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NÃO ERA PARA SER ASSIM

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Autor Alberto Carlos Gomes Lomba

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 4/6/2005 2:59:15 PM


Os inconfessáveis desejos que geralmente lançamos para o fundo do poço de nossas almas, a qualquer tempo nos aguardam com muitas dores e sofrimentos. A psicóloga Cassya Cohen sabia disso melhor que ninguém.

Por várias vezes lhe disse: “Você chegou ao fundo do poço por conta própria. Primeiro, foram as bebidas, depois vieram as drogas; se não bastasse isso partiu para um relacionamento profano com Adélia, e agora, virou garota de programa. Chega! O fim do poço é o fim do poço. Agora só lhe resta levantar e procurar uma corda no escuro para voltar à luz e isso, com muito sofrimento e sacrifício.”

Candy escutava esse desabafo mais da amiga do que da psicóloga, ali jogada numa poltrona deliciosamente aconchegante, na cor limão para contraste com o consultório azul celeste, luxuosamente mobiliado.

Na realidade, filtrava outras imagens, além da janela do edifício localizado no espigão da Avenida Paulista, em São Paulo. Via de longe todo o bairro dos Jardins e mais além, o planalto do bairro do Morumbi.

“Quando você vai entender que passado é passado? Adélia é hoje uma ativista política, e além de tudo está sumida por esses confins do país, invadindo terras com seu amigo Castro.”

Adélia. O pecado em forma de mulher. Capaz de acordar os mais profundos instintos do desejo e do prazer em homens e mulheres. Relembrando, Candy plugou em sua tela mental o Salão do Automóvel no Anhembi, quando trabalhava como promotora no lançamento de um novo carro.

Nessa feira viu Adélia pela primeira vez. Nunca imaginou que uma mulher pudesse transformar sua vida, levá-la ao caos, como vivia hoje. Lembrou quando Adélia pediu para olhar melhor o veículo, e daí em diante tornaram-se amigas e amantes.

Esse mundo novo do lesbianismo era muito para a cabeça de uma jovem de classe média, exímia tenista, colecionadora de vários troféus além de um corpo de modelito que sonhava com Paris, Barcelona e a alta moda.

O caminho das drogas veio rápido. Com Adélia, o mundo sumia dos seus pés. Imaginou que viveria esse amor profano por toda a eternidade. Seus amigos se afastaram. Não conseguia nem mais segurar a raquete direito e as empresas de moda rejeitavam seu book.

Por fim, foi morar sozinha. Porém, existia Adélia e as drogas. Nada mais importava. Foi muito estranho para ela aquela viagem para Ubatuba. Quando o carro de Adélia chegou, quem dirigia era um homem. Candy ficou aborrecida ao extremo, disse que não iria com eles e Adélia comentou que seria o fim de tudo.

A psicóloga tirou Candy desse devaneio: “Ou você me escuta ou nunca mais venha me procurar. Você precisa colaborar. Ficou internada um mês e nada adiantou. Agora resolveu se vingar da vida virando garota de programa.”

“Você não sabe nada sobre o que é sofrimento. Fica com essa bunda sentada nessa cadeira dando conselhinho, ganhando dinheiro. Quando sai daqui nem se lembra que existimos. Estou farta, estou podre, quero mais é morrer!”, gritou, quase chorando, a paciente.

O desabafo da jovem pegou a psicóloga de surpresa. Mal sabia a jovem, o sofrimento que ardia em seu coração quando se lembrava do seu passado. Cicatrizes foram deixadas em sua alma e nem toda a riqueza do seu casamento curou. Levantou-se, foi até a jovem e a abraçou chorando. “Candy. Não faça isto. Sempre é tempo de retornar, de recomeçar. Tem que haver uma saída, pô!.”

Quando chegou à garagem do edifício, Candy ainda tinha os olhos lacrimejantes. Ligou o carro e saiu do estacionamento rumo ao movimento da Avenida Paulista. De lá foi até seu apartamento, na Aclimação, bairro classe média. Subiu ao sexto andar, abriu a porta e se jogou na poltrona.

Não acendeu as luzes. Automaticamente ligou a secretária eletrônica e ouviu os recados. A maioria de homens à procura dos prazeres do seu corpo. Teve ânsias de vômito ao relembrar os momentos de sexo a três que Adélia a obrigava a fazer, incluindo Castro.

Durante dois dias, Candy não saiu do apartamento. Não abria a porta, não recebia telefonemas. O síndico foi avisado pelo zelador. Bateram na porta. Arrombaram. Candy não estava morta. Ao contrário, vestida num baby-doll preto, assistia como uma criança a desenhos animados. O apartamento tinha jeito de que passara por uma limpeza. Não havia comida esparramada. Tudo estava tão normal como a própria garota. Ela não disse nada. O síndico pediu desculpas e avisou que a porta seria consertada o mais rapidamente possível.

Candy esboçou o mais ingênuo sorriso e continuou vendo as peripécias da Disneylândia, como se o mundo não mais existisse. No quarto dos fundos, num cubículo onde dizem ser quarto de empregados, uma jovem se debatia amarrada na cama, com cordas de náilon, boca tampada com adesivo e os olhos estatelados de pavor.

O local estava limpo mas tinha todo o aspecto de uma cela bem feita. Para Adélia, o fundo do poço era terrivelmente escuro, sem som e sem vida, e tinha certeza que ali seria sua sepultura.

Texto revisado por Cris

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