: trocas de horas felizes, de bem estar, de alegrias genuínas!

E então atentemos para que, salvo muito azar, juntos no trabalho existem, além da guerra da competitividade, seres humanos também iguais aos daqui de fora: com suas contas a pagar e talvez que por isso mais estressados no escritório, e - infelizmente - adeptos de métodos questionáveis para arrebanhar mais dinheiro que os demais para este fim... como se o mundo fosse acabar amanhã e aquela fosse a última e a única alternativa que lhes resta. Assim como numa bela manhã fresca surge, em época de escassez, um único alce ao leão esfomeado que, a todo custo, tem que alcançá-lo e trucidá-lo para sobreviver...

Mas tudo bem. São seres humanos e não feras. E há momentos de descontração vez por outra; de química; de concordância e de festejos... E de interação recompensadora com aqueles que são como nós, e por vezes se pilham a trabalhar conosco, fazendo com que a produtividade renda muito mais - sem atropelos, em harmonia e com todos sintonizados numa proposta de desempenho mais inteligente que não seja "trucidar", profissionalmente, o seu colega de mesa...

Meus irmãos de jornada, na volta das férias, portanto, lembremos e exercitemos, com dignidade, os atributos da nossa condição humana; isso é o essencial! E que não abramos mão disso, por mais que o resto do mundo zombe de nós e grite na nossa cara: nããããããoooo funcionaaaaaaaaaa!!!!

Em algum momento, é isso que fará, a nosso favor, a diferença...

Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Christina Nunes   
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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