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O CANTO DO MILHO

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Autor Claudette Grazziotin

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 2/28/2005 10:51:54 AM


Para os Índios Hopis, povo que vive nas regiões áridas do Arizona e do Novo México (“hopi”, na língua deles, significa “pacífico”), um personagem mitológico de nome Kokopelli está associado à fertilidade e à germinação. Os outros povos indígenas o conhecem como o “tocador corcunda de flauta”. Sua silhueta única foi pintada, durante os séculos, em numerosas pedras e cerâmicas das duas Américas. Para muitos, a corcunda de suas costas é um saco de sementes que ele semeia a todos os ventos. E sua flauta é a fonte do espírito insuflado em cada semente.

Face às forças de destruição que se desencadeiam neste momento no planeta, o símbolo de Kokopelli representa a esperança de uma terra novamente fértil e de sementes portadoras de vida. A cabeça de Kokopelli é coberta de antenas cósmicas que lhe permitem captar o canto das estrelas a fim de insuflá-lo às Sementes de Vida, Sementes de Estrelas, que fecundam a Terra-Mãe.

Vamos ler a história de John Kimney, etnobotânico, que era então hóspede de David Monongye, antigo chefe religioso da tribo dos Hopis.

“Era o mês de julho, há muitos anos atrás, e eu estava convidado, durante quatro semanas, à Third Mesa, no país Hopi. Há três semanas não chovia e as terras sufocavam sob o calor tórrido. Era o meio do dia e meu anfitrião estava dormindo, tranqüilamente, no frescor de sua casa de pedra. Eu não podia ficar parado naquele lugar. Fechei suavemente a porta-mosquiteiro atrás de mim e senti o calor da kisnovi, a praça do vilarejo.

Procurava, com o olhar, se algo se mexia, mas tudo estava tão calmo quanto à meia-noite. Somente um cão se mexeu para nada perder da pouca sombra do meio-dia. O resto do vilarejo parecia respeitar o ritual da sesta profunda que Tawa, o Pai-Sol, lhe impunha quotidianamente. “Só os cães, os loucos e os ingleses permanecem ao sol do meio-dia”, murmurei-me num tom sonhador. Eu nem sabia onde ia, enquanto descia a borda da “mesa”, num caminho que tinha sido, há muito tempo, marcado nas rochas macias e em dias mais frescos.

Quando cheguei sob a falésia, vi um lagarto que fugia, rapidamente, por um caminho poeirento. Eu o segui, como se essa criatura me guiasse. Depois de uma grande caminhada de mais ou menos 15 minutos, o caminho bifurcou, de repente, em direção ao norte, contornando um monte de entulhos. Antes que eu pudesse ver do outro lado das rochas, ouvi bem baixinho, uma voz que cantava. Diminuí o passo e arrisquei um olhar. Havia na minha frente uma plantação de milho, a mais vasta que já me havia sido permitido contemplar nessa região. Ela era tão grande que não parecia ser Hopi. Eu ainda não via ninguém, mas o canto se tornou mais claro.

Adivinhei que era a voz doce e poderosa de um velho. Mas onde estava ele? Esperei ainda alguns minutos, ouvindo aquele campo de milho que cantava. E, de repente, dos tufos verdes de milho, emergiu uma cabeça branca que, entre as fileiras, se movia lentamente sem parar de cantar. Tomei consciência do que via. Esse campo de milho, no meio do verão, era magnífico e luxuriante. Havia mais ou menos, uma dúzia de espigas que amadureciam, em cada pé, e uma avaliação rápida me indicou que havia, sem dúvida, 1200 pés de milho plantados ali.

O solo estava seco e crestado após a longa seca e, no entanto, o milho não mostrava muitos sinais de secura, ao contrário da maior parte dos outros campos que eu já tinha podido observar ao redor do vilarejo. As reclamações que tinha ouvido dos fazendeiros que viviam perto da casa onde eu estava hospedado tinham-me feito pensar que todo o milho murchava de sede. Entretanto, esse campo parecia acabar de ter sido bento pela chuva!

Voltei, tranqüilamente, ao longo do caminho que levava ao vilarejo, sem ter sido visto pelo velho. Meu anfitrião estava acordado e me perguntou onde tinha ido. Quando expliquei o que havia visto e ouvido, o interesse dele por minhas andanças se transformou num sorriso divertido.

“Vejo que você encontrou o campo de Titus”, disse ele, dando um pequeno riso abafado. “Mas por que esse campo é tão resplandescente? Ele possui uma fonte de água secreta?”

Avô se contentou em rir. “Claro que não. Mas ele possui Navoti”. “O que é isso?” , perguntei, pensando que, talvez, existisse um fertilizante secreto acessível somente a alguns clãs.

“Ele possui a Via Hopi”, me explicou Avô, após uma pausa pensativa. “Ele conhece os velhos cantos que refrescam suas ‘crianças-milho’. Ele recita suas orações corretamente durante a semeadura. E o que é mais importante de tudo, ele sabe que não deve se preocupar, pois a angústia, tanto quanto a seca, prejudica as plantas. Sem se angustiar, o que tornaria suas crianças nervosas, ele vai até elas no calor do dia e canta antigos cantos que são fonte de coragem”.

“Mas, Avô, os outros homens com certeza percebem a diferença de seu milho. Por que eles não aprendem suas canções e não as cantam aos seus milhos?”

Meu velho mestre Hopi suspirou. “Isso não serviria de nada. Navoti não vive mais na semente dos outros”.

No final desse mês importante, passei pela “mesa”, e fui embora, de carro, em direção ao norte, bordejando o vale do Rio Grande, para encontrar Taos, a cidade onde eu morava.

Durante minha passagem por cada um dos dezenove Pueblos, senti como se alguma coisa me chamasse. Percebi, talvez pela primeira vez, o quão pouco as antigas culturas eram praticadas, mesmo a luzerna.

Senti como se fossem as sementes que me chamavam. Tomei consciência que a fonte do poder que eu sentia estava presa nos alpendres, nas caixas de café e nos baldes colocados em cantos escuros. Estava também nos velhos tapetes de milho trançado.

As sementes que me chamavam eram aquelas antigas, colhidas antes da vinda dos supermercados, antes da vinda dos pequenos sachês de alumínio que se abrem nas prateleiras das butiques no início de cada primavera.

Eram as sementes das quais Avô tinha me falado, as que possuíam ainda o Navoti das eras passadas. Depois de cinqüenta anos sua vitalidade ainda estava intacta. O clima seco dos altos planaltos tinha favorecido a conservação de um antigo poder que existia na época em que os homens cantavam para suas plantas. Agora, era para mim que as sementes enviavam seus cantos, na esperança de serem ouvidas antes de se perderem para sempre no esquecimento.”

Extraído da obra publicada por Seed Savers Exchange “The First Ten Years” , 1986.
Da tradução do inglês para o francês de Dominique Guillet.
Ilustração e Texto : link

Texto revisado por Cris

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